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Na manhã seguinte, fui acordada por meu despertador estridente e quase o quebrei de raiva. Não tinha conseguido dormir muito bem por que fiquei pensando no episódio de Nelly e o homem misterioso, minha cabeça latejava e eu tinha prova na primeira aula.

Arrumei-me de qualquer jeito e desci me arrastando para tomar o café. Porém, fui desperta por uma mala no canto da porta e uma movimentação fora do normal na cozinha. Por um momento, pensei que a bruxa má fosse nos deixar, mas ela só apareceu de mãos dadas com meu pai e Jayden em seu encalço; tinha um sorriso no rosto e ao me ver, fez questão de dar um beijo demorado em meu pai.

- Eu volto no domingo à noite, espero que se cuidem meninos! - disse com aquele seu tom de voz carregado de doçura fingida.

- Vamos ficar bem, amor, a Charlie pode nos dar uma mão, não é querida? - Meu pai parecia, depois de dias, realmente relaxado e aquilo só podia significar que teve uma boa noite de sono... ou... bem, eu tinha provas de que Nelly era uma devassa na cama.

- Claro... - balbuciei. - Mas onde está indo, Nelly?

- Preciso resolver uns assuntos da nossa casa na Califórnia. Contatei uma imobiliária há alguns meses e parece que tem gente querendo alugar.

Apenas eu não tinha engolido aquela conversa? Não tinha tempo para questioná-la mais, então me contentei em acenar falsamente enquanto ela entrava em um táxi em direção ao aeroporto. Mal o carro saiu e meu pai pegou sua pasta apressado e me deu um beijo na testa.

- Filha, eu não volto hoje para casa. Tenho uma reunião de negócios que vai até tarde e vou ficar em algum hotel no centro. Tudo bem? - dei um meio sorriso e assenti em afirmativo.

- Tudo bem, pai. Bom trabalho.

E aquele era o meu pai, esquivando-se também... Ótimo, sexta à noite e a casa era toda nossa? Digo, minha e do Jayden? Talvez fosse hora de tentar fazer as pazes com ele. Porém, assim que lancei-lhe um olhar, ele subiu as escadarias, deixando-me no vácuo.

Pelos deuses, por que ele tinha que ser tão difícil?

Jayden não aceitou minha carona e, para minha surpresa, uma Toyota Camry vermelha estacionou em frente a nossa casa e ele entrou nela; minutos depois, o carro saiu cantando pneus.

O que foi que eu perdi? Jayden tinha amigos? Espera... Jayden tinha uma garota?! Não consegui distinguir a pessoa que estava no volante porque ele fechou a porta muito rápido, mas iria descobrir quem era o dono, ou dona, daquele carro.

Subi apressada para o meu quarto, peguei minha mochila e fechei a casa em um tempo recorde, correndo até a garagem e pegando o meu carro. Ganhei as ruas pouco tempo depois, mas não consegui, é claro, alcançar a Toyota. Ao chegar ao colégio, não achei o carro no estacionamento e meio que fiquei decepcionada com isso. Porém, precisava encontrar o Jayden.

Tentei localizar meu primo pelos corredores movimentados, mas nada dele. Caramba! Onde ele tinha ido parar? Bem, fui interrompida por Holly que veio toda animada na minha direção, como se fogos de artifícios estivessem explodindo dentro de si. Aquilo só podia significar uma coisa: novidade, e das boas!

- Chaaaaaaaaarlie! - chamou-me ela do seu jeito extravagante, típico de quando está muito empolgada.

- Oi, Holly - respondi o seu cumprimento de forma séria para ver se ela baixava a bola, pois as pessoas já estavam nos olhando.

- Cruzes, que cara é essa? Para quem vai dar uma superfesta em casa, você parece péssima! - Lancei um olhar confuso para ela diante de sua fala e meneei a cabeça negativamente.

- Da onde você tirou isso? Eu não vou dar festa alguma.

- Bem, se não é você... Então aquele seu priminho está armando uma boa. Está todo mundo comentando sobre a festa na casa dos Helstone. Uma postagem na rede do colégio diz que todos estão convidados.

Acho que parei de respirar por uns dois segundos. Da onde tinha vindo aquela postagem? E se fosse uma piadinha para nos colocar em maus lençóis? Pelos deuses, eu tinha mesmo que achar o Jayden depressa.

- Faz quanto tempo que esta postagem está no ar? - perguntei, tentando me recuperar da surpresa.

- Não tem 15 minutos, amiga.

E antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, saí em disparada na direção do estacionamento. Aquilo, definitivamente, não estava me cheirando bem. Irritada, peguei o celular e apertei chamar para o número de Jayden, aguardando tocar apenas três vezes. Ele atendeu.

- Onde você está? - perguntei com a voz duas oitavas mais alta. - E o que significa essa festa na nossa casa e quem é a pessoa da Toyota vermelha que te pegou em frente a nossa casa hoje? Você não está no colégio?

Ele não respondeu de imediato, não que eu estivesse dando tempo para o garoto falar, mas ele deveria ter me interrompido no meio de meu interrogatório alucinado.

- Calminha, Charlie - disse, por fim. - Você não se lembra de que quebrei o seu galho pouco tempo atrás? Pois agora vou cobrar o favor, eu não ia fazer isso, mas você não tem sido uma garota legal, então... dá um tempo, okay? Hoje a noite é minha.

Fiquei estática, sem saber o que fazer. Eu poderia ligar para o meu pai e contar o planinho de Jayden, mas ele tinha razão. Ele havia quebrado muito o meu galho. Só não entendia para que toda aquela rebeldia. Quando o conheci, ele parecia um garoto muito introspectivo que jamais daria uma festa, mas parecia que o Jayden que eu tinha conhecido não estava mais ali.

Só percebi que ele tinha desligado na minha cara quando caí em mim e percebi que até a tela do celular tinha apagado.

Ainda muito surpresa, fui para a sala de aula. Não tinha como fugir da minha prova. Enquanto respondia aos exercícios, ficava formulando mil e uma justificativas para Jayden dar uma festa. Tentei entendê-lo e não cheguei a lugar algum. Entreguei a bendita prova meia hora depois e sai da sala. Estava decidida a não assistir aos outros horários. Precisava encontrar meu primo.

O Quarto ao LadoWhere stories live. Discover now