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O apartamento de Lean Heughan fica localizado em um dos melhores bairros da cidade e é digno para ser cenário de filme. É tudo muito claro e aberto, os móveis são de muito bom gosto e não deixo de reparar que tem um aparador mais ao canto da sala cheio de fotos. Pelo visto, ele é bem apegado a família.

— Você mora sozinho? — pergunto por ter reparado nas fotos.

— Sim — responde um tanto soturno. Não sei o que ele está pensando e isso me deixa ainda mais constrangida.

Eu e Lean nos conhecemos já faz algum tempo, temos uma relação profissional desde então e saímos uma vez para jogar sinuca. Como devo me comportar? É visível que se importa comigo, senão não teria ido me buscar na delegacia ou qualquer outra coisa, contudo... o que isso significa? Quando nos tornamos amigos assim?

— Prefere comer primeiro ou tomar banho? — sua pergunta me desperta do meu pequeno devaneio.

— Ahmmm... banho — nunca fui tímida, só que nesse momento me sinto assim.

— Ótimo, vou te mostrar tudo e enquanto toma banho, vou preparar algo para você comer.

Sua voz é acolhedora. Seus olhos também. Gostaria mesmo de poder entender o que se passa para poder agradecer da melhor forma, mas Lean não me dá nenhuma pista. Ele me leva até seu quarto e diz que vou ficar nele, já que o apartamento não é muito grande e só possui um quarto. Fico me sentindo mal por estar invadindo seu espaço, mas ele me garante que não é incômodo algum. Ele me dá toalhas limpas e indica o banheiro. A pior parte é que terei que vestir as mesmas roupas, já que não tenho outra.

— Ah, espera, estou esquecendo algo — diz e caminha até o seu guarda-roupa. Tira de dentro dele um roupão e também pega uma camiseta e uma calça de moletom. Fico encarando-o um tanto surpresa. — Bom, não tenho roupas para você, mas pode usar essas minhas, acho que não ficará tão grande para dormir e se achar mais confortável, pode vestir esse roupão.

— Você é muito gentil.

Ele sorri e se retira do quarto, deixando-me ainda estática a observar tudo. Uau, como é a vida! Em um dia tudo está normal, no outro estou no quarto do meu chefe e isso nem no bom sentido. Observo que ele é muito organizado. A colcha está bem esticada sobre a cama, os objetos nos criados mudos bem alinhados e assim como o resto do apartamento, a mobília é elegante. A cama é enorme, com uma cabeceira em ébano, o guarda-roupa também dessa cor.

Dou um curto sorriso e vou para o banheiro. Tudo o que preciso é desse banho. Ligo o chuveiro e a água quente me faz relaxar. Permito-me demorar e choro... choro muito! Relembrar meu último dia ainda é complicado. Nada parece, de fato, realidade e eu só queria entender como tudo aquilo aconteceu. Como Nelly virou um corpo sem vida no chão de nossa casa? Por quê? Jayden havia me explicado certas coisas, mas nada fazia sentido.

Quando saio, aproveito minha lingerie, já que não tenho outra opção e visto apenas o roupão por cima, amarrando-o bem na cintura para poder ir ao encontro de Lean. Usaria as roupas ofertadas para dormir.

Sou guiada por um cheiro delicioso que se espalha pelo apartamento todo e o encontro servindo dois pratos com espaguete. Ele sorri para mim e me convida para sentar.

— De última hora isso foi o melhor que consegui fazer.

— Já te disse que nem sei como agradecer — digo, pegando os talheres que ele dispôs à minha frente. — Aliás, como posso retribuir?

— Não vamos pensar nisso por hora. Eu só quero que você se sinta bem. Se quiser me contar algo... — percebo uma curiosidade velada em seus olhos. É claro que ele quer saber o que aconteceu.

— Eu vou te contar — digo e levo uma porção do delicioso macarrão à boca. Ele é realmente um bom cozinheiro, ou eu estou faminta demais.

Enquanto comemos, faço um relato com muito menos detalhes para ele sobre tudo o que vem acontecendo. Até chegar à noite do assassinato. Demoro-me mais nessa parte a fim de enfatizar que eu realmente não tinha matado Nelly. Lean está completamente focado em mim. Terminamos de comer, ele coloca os pratos na pia e então passamos para o sofá da sala e eu continuo a falar sem parar. Quando termino, ele fica estático.

— Uau... — diz, apenas, após um tempo em silêncio. — Isso é... perturbador.

— Que parte exatamente? — pergunto.

— Você é maluca — afirma, fazendo-me encolher no sofá. — Esse lance de seduzir o primo foi tão...

— Depravado? Eu sei, não precisa me julgar.

— Não ia dizer isso, ia dizer que bastante ousado, afinal quem sou eu para julgá-la? Você fez o que achava que deveria fazer. Sinto muito por todo o resto. Mas se serve de consolo, acredito que tudo vai se resolver.

— Espero que esteja certo, doutor.

Ele fica taciturno de novo e depois de um tempo diz que vai tomar um banho para poder dormir também. Fico no sofá da sala, pensando em mil coisas e só desperto quando ele aparece com um edredom e um travesseiro para se acomodar no sofá. É hora de ir para cama.

— Boa noite, Charlie.

— Boa noite, Lean.

Assim que me acomodo na cama, penso em meu celular. Gostaria de poder ver se recebi alguma mensagem, alguma noticia de Jayden... qualquer coisa.

Contudo, tenho aprendido da pior forma que querer não é poder.

O Quarto ao LadoWhere stories live. Discover now