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A dor de cabeça era lancinante e tudo girava de tanto que eu tinha chorado.

Quando cheguei em casa, meu pai me esperava furioso por ter "agredido" Nelly e pela primeira vez, foi um ogro comigo. Disse que era para eu "tomar o meu rumo", pois não iria aceitar ninguém fazendo o que bem entendesse dentro da sua casa. Resumindo: ele estava me expulsando e pela cara de feliz da Nelly, ela achava mesmo que tinha vencido a guerra.

Depois de muita discussão, Jayden pediu para o meu pai se acalmar e me deixar ficar até que ele estivesse realmente em condições de tomar uma decisão sóbria, pois não podia me expulsar assim. Ele realmente era um fofo comigo e mesmo eu querendo odiá-lo por tudo o que estava me acontecendo, não conseguia. A culpa não era dele: era minha. Eu tinha cavado meu próprio buraco, cega em ter tudo do meu jeito.

Não saí do meu quarto durante o resto do dia, ficava verificando o meu celular a cada dois segundos e Angus não tinha ligado. Era mesmo o fim. Quando a noite caiu, recebi uma mensagem de texto e meu coração saltou de ansiedade, apenas para ver que era de Jayden.

Você está bem?

O que ele queria que eu respondesse? Oh, sim, estou pulando de alegria. Perdi meu namorado, meu pai me expulsou de casa por causa de uma mentira da sua mãe, mas nada demais. Eu estou ótima! Deixei o celular de lado sem responder, não estava com paciência para isso.

Charlie, não fique assim. Você sempre terá a mim.

Nova mensagem. Ele era mesmo insistente. Como se tê-lo fosse muita coisa, já que todas as minhas peripécias tinham começado justamente por sua aparição em minha vida. Dormi soluçando e não o respondi.

Eu precisava de um tempo.

Acordei no outro dia desejando que o anterior tivesse sido um pesadelo. Um terrível pesadelo, porém, meu desejo não foi realizado. Quando desci para a mesa de café, meu pai me lançou um olhar furioso, Nelly me tratou com indiferença e Jayden parecia ensimesmado, talvez irritado por eu tê-lo ignorado por mensagem.

— É melhor começar a procurar um lugar para ficar, Charlotte, pois não a quero mais aqui.

A voz do meu pai ribombou pelo cômodo como trovões caindo do céu diretamente em minha direção, deixei a torrada que acabara de pegar cair no prato e olhei-o incrédula. Robert Helstone não era mais o homem que eu costumava chamar de pai quando Ana estava viva.

— Você não pode fazer isso comigo, eu não tenho para onde ir! Eu nem tenho um emprego... — protestei, sentindo-me completamente perdida. — Como vou trabalhar se tenho que estudar?

— Talvez devesse pedir abrigo ao seu namoradinho — sugeriu a megera.

— Eu e Angus terminamos, Nelly! — Sem querer, minha voz acabou se exaltando e eu respirei fundo, tentando não me deixar abater por aquilo.

Pela primeira vez desde que eu tinha entrado na cozinha, Jayden me olhou e não consegui ignorar aquela felicidade estampada no seu olhar quando fixou seus olhos nos meus. A notícia do término do meu namoro o tinha agrado e pelo visto, muito.

Tinha perdido a fome, por isso levantei-me da mesa rapidamente e me preparei para sair da cozinha, mas o meu pai decidiu alegrar ainda mais o meu dia.

— Só para saber, não pode mais usar o carro.

— Mas você e mamãe o deram para mim em meu aniversário de dezesseis anos! — exclamei, perplexa por mais esta proibição.

— Bem, estou pegando-o de volta. Irei vendê-lo e com o dinheiro, arranjar um lugar para você, só para não dizer que te deixei desamparada.

O Quarto ao LadoWhere stories live. Discover now