Vinte e três

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HUM... — Murmurou Levy, na tarde daquele dia. Ela permaneceu desmaiada até às cinco horas da tarde e quando acordou tive que explicá-la toda a história do baile da fundação de Fairy Tail. Agora estávamos no enorme e branco closet de Aries, planejando algumas coisas como roupas e maquiagens que faríamos no dia.
        — O que foi, Levy? — Indagou Aries assim que a azulada lançou outro longo suspiro sobre nós.
        — N-não é nada! — Exclamou, abanando as mãos em um gesto para esquecermos.
        — Levy. — Chamei. — O que há de errado?
        — N-não há nada de errado! — Replicou.
        Larguei a revista de penteados que antes gritava por minha atenção e disse:
        — Levy McGarden, lhe conheço muito bem e sei que você não suspira assim sem estar preocupada com algo. — Ou alguém, completei mentalmente, lembrando-me de fatos passados.
        — Tudo bem! Tudo bem! — Exclamou bruscamente, assustando tanto a mim quanto Aries. — É só que... um baile...
        — Qual o problema em haver um baile? — Indagou Aries.
        — Exatamente. Qual o problema? — Repeti. — Você adora festas.
        — Eu não adoro! — Contradisse. — Eu as amo. Mas... Mal cheguei à Magnólia e já tem um baile! Quero dizer... Não conheço ninguém ainda! E não posso chamar Natsu, pois ele já vai ser seu par, Lu-chan! Não existe ninguém que eu possa chamar... — Concluiu com ar tristonho.
        Cerrei os olhos em sua direção.
        — Vamos lá, Levy-chan! Não desanime! Vai acabar aparecendo alguém. — Incentivei.
        — Você acha mesmo?
        — Tenho certeza!
        — Então era isso. — Balbuciou Aries com ar relaxado. Seus olhos brilharam de repente. — Por que não chama o Gajeel?
        — Quem? — Perguntou Levy. — O senhor brutamontes? — Riu debochadamente. — Não, obrigada.
        — Levy-chan, que má! — Ri.
        — Vamos lá, Levy! — Incentivou Aries. — Gajeel é o único que sempre fica sozinho nessas festas.
        Agora que ela falou isso... ele não tinha nenhum par na festa de Natsu...
        — Acho que é verdade. — Refleti.
        — E além disso — continuou a rosada —, vocês ficariam extremamente fofos juntos.
        O olhar de má vontade de Levy me fez gargalhar.
        — Tudo bem. — Suspirou derrotada. — Vou tentar falar com ele. A propósito, Lu-chan, já decidiu que penteado fará?
        Foi minha vez de suspirar.
        — Não faço a mínima ideia... Talvez deva pedir para Lisanna me ajudar novamente.
        — Lisanna?
        — É mesmo! Você não a conhece! É uma boa pedida! Que tal amanhã irmos visitá-la? Ela tem muito talento em fazer penteados e é a irmã mais nova de Mirajane.
        — Hã... Lucy, a respeito disso... — Começou Aries.
        — O que foi?
        — Eu, bem... queria que vocês fizessem o penteado com o meu cabeleireiro, Câncer-kun.
        — Câncer?! — Assustei-me.
        — "Kun". — Complementou. — Ele é incrível!
        — Mas a Lisanna...
        O olhar de Aries tornou-se sério.
        — Não quero parecer grossa e também rude, mas o nome dela já é, em si, algo proibido nesta casa.
        Engoli em seco.
        — Afinal, o que ela fez?
        Sorriu misteriosamente.
        — É algo que o Nii-sama terá que contá-la.
        Armei um bico enorme, porém aceitei. Tinha várias coisas que queria saber, mas todas levavam a somente uma pessoa... Natsu. E como o mesmo me aconselhou a ter paciência...
        — O Câncer-kun tem um nome meio... exótico, não? — Observou Levy-chan.
        — R-realmente... — Concordou a rosada. — No entanto... — Suas bochechas coraram e seu olhar tornou-se doce. — Eu o conheci através da minha mãe.
        Levy e eu a encaramos.
        — Como era a sua mãe, Aries? — Indaguei.
        Ela sorriu.
        — Maluca... Totalmente pirada. — Seus olhos perderam-se em algum ponto, relembrando velhos momentos vividos com a srta. Dragneel.
        — Eh? — Balbuciou Levy.
        — Ou deveria dizer... excêntrica? — Proferiu para si mesma. — Ela era um pesadelo, garotas. Mas... um daqueles pesadelos bons. Desculpe! — Pediu ao pensar sua última frase dita. — Isso não faz nenhum sentido, não é?
        — Acho que faz. — Disse sorrindo. — Sua mãe era diferente, mas... diferente de um modo bom, certo?
        — Exatamente! — Concordou, aliviada por termos entendido.
        — Ela e seu pai deviam ser pais totalmente loucos juntos. — Murmurou Levy.
        — Sim, sim! Ela e — seu rosto ficou duro — meu pai...
        Encarei-a.
        — Aries... Você não gosta do seu pai, estou certa?
        — Não é isso. — Disse em um suspiro. — É que simplesmente não posso perdoá-lo.
        — Perdoá-lo? — Fizemos coro.
        Sorriu novamente, desta vez um sorriso desapontado. Em seu olhar, o ódio começava a se tornar claro.
        — Sim. — Respondeu, mais para si mesma do que para nós. — Nunca irei perdoá-lo...
        Fechei a revista de penteados fazendo barulho, livrando-a assim de seus devaneios.
        — Acho que o melhor a se fazer agora é dormir. — Proclamei. — Amanhã teremos uma festa para arrasar.
        Levy sorriu aliviada.
        — Você tem razão, Lu-chan! — Concordou. — Amanhã será um dia cheio.
        Aries sorriu.
        — É mesmo, não?
        Assim nos despedimos e fomos cada uma para seu próprio quarto — menos Aries, que já estava no seu.
        Andando no corredor silencioso e pouco iluminado, deixei-me vagarem meus pensamentos barulhentos. Aries, que nunca ia a nenhuma festa, festival ou evento — fora o aniversário de Natsu — iria à festa da Fairy Tail...
        Ultear e Igneel também iam...
        Isso é meio estranho...
        Loki estava voltando também...
        ... O que mais me deixa curiosa nessa história, é o fato de Aries odiar Igneel, mesmo não querendo admiti-lo...
        Atrás de mim passos ecoaram e antes de poder me virar já me via prensada contra a parede. O corpo esguio e musculoso estava completamente colado ao meu, de forma que poderia sentir meu corpo e o seu trocando calor. Minha respiração estava descompassada por causa da surpresa e o seu cabelo rosado fazia cócegas em meu rosto. Apertava meus pulsos na parede, forte o bastante para não conseguir soltar-me. Seu rosto estava cabisbaixo e trocávamos a mesma respiração.
        Minhas bochechas arderam fortemente, pois ao ver o cabelo rosado me lembrei imediatamente de Natsu e do festival logo em seguida.
        — Natsu... — Balbuciei entreabrindo os lábios um pouco, pronta para o beijo que jurava que viria logo em seguida.
        Fui surpreendida por uma gargalhada estridente.
        Olhei bem seu rosto e minhas bochechas coraram ainda mais.
        — Lhe enganei! — Sorriu brincalhão para mim, soltando meus pulsos e deixando-me livre.
        — I-Ig-Igneel-san?! — Exclamei chocada. — O-o-o-o quê..? P-p-por que você...? — Gaguejei.
        Ele limpou as lágrimas de seus olhos enquanto a risada diminuía.
        — Você é muito inocente, Lucy. — Observou. — Sabe... Sei que confia bastante em nós, tanto que até decidiu morar aqui, no entanto não se esqueça de que aqui moram mafiosos, pequena loira de belo corpo. — É possível corar ainda mais? — Sou um dos "machos" mais confiáveis desse lugar.
        — Er... — Fiquei sem jeito.
        — "Por que fez isso?"; é o que vai me perguntar, certo? — Acenei em concordância. — Ora essa, só queria te mostrar que esta mansão é lotada de lobos soltando hormônios. Procure não se perder em devaneios enquanto anda pelos corredores, ainda mais escuros como esse.
        — Obrigada. — Agradeci pelo conselho.
        Sorriu gentilmente enquanto afagava o topo de minha cabeça.
        — Não há de quê. Seja mais cuidadosa, okay? Não queremos que aconteça outro caso como o que houve com Sting.
        Encarei-o estupefata.
        — Como sabe a respeito disso?
        — Tenho minhas fontes... — Sorriu novamente. — Até parece que os boatos que o bobo do Natsu... Não, até parece que o bobo do Natsu me engana em algo. Não importa o que for, sempre descubro o que aquele pirralho planeja. Sempre. — Enfatizou, lançando um sorriso e olhar sacana em minha direção.
        Demorei um segundo para perceber ao que ele se referia.
        — S-sabe sobre isso também?! — Exclamei.
        — Até parece que o Natsu conseguiria uma namorada do seu nível em tão pouco tempo. — Murmurou. — Ele pode até atrair bastante garotas com aqueles feromônios, mas ainda não chega nem perto do meu nível, para atrair belas jovens como você. Ainda mais puras e decentes. Não é mesmo, garota do interior? — Apenas deixei meu maxilar cair. Ele riu. — Por favor, investigação básica conta muito nessas horas. Lucy Heartfilia, filha de Jude e Layla Heartfilia. Nasceu na cidade de Lupinus às sete da manhã, por isso sua mãe sempre lhe chamava de raio de Sol. — Riu novamente. — Isso é bem típico de Layla. Conheci sua mãe, sabia?
        — S-sério? — Indaguei ainda mais surpresa.
        — Sim! Estudamos juntos no ensino médio. Ela era honesta, gentil e sempre estava pronta para ajudar aos amigos, não importa que hora fosse. Parece... que ambos perdemos pessoas importantes em nossas vidas, não é? — Entristeceu-se, e não pude deixar de me ver comovida.
        — Como a senhorita Dragneel mor... — Comecei, mas fui interrompida pelo mesmo, que virou-se rapidamente de braços abertos. Poderia jurar ver brilhinhos cintilando ao seu redor.
        — Tudo bem! Por que não nos consolamos com um abraço? — Indagou animado. — Vamos lá! Pode me abraçar como se não houvesse amanhã! Atinja-me com toda a sua tristeza... e airbags. — Acrescentou em voz baixa, porém o ouvi.
        — Tem certeza de que é uma pessoa confiável? — Indaguei desconfiada.
        Ele riu novamente.
        — Sabe Lucy, você me lembra minha esposa... — Comentou.
        — Eh? Eu lembro a senhorita Dragneel?
        — Sim! Vocês duas possuem algumas coisas em comum. Como... — Ponderou por alguns segundos. — O gênio, talvez? Bem... ambas já torceram o tornozelo.
        Parei de caminhar ao lado dele.
        — Por que está fazendo isso?
        — Hum? — Desentendeu.
        — Por que está dizendo que sabe de tudo o que aconteceu comigo desde que cheguei à Magnólia?
        — Somente quero mostrar que confio em você. — Sorriu e voltei a corar. — Sabe... Muitas coisas aconteceram com Natsu. Muitas coisas um pouco dolorosas. Coisas que o fizeram perder aquela vivacidade que possuía. E acho que você pode fazê-lo voltar a ficar daquele jeito. — Virou-se e cortou a pouca distância entre nós, segurando uma mecha de meu cabelo e beijando-a. Chegou seus lábios perto de minha orelha e sussurrou: — Deixo o Natsu em suas mãos, Luce.
        Um arrepio percorreu minha coluna e corei ainda mais.
        Ele soltou um sorriso misterioso e retornou pelo caminho que fizemos, deixando um "boa noite, Luce" ecoar pelo corredor.
        Luce.
        Ele me chamou da mesma forma que Natsu.
        Como raios ele sabia tanto?
        Ao chegar em meu quarto, joguei-me na cama e escondi meu rosto atrás de uma almofada. Igneel sabia. Sabia que meu namoro com Natsu era falso, porém mesmo assim deixou isso passar.
        O que estava planejando?
        "Deixo o Natsu em suas mãos, Luce."; continuava a ecoar em minha mente.
        ... O que será que ocorreu com Natsu para tirar a vivacidade dele?
        Será que o que ocorreu com Lisanna tinha algo a ver?
        Suspiro. É melhor dormir... O dia seguinte seria cheio...

Meu Estranho MafiosoWhere stories live. Discover now