Cinquenta e seis

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JUDE DEVORA ALMAS. Quando Natsu contou-me que era assim que Igneel chamava meu pai, não entendi o porque desse apelido. Mas, vendo a maneira como meu pai, aquele que havia sido gentil comigo a vida inteira, olhava de mim para Natsu e, enfim, Igneel, explicava tudo. Era como se ele fosse mesmo devorar nossas almas.

— Então — começou ele, com aquela voz grossa —, quem quer começar com a explicação?

Estávamos na sala. Aries, junto a todos os outros presentes no momento, haviam sido expulsos do cômodo por Igneel. Ver meu pai, que não havia mudado nada em todo aquele tempo em que não nos víamos, sentado em uma poltrona com os braços cruzados, os olhos fincados em mim e a boca em uma linha reta e rígida foi bom e ruim ao mesmo tempo.

Estava com saudade. Muita saudade mesmo. E fora uma filha terrível em não manter contato com ele mesmo depois de ter prometido para Rogue — o moreno não sabe disso, claro.

Foi então que lembrei tudo o que havia omitido dele. E Natsu, que estava parado ao meu lado com a cara mais tapada que já o vi fazer, não ajudava muito.

O silêncio reinava na sala. Igneel estava parado como uma estátua, porém mesmo assim lhe lancei um pedido silencioso de socorro por olhar.

— E... — Começou ele, tentando me ajudar. — Então, Jude... — Deu um soco amigável no ombro de papai. — Judão! Como andam as coisas? Faz tempo desde que tive notícias suas...

— Não tente fingir que nada aconteceu, Igneel. Depois teremos uma conversa séria, só nós dois. — Cortou o loiro.

Igneel engoliu em seco, como se houvesse escutado um "depois vamos ter uma conversinha" da mãe.

— Sim, senhor... — A voz do rosado foi morrendo com a frase.

Jude virou-se para mim e Natsu.

— Lucy. — Chamou, fazendo meu corpo dar um pulo devido a ansiedade.

— Si-sim? — Perguntei, encarando seus olhos caramelados.

Ele manteve meu olhar, o silêncio tornando-se algo aterrorizante. Soltou um suspiro, aparentemente desistindo do que quer que fosse dizer.

— Estou cansado da viagem, creio que é melhor deixar para depois a conversa sobre o seu — olhou para Natsu e soltou um pigarreio — namorado.

É... Estava incrivelmente ferrada.

— Opa, como sou mal educado! — Natsu exclamou de repente, assustando-me. — Onde estão os modos que meu pai me ensinou? — Papai arqueou uma sobrancelha. — É um prazer, senhor Heartfilia. — O rosado ofereceu-lhe a mão. — Aceita alguma coisa? Café, água... Talvez champanhe? — Encarei o Dragneel. — Soube que gosta de um bom Krug Clos. Um homem de bom gosto, devo admitir...

Quem é esse?, pensei chocada. Ver Natsu tentando ser educado era extremamente estranho. Não que Natsu não o fosse, mas era muito esquisito vê-lo ser mais estranho que o normal.

— Você disse Krug Clos? — Jude perguntou, com um brilho interessado nos olhos. — Não é algo que vejo dizerem com frequência.

— De fato. É um champanhe considerado raro e caro, porém que tem um sabor sublime...

Natsu estava usando o que disse para ele faz muito tempo para ficar bem para meu pai?! Observei pelo canto do olho a expressão curiosa de Igneel. Assim como eu, ele devia estar achando aquela situação muito surreal.

— Adoraria tomar um pouco dessa maravilha — o loiro pigarreou —, porém terei que negar dessa vez. Lucy, vá fazer suas malas.

— Oi? — Murmurei. O sorriso falso de Natsu parecia ter sido arrancado de sua face.

Meu Estranho MafiosoWhere stories live. Discover now