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— Hoje foi bastante produtivo, não foi, senhorita Helstone?

Dr. Heughan estava de muito bom humor porque tinha atendido a vários pacientes durante a tarde. Seu consultório estava se tornando sinônimo de qualidade eu estava feliz por estar o ajudando. Ele era muito dedicado a tudo o que fazia, por isso é que dava mais orgulho ainda de fazer parte de sua trajetória.

— Foi mesmo, Dr. Heughan!

— Por favor, me chame de Lean, estamos fora do expediente — repreendeu-me ele. Tínhamos acabado de fechar o consultório e estávamos indo para a mesma direção a fim de pegarmos os nossos carros.

— Certo, Lean, você está se tornando referência em tratamento de clareamento dentário. Isso é realmente bom.

— Estou empolgado, meu pai nunca acreditou que eu poderia dar certo nesta profissão, então digamos que isso é uma grande conquista.

Ele nunca tinha falado sobre coisas pessoais para mim e eu sorri diante de sua frase. Isso provava mesmo que ele não tinha sido adolescente há tanto tempo assim. Seu espírito de rebeldia e vontade de provar algo contrário ainda estava ali.

— Acho que entendo — comentei, parando de caminhar, pois havia chegado ao meu carro.

— Obrigado por fazer parte disso, senhorita Helstone — disse ele, soando muito sincero. Os olhos cor de âmbar realmente pareciam agradecidos e fizeram meu coração dar uma cambalhota dentro do peito. Lean era uma pessoa generosa, tinha me dado uma chance eu sempre lhe seria grata.

— Pode me chamar de Charlie, estamos fora do expediente!

Pisquei para ele e dei um sorriso. Lean apenas acenou com a cabeça e então ficou pensativo por um momento. Acreditei veemente que aquela era a melhor hora para eu ir embora.

— Bom, Charlie — começou ele, dando uma risada ao me chamar pelo apelido. — Você aceita jantar comigo? Digamos que vai ser uma comemoração por nosso bom trabalho em equipe.

Fiquei um tanto sem reação, afinal era o meu chefe me chamando para jantar, mas tentei pensar positivo e me lembrei da bendita festa de Jayden, que provavelmente estava começando. Não estava com saco para aguentar um monte de adolescentes malucos bebendo e fumando até altas horas da madrugada. Talvez fosse uma boa saída para evitar metade da bagunça.

— Claro, eu aceito, mas por favor, não vamos a nenhum lugar muito chique, não é? Não estou vestida para isso — disse um tanto envergonhada, erguendo os ombros para insinuar que eu não estava em minha melhor forma.

— Olha, que pena, eu estava pensando em te levar em um restaurante caro com música ao vivo, mas já que estamos assim tão mal, achei que a lanchonete ali da esquina estava de bom tamanho!

Dei uma gargalhada estridente diante da piada dele. Lean realmente era uma pessoa divertida fora do expediente e eu estava precisando mesmo de um momento assim, descontraído.

— A lanchonete da esquina está de bom tamanho, doutor!

Assim, caminhamos lado a lado em direção a uma lanchonete no final da rua, esquina com a avenida mais movimentada do centro. Entramos e o lugar estava lotado de pessoas falando, rindo, bebendo e comendo, mas algo no ambiente o tornava extremamente acolhedor.

Uma simpática garota veio nos atender e nos indicou uma mesa de dois lugares perto da mesa de sinuca. Lean foi logo pedindo um chope e eu pedi um suco de abacaxi, a garota se foi com seu caderninho de anotações, deixando-nos mais à vontade para escolher algo do cardápio.

— Você joga? — perguntou Lean, chamando a minha atenção que estava totalmente voltada para o menu. Naquele instante, com o cheiro de fritura no ar, percebi que estava faminta.

— Hã? — Não tinha entendido a pergunta, por isso Lean apontou em direção a mesa de sinuca.

— Você joga sinuca?

— Muito mal! — confessei. — Tanto que uma vez consegui jogar a bola dentro do copo de bebida do meu ex-namorado!

Mordi a língua ao falar de Angus. Lembrei-me dos momentos que tivemos juntos e aquilo me fez dar um sorriso involuntário. Era nessas horas que eu sentia saudades dele. Muita.

— Hm, temos um ex-namorado aqui. — Brincou Lean, voltando a folhear o cardápio. — Terminaram faz tempo?

— Quase o mesmo tanto de tempo que trabalho para você.

— E o que aconteceu? Digo, se quiser falar, é claro — ele soou bastante polido, apesar de curioso e sua sobrancelha meio arqueada dava-me vontade de começar a contar tudo.

Porém, como eu ia fazer isso? "Olha, doutor Heughan, tudo aconteceu quando eu decidi que tinha que foder com meu primo para atingir minha madrasta que, a propósito, é minha tia, aí eu fui transar com meu namorado e o chamei pelo nome do meu primo!".

— É melhor não falarmos sobre isso — optei em ser evasiva. Não parecia uma boa ideia contar a verdade para ele. De alguma forma, sua figura causava em mim um profundo respeito. Algo como admiração e eu não queria estragar isso logo na primeira vez que saíamos como amigos.

— Claro, que ideia a minha, falar sobre ex nunca é a melhor coisa — ele piscou para mim e fechou o menu. — Já se decidiu?

— Sim — respondi, olhando fixamente para a foto ilustrativa de um x-tudo duplo.

Lean chamou a garçonete, que já estava vindo para nossa mesa com as bebidas, e fizemos nossos pedidos. Começamos a conversar sobre todas as coisas e eu ri muito. Ele era um homem muito divertido e bom de conversa, em algum momento de nossa conversa animada, consegui confiar nele e contar-lhe algumas coisas pessoais que estavam me incomodando, como o fato de Nelly ter se tornado minha madrasta, a falta que eu sentia da minha mãe e o modo como meu pai parecia não se importar com a ausência dela.

Ele me deu vários conselhos enquanto comíamos e bebíamos. Foi tão bom passar aquele momento com ele que nem sei explicar. Por fim, Lean me convenceu a jogarmos uma partida de sinuca e foi mais uma explosão de risadas quando eu fiz a bola quicar em cima da mesa. Ele tentou me ensinar a melhor forma de segurar o taco e então eu até consegui encaçapar algumas bolas.

Quando olhei no relógio, já era quase meia noite e eu não sabia mesmo como o tempo tinha passado tão rápido. Pagamos nossa conta e ele me acompanhou até o meu carro. O ar estava um tanto frio e eu tremia levemente, tanto que ele tirou sua jaqueta e colocou sobre os meus ombros, deixando-me completamente desconcertada.

— Obrigada por tudo, eu me diverti muito — disse, olhando em seus olhos. Lean sorriu e se aproximou de mim.

— Também me diverti muito, Charlie — e sem aviso prévio, envolveu-me nos braços e me deu um abraço apertado.

Eu não sabia o quanto estava precisando de um abraço até recebê-lo. O abraço de Lean não era algo malicioso e cheio de segundas intenções, nem falso. Era um abraço amigo de quem quer lhe dizer que vai ficar tudo bem e isso, de certa forma, mexeu muito comigo. Senti os olhos arderem, prenunciando o choro e então me afastei, tentando sorrir para dissipar a vontade de dar vazão às lágrimas.

— Boa noite, Lean — desejei ao entrar no carro.

— Cuide-se, menina!

Eu deveria tê-lo ouvido com mais atenção.

Voltar para casa naquele dia foi a pior coisa que eu fiz.


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Demoro, mas posto, galeris! Vamos que vamos que preciso fazer o cap 20! hahaha Obrigada a todos que tem acompanhado <3

O Quarto ao LadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora