Capítulo 19 - Culpados

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Pouco antes de começar o show, Arlete subiu no palanque. Estava nervosa e parecia muito assustada. Pegou o microfone, olhou para a multidão e começou:

– Há poucos dias vivemos uma história de terror aqui em Girassóis, e eu fiquei muito amedrontada com tudo o que aconteceu. Duas pessoas inocentes foram assassinadas. A pequena Ester e o querido padre Afonso – Neste momento houve um rebuliço, algumas vaias e gritos, mas Arlete não se intimidou. – Escutem o que tenho pra dizer. Estou me sentindo culpada e não sei como reparar minha culpa. Sei que quando eu terminar de dizer muitos de vocês também se sentirão culpados e talvez até não suportarão a culpa por terem matado um homem inocente. Sim, padre Afonso não matou Ester. O verdadeiro assassino esteve aqui na praça hoje.

Houve um alvoroço momentâneo. Ela pediu silêncio e continuou:

– Peço aos policiais que estão aqui para irem até a casa de dona Carminha. Ele tem um caso com ela e está lá neste momento.

– Como tem tanta certeza assim? – indagou alguém na multidão.

– Eu... bem... eu não posso falar. Minha fonte pediu segredo. Mas posso afirmar que é verdade o que estou dizendo.

Ela viu os policiais se movimentando em direção a casa de dona Carminha.

Arlete desceu do palanque e seguiu a multidão que acompanhava os policiais.

O cabo Gregório bateu na porta. Dona Carminha apareceu vestindo uma camisola de seda.

– O que está acontecendo? – indagou assustada.

Eles entraram sem lhe dar respostas e voltaram com um homem algemado. Ele aparentava uns trinta e poucos anos, estava barbudo e usava um boné com as iniciais NY.

– Vocês não podem levá-lo assim!

– Este homem é suspeito de assassinato dona Carminha – respondeu Nando secamente. – Ele será interrogado e se for inocente será liberado em seguida.

Após longo interrogatório na delegacia ele acabou confessando o crime.

A notícia logo se espalhou por toda a cidade e causou um mal estar em toda a população. A culpa estava estampada em cada rosto e um silêncio aterrador se abateu sobre eles. Evitavam falar sobre o assunto. Alguns foram imediatamente pra casa, outros se encheram de bebida tentando afugentar a culpa.

Salvador beijou a face de Arlete e colocou discretamente um cheque em seu bolso. Ela sorriu e o agradeceu.

– Este dinheiro é pra você ficar ainda mais bonita. A mais bonita de Girassóis.

– Como você descobriu que padre Afonso não era o assassino de Ester?

– Tenho meus contatos – sorriu e piscou um olho para ela.

* * *

Logo que Salvador chegou em sua casa, Taiana foi ao seu encontro.

– Está acabando.

– Sim.

– Eu já me dei por satisfeita no dia da morte do padre. Povo totalmente entregue ao senso de justiça. Foi uma grande vitória para nós! Quando o senso de justiça fala mais alto o amor fica de lado e o ódio sobressai. Foi perfeito. Uma cidade inteira a nossos pés, seguindo nossas instruções...

Salvador olhou-a sorridente e não disse nada, apenas concordou balançando a cabeça e seguiu para seu quarto. Pegou o diário, sentou-se na cama e começou a fazer suas anotações.

A Luz e a SombraWhere stories live. Discover now