Quarenta e nove

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[...]

A última coisa que vi foi Yukino, uma imagem distorcida pela água, assistindo tudo com olhos arregalados. E, antes de apagar, entendi praticamente tudo.

NADAR. Quando era menor essa era a segunda coisa em que era ruim, depois de cozinhar. Lembro que minha mãe tinha uma amiga — Aquário — que era professora de natação. Ela tinha um programa muito intenso e eficiente que funcionava com todo mundo — menos comigo, o que rendia boas broncas por parte de Aquário. Digamos que ela não tinha o comportamento mais calmo e paciente do mundo...

— Está batendo as pernas errado! — Bronqueou ela em umas das aulas do passado, já sem paciência com minha falta de habilidades.

— É muito difícil! — Soltei um muxoxo, já aborrecida por tudo aquilo.

— Difícil é ter que te aguentar duas horas por dia — replicou —, nadar é uma tarefa simples que não exige muito esforço.

Para ela era fácil dizer isso, já que nasceu praticamente nadando (ouvi dizer que a mãe dela deu a luz na banheira), mas para uma criança de seis anos...

— Aquário! Estou cansada! — Choraminguei, agarrada na borda da piscina. — Vamos dar uma pausa, por favor!

— De maneira alguma! Você vai continuar nessa piscina até bater essas pernas direito.

— Mas elas estão doendo...

— Não doeriam se estivesse movimentando certo. Além disso, isso fará que elas fiquem fortes. Agora pare de reclamar!

Haviam outras coisas que era ruim, é claro. Fazer amigos era uma delas. Lembro que fui apresentada à Yukino por Rogue e Levy. Era uma dia ensolarado e estava suando, mas não pelo calor, e sim pela tensão que era sentida no ar da casa de Yukino. Casas em estilo imperial japonês sempre me assustavam um pouco com aqueles milhões de portas que pareciam esconder segredos por séculos e o silêncio que era predominante.

Lembro como tanto eu quanto Yukino ficamos envergonhadas de nos falarmos a princípio — ainda mais com a albina me tratando tão cordialmente —, problema que foi mais ou menos resolvido mais tarde. Mesmo assim, nunca cheguei a ser tão intima de Yukino quanto de Levy.

Yukino mais tarde foi mandada para a casa dos avós, no Japão, e depois disso perdi contato com ela. E então nos reencontramos em Magnolia e ela não havia mudado praticamente nada.

Era como se estivéssemos nadando na mesma direção, mesmo em caminhos diferentes...

Nadando...

— Infle mais os pulmões — aconselhou Aquário, quando completei nove anos —, isso vai lhe ajudar a boiar.

— Ei, Aquário... — chamei, observando o pedaço de bolo em meu colo. Era meu aniversário de nove anos e nessa época minha mãe já havia nos deixado.

— Hum? — Murmurou, olhando para o horizonte e enfiando uma colher lotada de bolo na boca.

— O que acha que minha mãe me daria de presente esse ano?

Seus olhos azuis sondaram-me.

— Não sei. — Deu de ombros.

— Como esperado... — Comentei.

Respirou fundo.

— Sabe, Layla ia gostar do seu desenvolvimento como nadadora. Embora você tenha muito o que aprender...

— Que absurdo! Já sou uma exímia nadadora!

— Não é mesmo! — Deixou um sorriso quase imperceptível aparecer. —Você sempre faz a pior coisa quando sua cabeça submerge.

Meu Estranho MafiosoWhere stories live. Discover now