Vinte e dois

381 30 0
                                    

ACORDEI NO DIA seguinte com muito barulho em meu quarto.
        — Hum... — murmurei, abrindo os olhos lentamente. Reclamei: — Que barulho...
        — Ah! — Exclamou uma voz muito bem conhecida. A voz de Levy. — Desculpe, lhe acordei, Lu-chan?
        Sentei-me e bocejei.
        — Para ser honesta... sim. — Cocei os olhos. — O que faz aqui?
        — Ah... — Suas bochechas ficaram vermelhas. Ela estava em cima da cama, próxima de mim e com o celular na mão. — Isso....seu pai me pediu para lhe mandar uma mensagem contando as coisas que aconteceram desde que chegou, uma vez que você nem ao menos ligou para ele.
        Foi minha vez de ficar vermelha.
        — Ah! Tenho que ligar! Não posso esquecer mais.
        — Não mesmo, mocinha. — Bronqueou. — Você não sabe o quanto ficamos preocupados!
        Ri baixinho.
        — Levy-chan... Sempre agindo como minha mãe.
        Inflou as bochechas.
        — Mas é verdade! Você não mandou nem uma mensagem para mim!
        — Foi mal... — Murmurei.
        Suspirou satisfeita.
        — Tudo bem! Agora... — Chegou mais perto, enfiando-se embaixo dos cobertores junto a mim. — O que deixou de me contar ontem?
        Observei-a, confusa.
        — Como assim?
        — Quem está querendo enganar, Lu-chan? Lhe conheço a vida toda! Sei que deixou alguns detalhes de fora.
        — P-p-por que acha isso? Não escondi nada de você.
        — Não? — Remexeu no bolso de sua calça. — O que é isso então?
        Balançou na frente dos meus olhos minha cartela de pílulas do dia seguinte.
        — Onde pegou isso? — Quase gritei, pegando o objeto de suas mãos.
        — No seu banheiro. E então?
        Lancei-lhe um olhar zangado.
        — Não fique remexendo minhas coisas! — Ralhei.
        — Há! Até parece que não me conhece! É claro que vou fuxicar suas coisas, assim como você fuxicava as minhas.
        Fiz bico.
       — Lu-chan, você não virou uma pervertida, virou?
        — O quê? — Berrei. — C-c-claro que não!
        — Então me explique logo porque tem uma dessas cartilhas! — Riu da minha reação.
        Suspirei derrotada. Era a minha melhor amiga, é claro que tinha o direito de saber.
        — Certo. Não virei uma pervertida! — Comecei.
        — Ah! — Ela deu um muxoxo.
        — Que reação foi essa? — Resolvi ignorar. — Tenho isso por causa de um... — As imagens de Sting naquele dia fatídico voltaram à minha mente e de repente me senti enjoada.
        — Lu-chan? — Levy pareceu preocupada.
        — Desculpe, não foi nada.
        Por que me sentia tão desconfortável em falar para ela? Disse para Gray até que facilmente... então, por que para a Levy-chan não?
        Suspirei fortemente.
        Talvez foi porque Gray é quase um desconhecido para mim.
        — Lu-chan? — Chamou-me novamente.
        No entanto, essa pessoa na minha frente é minha melhor amiga! Se eu não puder contar para ela uma coisa dessas, o que isso me faz?
        — LU-CHAN! — Berrou a puros pulmões no meu ouvido.
        — Ai! — Gritei de volta. — O que foi?
        Sem semblante era furioso.
        — “O que foi?”, você pergunta... — Fez uma falsa imitação da minha voz. — Eu te faço uma pergunta e você para no meio da explicação, parecendo passar mal e se perde em meio a devaneios, me deixando no vácuo! — Reclamou.
        — Foi mal... — Repeti.
        — Se você sente tanto, me explique logo o motivo para essas cartilhas.
        — E-eu... tenho somente para proteção! — Por que estava mentindo? — Sabe... para o caso de algo acontecer.
        — Quero saber o motivo real, Lu-chan!
        — É o que falei, Levy-chan!
        — Quer que eu acredite nisso? — Arqueou uma sobrancelha. — Com uma cartilha quase vazia de prova?
        Suspirei.
        Levy tinha tudo ao seu favor, e eu... nada.
        Não entendo o motivo de mentir para ela.
        — Está bem, Levy-chan. — Concordei. — O real motivo é... — e expliquei a situação para ela.
        — Eh? — Balbuciou chocada. — I-i-isso... n-não pode ser verdade...
        Meu coração apertou um pouco.
        — Infelizmente é sim, Levy-chan. Foi exatamente isso que lhe contei.
        — M-mas... Lu-chan... — Podia perceber que ela estava com um nó na garganta. De repente foi tomada pela raiva. — Esse maldito! — Começou a gritar. — Filho de uma...
        — Levy-chan! — Repreendi.
        — E como assim o Natsu não fez nada?! Nada? N-A-D-A?
        — É, ele não fez, porém...
        — Esse garoto acabou de cair no meu conceito! Isso ainda aconteceu quando você já tinha o status de namorada dele!
        — Acho que deve ter um motivo para isso...
        — Será mesmo, Lu-chan? Será? Que motivo? Vamos, me diga um bom motivo!
        — Er...
        Calei-me. Não conseguia pensar em um motivo bom o suficiente
        — Viu? Nem você consegue achar um motivo! — Sorriu debochadamente. — Porém, é claro que a bondosa Lu-chan procurará uma razão para aquele canalha do Stong ter feito isso!
        — É Sting... — Corrigi.
        — Quem liga, Lu-chan? Esse canalha ousou tocar em você e o seu suposto “namorado” não fez nada! Acho bom ele ter um motivo muito bom para não ter feito isso.
        — Levy-chan, fale mais baixo! —Implorei. — O quarto do Natsu é aqui ao lado.
        — Isso é ainda melhor! — Pôs-se de pé em cima da cama. — VOCÊ ESTÁ OUVINDO, NATSU DRAGNEEL?! — Berrou. — ACHO BOM VOCÊ TER UM MOTIVO INCRÍVEL PARA NÃO FAZER NADA COM O STONG....
        — Sting! — Corrigi novamente. — E pare de dar chilique, Levy-chan! Todos vão lhe ouvir!
        — STING! TANTO FAZ! — Ela estava realmente alterada. — CASO CONTRÁRIO, EU VOU ACABAR COM VOCÊ!!
        — Levy-chan! Acalme-se, por favor! — Implorei novamente, agarrando suas pernas.
        Dessa vez ela resolveu me ouvir, só não sei se foi por causa da falta de ar. Voltou a sentar na cama e formou um bico enorme.
        — Não sei como pode estar tão calma! — Reclamou.
        — Não estou, Levy-chan. No entanto dar chilique não vai ajudar nem mudar nada.
        — Hunf! — Soltou um muxoxo.
        — Vamos lá, Levy-chan! — Tentei animá-la. — Isso está no passado! Ninguém quer lembrar dessas coisas!
        — Principalmente você, né? — Jogou na cara.
        Encarei-a chocada, sentindo um enorme nó se formar na minha garganta.
        — É claro que não vou querer falar disso — afirmei com a voz embargada. — Foi uma experiência terrível. Sinto-me suja só de lembrar. Mas no fim, Levy-chan, isso foi só culpa... minha. —  Minha voz saiu em um fio. Finalmente estava admitindo para mim mesma a verdade.
        Foi minha culpa.
        Erza, Lisanna... e principalmente Natsu. Todos avisaram-me.
        Natsu me buscava todo dia. Natsu não gostava da proximidade de Sting, mesmo me zoando. Ficava estampado na cara dele, e eu fui besta de não ter percebido antes. Sim... no final foi tudo culpa minha, que resolvi ignorar seus avisos.
        — Lu-chan... — A voz de Levy estava carregada de arrependimento. — Me perdoe! Sinto muito, não quis dizer aquilo!
        — Tudo bem, Levy-chan. — Respondi. — Você está certa, no fim das contas.
        — Lu-chan... Já sei! Tenho algo que vai te animar!
        — Sério? — Indaguei curiosa. — Então, espere um pouco até eu me trocar e aí descemos para tomar café e você me mostra, okay?
        — Certo. — Concordou com um sorriso.
        Comecei a tirar a camisola branca de tecido fino que usava e pegar uma das mudas de roupas que Aries me dera. Algo me assustou por produzir um barulho alto. E quando olhei para trás, observei Natsu na porta de meu quarto — esta escancarada — bocejando e coçando a cabeça, sem nenhuma camiseta.
        Levy surpresa e ao mesmo tempo zangada.
        E eu... apenas de sutiã e calcinha.
        — Que barulhada é essa logo de manhã? — Indagou entre outro bocejo. Finalmente abriu os olhos. — Será que vocês sabem que têm mais gente morando — finalmente focou-me — aqui...
        — Ah... — Murmurei. E por fim explodi em um grito.

Meu Estranho MafiosoWhere stories live. Discover now