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O despertador soou estridente na minha orelha, meia hora antes do habitual, fazendo-me encolher na cama e pedir aos deuses por uma manhã toda na cama. Porém, eu não podia me dar esse luxo.

Era meu primeiro dia de trabalho e eu precisava encontrar uma roupa adequada para usar e também não podia perder nenhuma aula. Apesar de ser descolada e nem um pouco dentro das normas, eu ainda tinha um objetivo de vida e ingressar na faculdade era questão de honra agora. Minha mãe se orgulharia disso.

Determinada, levantei-me e fui para o banheiro tomar uma ducha para despertar. Depois, fiquei olhando para meu guarda-roupa por um bom tempo, como se fosse saltar dali uma roupa perfeita que fosse impressionar o Dr. Heughan. Para minha completa decepção, nada parecia bom o suficiente... Deveria ter ouvido mais o meu pai e ter me inclinado a comprar roupas mais comportadas para certas ocasiões. Ser careta às vezes era a saída. "E agora?" pensei. Não podia aparecer lá com um decote em v e sutiã à mostra, ou mesmo sem essa peça...

Então, ocorreu-me que Nelly tinha colocado as roupas de minha mãe no quarto de hóspedes inutilizado e Ana se vestia bem, como uma senhora elegante, mãe de família. Não queria revirar as lembranças dela, mas era por uma boa causa. Ainda de toalha, atravessei o corredor às pressas em direção ao quarto e abri-o com o coração na mão, sentindo o perfume de Ana atingir minhas narinas assim que entrei.

Tudo ali remetia a ela e ao seu jeito único de ser. A arrumação, a decoração, a harmonia... Era como um santuário intocado pela presença de Nelly, mesmo que esta tivesse dormido ali por algumas noites. Segurei a vontade de chorar e me aproximei do guarda-roupa, estava realmente abarrotado com as roupas de Ana e eu nem sabia por onde começar. Cada peça me fazia recordar momentos ao seu lado e a saudade apertava.

Revirando entre os tecidos, achei uma saia preta de corte reto e uma camisa branca de botões dourados e mangas compridas. Parecia ideal. Lógico que minha mãe era mais encorpada que eu, mas daria um jeitinho. Voltei para o meu quarto com as peças e após um tempo, ajustando a saia com um cinto igualmente preto, olhei-me ao espelho e achei que estava digna de ser contratada. Prendi o cabelo em um coque e calcei scarpin preto, o que me conferiu uma postura bastante madura. Nem parecia a Charlie baderneira que ia a festas e caia de bêbada. Quando desci para o café, só escutei o barulho de um copo caindo ao entrar na cozinha.

Nelly me olhava como se estivesse vendo a personificação de Lúcifer e meu pai estava de boca aberta. Jayden ainda não tinha descido, o que me deixou mais aliviada em ter que encarar apenas as caras embasbacadas dos dois.

— Bom dia — saudei, fingindo não perceber suas expressões espantadas.

— Charlie, você está... — meu pai começou, sem saber como prosseguir.

— Igualzinho a Ana. — Completou Nelly, virando-se de costas como se realmente estivesse emocionada. Eu não acreditava nela, então simplesmente a ignorei.

Porém, a expressão no rosto do meu pai me fez estremecer, ele olhava para mim como se eu fosse o eco de um passado não tão distante e seus olhos lacrimejaram. Não sabia lidar com a emoção alheia. Não daquele jeito. Logo, servi-me de café e fiquei disfarçando com uma colher a mexer o açúcar enquanto eles se recuperavam do choque.

— Eu não tinha nada adequado para vestir. Não podia ir de qualquer jeito no primeiro dia de trabalho.

Nem sei exatamente o porquê me justifiquei, sei que o fiz e abaixei a cabeça logo em seguida, observando-os voltar ao normal aos poucos. Respirei mais aliviada. Não gostava de ser observada e não queria chorar na frente deles. Já tinha relembrado muitas coisas sobre minha mãe, mas gostaria que permanecessem comigo. Compartilhar nunca foi meu forte.

O Quarto ao LadoWhere stories live. Discover now