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— Senhorita, foi uma fatalidade o que aconteceu...

Dr. Heughan ainda estava muito constrangido com o que tinha acontecido e por isso se referia ao incidente de uma forma bem incomodada. Eu apenas assenti, dizendo que entendia suas meias palavras.

— Tudo bem, o senhor foi muito legal em ao menos ter me dado a chance de tentar, desculpe mesmo se o decepcionei.

Se era para ir embora, iria de forma digna. Nada de implorar! Mas também eu não ia olhar para os olhos cor de âmbar dele e vacilar, por isso me levantei e fui em direção a porta, mas antes de alcançá-la, a voz de Dr. Heughan me fez estancar.

— Mas não estou te mandando embora, senhorita, pelo contrário, quero que vista esta camisa e esse jaleco para não correr o risco de ficar resfriada e depois pode ir para a sua mesa.

Voltei-me para ele com os olhos brilhando de novo, as lágrimas vieram quentes e nem consegui contê-las. Acho que estava emotiva demais naquele dia. Dr. Heughan me estendeu suas roupas com um olhar tão bondoso que me fez esmorecer por dentro. Ainda existiam boas pessoas no mundo.

— Pode ficar tranquila, está limpo, são roupas que deixo aqui para caso de emergência.

— Muito obrigada, doutor! Prometo que não o decepcionarei!

E de fato, não decepcionei.

Naquele dia, organizei a agenda de atendimentos, atendi a várias ligações, recebi duas clientes e ainda consegui limpar a bagunça do banheiro. Por volta das seis da tarde, Dr. Heughan me chamou até sua sala e perguntou o que eu estava achando do emprego, não hesitei em dizer que estava gostando e que poderia dar conta. Até ressaltei que, caso fosse contratada, deixaria peças de roupa extra em meu armário para casos como esses e ele me ouvia como se realmente estivesse prestando atenção em todas as minhas palavras. Observei que gostava disso, de parecer ter algum valor perante ele.

— Bem, então acho que por hoje é só, não tenho mais ninguém para atender. Nós nos vemos amanhã, senhorita — disse por fim, fazendo-me permanecer estática na minha cadeira.

— O senhor quer dizer que... — comecei a gaguejar e ele completou minha frase.

— Que está contratada, seja bem-vinda, Charlotte Helstone.

Ele estendeu-me a mão e eu a apertei sem pestanejar, mais do que agradecida pela oportunidade que me deu. Naquela noite, antes de ir para casa, passei no shopping mais próximo e comprei algumas camisas brancas e calças mais formais. Estava decidida a me dedicar àquele emprego de corpo e alma, assim provaria para o meu pai que era capaz de me virar e também faria algo por mim, eu precisava mesmo de um recomeço.

Ao chegar em casa, encontrei a todos já na mesa, jantando. Disse que não estava com fome e subi direto para o meu quarto. Antes de vir embora tinha comprado um lanche e o comeria em meu quarto, sem ter que escutar perguntas e mais perguntas sobre meu primeiro dia no trabalho. Estava com uma dor de cabeça tremenda e tudo o que precisava era de um bom banho e cama!

Quando me deitei, verifiquei meu celular e tinha uma mensagem de Karen Dashkov, uma menina da minha sala que era integrante do grupo de xadrez e uma das únicas que me tratava como uma pessoa normal depois de tudo o que aconteceu:

Acesse o seu perfil no site do colégio.

Era o que dizia. Achei estranho. Eu quase nunca entrava naquela rede social cafona que o colégio mantinha para interação entre os alunos e por isso não fazia a menor ideia do que Karen estava falando. Porém, nesses casos, era melhor acessar logo e descobrir qual seria a nova bomba e foi o que eu fiz.

O Quarto ao LadoWhere stories live. Discover now