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Voltar para casa sem a minha mãe foi a pior coisa que já me aconteceu. Tudo parecia vazio e triste e o meu pai me abraçou forte quando desatei a chorar. Ana era a alma da nossa casa, ela nos mantinha sempre ocupados e alegres com o seu jeito de ser, e saber que eu nunca mais veria aquela alegria me destroçava de forma irremediável.

Incrível como a vida era injusta. Em um momento eu e minha mãe estávamos indo para o hospital por causa de uma febre idiota, no outro eu estava voltando para casa consciente de sua morte.

Naquele dia, subi para o meu quarto e não saí de lá para nada.

Os dias começaram a passar, nem mesmo a presença constante de Angus conseguia me animar. O meu namorado estava sendo muito compreensivo comigo, o que o tornava ainda mais adorável, porém o clima na minha casa ainda era muito pesado. Eu não conseguia olhar para o Jayden sem ter vontade de espancá-lo até a morte e para piorar tudo, Nelly disse que ficaria mais um tempo para cuidar de nós, já que nos encontrávamos tão devastados.

Eu deveria ter impedido isso. Deveria ter dito que iríamos ficar bem e tê-la mandado embora imediatamente, mas estava frágil, sensível e não tive coragem para abrir minha boca. Pensei que sua ajuda poderia nos fazer bem, afinal ela era minha "tia", irmã da minha mãe, e sua presença meio que me fazia ter um pedacinho de Ana junto a mim.

Então, simplesmente aceitei a invasão daquela mulher. Deixei que ela dominasse o nosso território.

Já fazia quase um mês que minha mãe tinha morrido e naquela noite em específico, eu tinha perdido o sono e estava com sede. Decidi ir até a cozinha buscar água e saí tentando ser discreta, sem fazer barulho, porém havia um som estranho vindo do fim do corredor... Do quarto do meu pai e da minha mãe.

Não consegui distinguir exatamente que som era, mas decidi verificar, vai que o meu pai estava tendo algum tipo de pesadelo, ou tinha deixado a televisão ligada? Ele sempre fazia isso e minha mãe desligava para ele... Pensar nela fez meu corpo se arrepiar por completo e apertei o passo para chegar logo. Porém, se arrependimento matasse...

Girei o trinco que estava aberto e quando meus olhos focaram no que estava acontecendo, minha boca se abriu num grande ó. Meu pai estava transando com minha tia de uma forma animalesca e a vadia soltava gritinhos, enquanto cavalgava em seu colo.

Fiquei desnorteada, tanto que bati a porta com força e sai correndo. Aquilo só podia ser um pesadelo arquitetado pelo criador do American Horror Story. Senti as lágrimas vindo aos meus olhos e praticamente derrubei a porta do quarto do Jayden, encontrando-o lendo um livro com aquele seu jeitinho inocente.

— A culpa é toda sua! — gritei e avancei para cima dele de forma descontrolada. — Eu te odeio, Jayden!

Ele ficou sem entender nada e quando eu agarrei os seus cabelos, estapeando-o e o unhando, Jayden tentou se defender me empurrando para o lado e acabamos caindo da cama. Observei que um grande risco vermelho adornava sua bochecha direita e me senti vitoriosa por machucá-lo, porém o garoto me conteve rapidamente e quando me imobilizou, seus olhos assustados me olhavam com certa fúria.

— Por que está fazendo isso, Charlotte?

— Porque a vadia da sua mãe está no quarto fodendo com o meu pai e a culpa é sua, por sua culpa minha mãe está morta!

Cuspi as palavras em alto e bom tom, gritando feito uma maluca mesmo e então o meu pai e minha tia entraram no quarto com seus rostos corados e respirações ofegantes.

— O que está acontecendo? — perguntou Nelly de forma protetora, puxando Jayden para os seus braços.

— O que está acontecendo? — comecei a rir de forma histérica ainda deitada no chão. — Não seja hipócrita, Nelly! Nem esperou minha mãe esfriar no caixão e já tomou o lugar dela até na cama!

— Charlie, precisamos conversar sobre isso. — A voz do meu pai saiu séria e ele tinha uma expressão indecifrável no rosto que só me fez ter mais raiva dele.

— Conversar sobre o que? Sobre o fato de que você estava fodendo a irmã da minha mãe? Fala aí, pai, você fez isso enquanto a minha mãe estava viva também? Não pense que não reparei no seu olhar de cobiça desde que essa vadia chegou aqui.

Enquanto eu falava, chorava sem conseguir parar. Mal escutei a explicação do meu pai que dizia estar apaixonado pela Nelly e que ela era uma mulher incrível e iria nos ajudar a superar a nossa perda... Que eu e Jayden deveríamos começar a nos gostar como irmãos, porque ele pretendia assumir minha tia como sua nova esposa.

Aquilo era doloroso demais.

Como ele podia pensar em assumir Nelly sendo que fazia pouco tempo que tinha enterrado o "amor da sua vida"? Como as pessoas podiam ser tão hipócritas? Esse tipo de coisa não entrava na minha cabeça de forma alguma.

Levantei-me do chão e passei por eles sem nem me importar em dar um esbarrão em Nelly. Tranquei-me no meu quarto e chorei, chorei como se não houvesse amanhã e prometi para mim mesma que iria me vingar daquela mulher ridícula que havia tomado o lugar da minha mãe sem nem pensar duas vezes.

Também prometi, afundada no meio daquele sentimento obscuro que me pressionava cada vez mais para baixo, que arruinaria a vida de Jayden. Se ele pôde arruinar a minha, por que eu não podia fazer o mesmo com a dele?

O meu ódio era tanto que dormi soluçando enquanto maquinava mil formas de me vingar dos dois.    

O Quarto ao LadoWhere stories live. Discover now