102 ♦ CÊ SABE BEM, DOTÔRA

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1978

Lorrayne, a plantonista da noite, foi chamada para atender uma emergência. Já estava cansada pelas longas horas de serviço, além da dificuldade em gerir um hospital abandonado e muito decadente, com problemas sérios de saneamento e segurança. No fundo, mesmo demonstrando força e resistência, queria cair na cama e não acordar por um longo tempo.

Ao chegar no quarto, apesar da rapidez, encontrou uma enfermeira em prantos.

— Foi tarde demais, a dona Dulce não resistiu.

A tal enfermeira falava num tom acusatório, como se fosse de Lorrayne a culpa da perda de uma paciente que tinha seus mais de noventa anos.

— Já prevíamos isso, não é? Dulce foi muito forte até aqui — a médica afirmou, sem ainda olhar para o cadáver estirado na maca. Ofereceu os braços para consolar a enfermeira e não obteve resposta. — Não fica assim, Rê.

No lugar do conforto dos braços, Rê preferiu partir sem dizer nada e deu um esbarrão proposital na cansada plantonista. Para Lorrayne, que na ausência da demonstração sentimental ainda conseguia sentir pesares, restava se despedir da senhora tão simpática que era dona Dulce.

Na maca, a qual Lorrayne foi se aproximando, a idosa parecia feliz e livre das dores de sua terrível doença.

Nessa circunstância, a médica também esboçou um sorriso, sentindo que a senhora finalmente livrara-se das noites de dor e angústia.

— Você está num lugar muito melhor! — Falou para a mulher sem vida.

Sentiu o cheiro forte do perfume que ela usava. Olhou para trás.

Uma dona Dulce diferente, com vestido branco, estava de pé olhando pela porta entreaberta:

— Cê sabe bem, dôtora, eu fico feliz em qualquer lugar!

A senhora sumiu no mesmo momento em que Lorrayne piscou os olhos. 

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