Capítulo 18 - Festa de natal

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Os enfeites de natal da cidade já não tinham o mesmo brilho de anos anteriores. Havia um clima sombrio e de tristeza em cada esquina, em cada comércio. As conversas eram sempre as mesmas: o assassinato de Ester, o linchamento e o desaparecimento do corpo de padre Afonso.

Mas o prefeito Bentinho, com o patrocínio de Salvador resolveu dar uma grande festa na Praça da Matriz na noite da virada para o Natal, com o intuito de tirar a cidade daquele clima de luto e devolver a alegria de antes. De última hora conseguiram contratar uma banda regional para fazer um show e animar a festa.

– Eu acho um absurdo essa ideia de festa. Nós não estamos em clima de festa. Ainda estamos de luto. Falei com o prefeito que isso é um desrespeito com a família do pastor Ruben, mas ele disse que é exatamente o contrário.

Esperança pegou a garrafa de café e despejou em sua xícara.

– Eu concordo com você minha irmã. Não irei a esta festa.

– Eu quero ir – disse Clotilde.

Todos se voltaram para ela. Ela olhou-os sorridente.

– Por que o espanto? Não posso querer sair? Você vai comigo Juliano?

– Você não vai! – interveio vovô Lalau. – Lá não é lugar pra você.

Juliano olhou atravessado para seu bisavô.

– Não estou com clima pra festa, mas eu levo você sim.

Vovô Lalau se levantou e saiu agitado e resmungando. Esperança fez menção de ir atrás, mas Juliano colocou a mão no braço dela e disse:

– Deixa ele tia!

Elvira limpou a boca com um guardanapo e olhou para sua filha.

– Pode ir. Mas acho esta festa um absurdo. E por ter o dedo de Salvador no meio fico ainda mais indignada.

– Não sei por que a senhora tem tanta raiva dele assim tia. Sabia que foi ele quem me ajudou a tirar o corpo do padre daquela cova? Sabia que ele teve a iniciativa de levá-lo pra casa dele? E foi ele quem me convenceu a fazer o que a senhora me pediu. Eu disse que não podia fazer aquilo, e ele me disse pra fazer pela senhora. Acho que devia rever seus conceitos sobre ele – disse Juliano se levantando da mesa.

– O que deu nele? – indagou Esperança.

– Está sendo envenenado contra mim. Salvador está sendo uma péssima influência pra esta cidade e ninguém percebe. Parecem cegos, seduzidos...

Elvira se levantou nervosa e pegou a chave do carro.

– Mãe!

– Onde você vai minha irmã?

Dona Elvira parou na porta e olhou para elas.

– Vou resolver uma coisa que não pode mais esperar.

* * *

Samuel abriu a porta ao ouvir a campainha. Abril estava ao seu lado e latiu quando viu dona Elvira à sua frente. Ela recuou um passo, tirou os óculos de sol e perguntou por Salvador.

– Está tomando café. Pode entrar.

Ela entrou aflita atrás de Samuel. Teve vontade de voltar, mas continuou. Não deu ouvidos àquela voz interior que pedia para retroceder.

Estavam todos à mesa do café. Olharam-na com um sorriso estranho e ela ficou congelada. Sentiu-se na toca dos leões, e talvez estivesse mesmo, só não tinha se dado conta ainda.

A Luz e a SombraDonde viven las historias. Descúbrelo ahora