Quinze

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AS LUZES DO carro de polícia brilhavam em meio a noite. De repente, a noite perfeita estava arruinada.
        O frio havia chegado finalmente e Natsu oferecera seu terno para mim, que o vestia meio desconfortada. Podia senti-lo lançando-me olhares preocupados.
        — Lucy! — Chamou-me Erza, correndo desesperadamente rápido em minha direção.
        — Erza... — Murmurei com a voz fraca.
        — Você está bem? — Balbuciou agarrando meus ombros fortemente.
        — S-sim...
        — O que aconteceu? — Indagou para Natsu.
        — Alguém invadiu o apartamento dela e revirou tudo. — Explicou. — Chamei a polícia enquanto ela estava em choque.
        — Por que não nos chamou?
        — Estavam todos na festa, a polícia viria mais rápido. Entretanto, é lógico que não irei deixar isso nas mãos deles, mas temos que decidir onde Lucy ficará nas próximas semanas, até concluirmos quem fez isso.
        — Ela não pode ficar na mansão? — Indagou a ruiva, e Natsu negou com a cabeça.
        — Acho que ela não querer ficar lá... Por causa da Meredy...
Ambos encararam-me.
        — Lucy. — Chamou Erza gentilmente. — Onde quer ficar? Na mansão dos Dragneel, ou com Mira... Ela não conseguiu vir até aqui, pois Igneel a prendeu na festa, porém ofereceu sua casa por algum tempo.
        — É muita gentileza dela, entretanto... Não quero ir para nenhum desses dois lugares... — Respondi.
        — Hum... E-então que ir até meu apartamento? — Perguntou desconcertada.
        — Acho que não será uma boa ideia. Sei que vou lhe atrapalhar.
        — Claro que não vai!
        — Posso ver pela sua movimentação corporal, Erza. — Observei.
        Ela praticamente murchou em minha frente. Natsu aproximou-se, postando-se ao meu lado e olhando-me fixamente.
        — Você está bem?
        — É claro. — Murmurei novamente. Estava cansada e com sono, só queria um lugar para dormir, uma vez que o apartamento ficaria interditado por tempo indeterminado.
        — Olha Lucy... — Sentou-se ao meu lado nas escadas. — Sei que você deve achar um lugar meio desagradável, ainda mais porque Meredy está lá e viu nossa... Hum... aquilo no bosque. Entretanto, seria uma honra caso quisesse ficar lá na mansão por alguns dias...
        Que outra escolha tinha? Ou ficava ao relento, ou aceitava sua oferta.
        — Acho que a mansão é um lugar bem agradável. — Afirmei.
        Sorriu levemente em minha direção.
        — Fico feliz que tenha aceitado a oferta. — Levantou-se, estendendo a mão para mim logo em seguida. — Vamos?
        Segurei sua mão, ignorando o furor em minhas bochechas.
Em alguma parte da caminhada, acabei desmaiando de sono. A última coisa que lembrava era da voz de Natsu, desesperada, me chamando.

✩✩✩

        Acordei no dia seguinte.
        O sol já infiltrava pelas janelas, iluminando com sua cálida luz matinal alguns trechos do quarto. O local era belo com sua mobília de cerejeira, cama com dossel e piso completamente branco. Nas janelas, as finas cortinas brancas esvoaçavam com o roçar do vento e um forte cheiro de hortelã invadia o quarto.
        — Onde estou? — Indaguei a mim mesma, tentando recordar algo da noite anterior. Ao lembrar, levantei com uma guinada repentina, deixando o lençol de seda roxa clara escorregar pelo meu corpo.
        Memórias da noite anterior invadiam minha cabeça.
        — Está tudo bem... Se lhe tocar?
        […]
        Pergunto-me... Se não deveria me apaixonar por ele...
        [...]
        Meu apartamento foi invadido.
        Empurrei os lençóis para meus pés, levantando em seguida. Corri até a janela e apoiei-me em seu batente, observando o lindo cenário natural que se estendia à minha frente. Novamente, estava na mansão Dragneel.
        Suspirei, deixando-me cair sobre uma cadeira que estava ao lado da cama — parecia ter sido usada recentemente. Neste exato momento, Aries-chan irrompeu pelo quarto, carregando uma bandeja incrivelmente recheada de guloseimas para café da manhã, como torradas com queijo derretido, suco de laranja e — surprise! — uma taça recheada de pedaços de frutas.
        — Bom dia, Lucy-chan. Dormiu bem? — Depositou a bandeja na cama, sentando-se ao meu lado.
        — Sim, obrigada por perguntar. — Algo passou por minha mente. — Aliás, Aries-chan, não a vi ontem, durante a festa de seu irmão...
        — Ah, isso. — Riu jovialmente. — Não sou muito chegada em festas. Prefiro ficar no meu quarto, lendo alguns dos trilhões de livros que o Otou-sama compra. Aliás, você o conheceu?
        — Sim... Ele é bem animado, não?
        Ela bufou.
        — Um velho pervertido, isso sim. Além disso, ele mima muito a Meredy.
        — Isso seria... Ciúmes da atenção que ele dá a ela? — Ri debochada.
        — O quê? Até parece! — Juntou-se a mim em uma harmoniosa sinfonia de risos. — Dispenso qualquer tipo de atenção dele. Os livros que ganho já são o suficiente.
        — Não é chegada em seu pai, Aries-chan?
Seu olhar entristeceu.
        — Não muito, para falar a verdade... De nós, o mais chegado nele é o Natsu-nii-sama, embora não aparente isso. Ah! Peço desculpas pelo comportamento que Meredy possa ter lhe dado. Ela é bem próxima do Nii-sama, pois era muito chegada em nossa mãe...
        — Natsu lembra sua mãe? — Indaguei confusa.
        — Não, nem um pouco. — Riu. — Entretanto, Meredy era muito pequena quando ela partiu e quem ficou ao lado dela foi o Natsu-nii-sama.
        — Não quis ficar ao lado dela?
        — Na verdade, não foi isso... Eu era bem... bagunceira quando mais jovem, por assim se dizer, e me mandaram para um colégio interno.
        — Você?! — Exclamei surpresa.
        — Meu passado me condena. — Riu novamente. — De qualquer forma, quando recebi a notícia já era bem tarde... Depois disso trouxeram-me de volta para casa.
        — Isso é incrível! Você não parece ter ido para um colégio interno.
        — É verdade, não é? Mas lembro que Natsu-nii-sama costumava me chamar de peste...
        — Um grosso desde quando era pequeno. — Afirmei, fazendo-a rir.
        — Enfim, Lucy-chan... Como vão as coisas entre vocês?
        — Co-como assim? — Gaguejei. Ela encarava-me com um brilho misterioso nos olhos.
        — Soube que ele a apresentou como sua namorada na festa.
        — B-bem... Foi...
        — Você aceitou ajudá-lo? — Perguntou animada.
        — Como sabe sobre isso?
        — Vocês brigam o tempo todo, certo? É claro que o Nii-sama deve ter corrido desesperado até você e feito esse pedido! E então, o que sente por ele? — Bombardeou-me.
        — E-eu...
        — Infelizmente para você, Aries, não corri desesperado até ela. — Interrompeu Natsu, que se encontrava encostado no batente somente com uma calça negra. — Não tinha nem a intenção de pedir a ela isso. Só o fiz, pois Meredy confundiu tudo.
        — Meredy? — Surpreendeu-se a rosada. — Se lembro bem, ela chegou aqui reclamando de uma loira que salvou sua vida e queria roubar o idiota...
        — Quem você está chamando de idiota? — Perguntou Natsu, sem paciência.
        — Ora, tem outro aqui sem ser você?
        Ele andou até ela e pegou suas bochechas, puxando-as.
        — Ai! Ai! Isso doí, Nii-sama! — Reclamava ela, olhando diretamente nos seus olhos, implorando para parar a ação.
        Quando ele por fim largou-as, Aries-chan encolheu-se em um canto do quarto, massageando suas bochechas.
        — Lucy. — Chamou-me ele, atraindo minha atenção.
        — Sim?
        — Arrume-se logo. Aries, empreste algo para ela. — Ordenou, virando-se em seguida para mim. — Iremos até seu apartamento, buscar algumas coisas necessárias, como roupas, objetos de higiene pessoal... Volto daqui a cinco minutos, esteja pronta!
        Sumiu porta afora.
        — Aries-chan, poderia me emprestar algo? Aliás, você está bem? — Ajudei-a a se levantar.
        — Estou. Aquele idiota! Só porque é dois anos mais velho do que eu... De qualquer forma, venha Lucy-chan! Vamos pegar algo bem fofo para você!

✩✩✩

        — Está pronta? — Indagou Natsu, adentrando no quarto após bater na porta e parando ali mesmo ao me encarar. — Que roupa é essa?
        Lancei meus olhos em direção ao chão, envergonhada. Nunca havia trajado um vestido com tantos babados antes.
        — Aries-chan praticamente me obrigou a vesti-lo. Aliás, esse foi o mais normal que encontrei, o resto parecia roupa de festival e o que ela queria que eu vestisse parecia bem quente.
        — F-ficou bem em você, esse vestido lolita...
        — S-sério? — Senti-me corar. — Como sabe o nome desse estilo? Tem fetiche por essas coisas? — Perguntei de repente, estranhando seu conhecimento.
        — C-claro que não! Meredy vestia-se assim quando era pequenininha.
        — Ah...
        — Vamos logo. Siga-me.
        — Não vai chamar Sargittarius?
        Sorriu de canto.
        — Hoje não.
        Dirigimo-nos até um longo edifício que rapidamente percebi ser a garagem da mansão.
        — O que estamos fazendo aqui? — Indaguei curiosa.
        — Fique quieta que logo, logo descobrirá! — Exclamou.
        Ele ligou o interruptor, revelando milhares de carros por ali, entre eles a tão conhecida limusine. Pegou uma chave com uma fita vermelha em um penduricalho lotado de chaves e seguiu até o extremo sul da garagem.
        Não demorou muito até um porsche negro tomasse minha visão.
        — Que lindo! — Exclamei.
        — Não é? — Indagou orgulhoso, ao mesmo tempo em que abria a porta do motorista.
        — Por que está invadindo o carro de outros?
        — Não estou invadindo coisa nenhuma! — Bronqueou-me.
        — Não?
        — Claro que não! Isso foi um presente de aniversário do meu pai.
        — Igneel-san? — Surpreendi-me.
        — Pois é, tem vezes que o velho acerta. — Abriu a porta do carona para mim.
        Quando estava acomodada, deu partida e logo estávamos deslizando pela avenida, tão rápido que era. Meus cabelos brincavam com o vento que invadia pela fresta da janela que havia aberto.
        — Isso é incrível!
        — Realmente. Acredita que quando pequeno ficava facilmente enjoado em automóveis?
        — Sério? Isso é tão... Não você!
        — Temos que aprender superar nossas fraquezas. — Meditou, e segurei o riso. — Do que está rindo? Aliás, quando pretende me dar um presente?
        — Já não lhe dei?
        — Não me lembro disso.
        — Aceitei seu pedido.
        — Isso nos deixou quites pela montanha Sakura.
        — Minha maravilhosa companhia não conta? — Gargalhou. — Estou falando sério! Não ria!
        — É claro que não conta, Luce!
        Lancei um olhar irritado em sua direção.
        — Está bem, comprarei um assim que estiver trabalhando e tiver dinheiro o suficiente. E que fique claro, você também terá que me dar um em meu aniversário!
        — Tudo bem. — Concordou calmamente.
        Antes que pudesse perceber estávamos na frente da pensão.
        — Que rápido! — Exclamei ao sair do carro.
        — Lembre-se, vamos só pegar básico e hum... Lucy, está tudo bem para você deixar esse caso nas mãos da máfia?
        Encarei-o por alguns segundos em silêncio.
        — Disse que confiava em você, não disse? — Sem esperar por sua reação, abri o portão.
        Dedicamos cerca de uma hora a pegar e arrumar tudo o que eu poderia levar para a mansão Dragneel. Por fim, quando estávamos prontos para ir embora, uma voz ressoou na rua chamando minha atenção.
        — Não é Lucy Heartfilia, a futura Dragneel?
        — Sting-kun! Há quanto tempo... Ou nem tanto. Tudo bem?
        — Claro. Que sorte, Natsu! Arranjou uma maravilhosa namorada, não é mesmo?
        Ambos se encararam, frios, por algum tempo. Sting, por fim, desviou o olhar, avaliando minha roupa.
        — Como sabe sobre meu namoro com Natsu?
        — Existe alguém que não saiba? Está nos jornais.
        — O QUÊ?
        — De qualquer forma, cara Lucy... Que roupa é esta?
        — Hum... Isso é...
        — Hey! — Interrompeu-me animado. — Se não tem vergonha de usar essas roupas e estiver procurando um emprego, por que não vem até a cafeteria? Estamos contratando.
        — Sério? Eu...
        — Lucy, vamos embora logo. — Chamou Natsu impacientemente de dentro do carro.
        — Já vou! — Suspirei fortemente. — Obrigada pela oferta, Sting-kun. Prometo pensar sobre o assunto.
        — Tudo bem.
        Entrei no carro e não demorou muito para o silêncio instalar-se entre nós dois. Não que me importasse. Precisava pensar.
        Aries-chan me ajudou de forma indireta.
        Que chance! Sempre ouvi boatos de que lá se paga muito bem! Trabalhar na cafeteria Fairy Latte era uma oportunidade em um bilhão...
        Que oferta mais tentadora.

Meu Estranho MafiosoWhere stories live. Discover now