Vinte e oito

357 30 0
                                    

SIM. Meredy estava falando sério quando disse que não nos deixaria em paz em momento algum.
        Deixe-me citar alguns momentos:

        a) Natsu e eu estávamos tomando nosso café da manhã juntos e abaixei meus olhos para a refeição por três segundos, quando voltei a levantá-los, Meredy havia posto uma cadeira ao lado do irmão e me olhava assustadoramente.
        b) Natsu e eu estávamos fazendo as lições de férias (geme de tédio), e meu lápis caiu no chão. Como estava chovendo, estávamos embaixo de um grosso cobertor. Quando voltei à superfície, lá estava ela! No meio de nós dois! E o pior: eu nem a sentira se espremer entre nós!
         c) Esse acontecimentos continuaram a ocorrer durante toda a semana e eu já estou, sinceramente falando, farta de tudo isso.

        Não. Não estou falando sobre o fato dela ser uma adolescente incestuosa que sonha com o irmão mais velho. Estou falando do fato dessa praga — sinto muito por utilizar essa palavra, porém é o que melhor a representa — não me deixar em paz em momento algum. Sua última "proeza" foi entrar no meu quarto durante a madrugada e, com um batom caríssimo da Ultear-san rabiscar em todas as paredes do quarto escrevendo: "Você é ridícula!"; "Eu te odeio!"; "Bruxa velha!"; "Quenga!"; entre outras coisas. (Sou boazinha o suficiente para limpar tudo com a ajuda de Virgo antes que Natsu fique sabendo.)
        Na manhã de sexta-feira, descia as escadas desanimada, soltando um longo suspiro.
        — Qual o problema, Lu-chan? — Indagou Levy, postando-se ao meu lado durante a curta caminhada até o quintal.
        — Nada... Somente uma presença rosada que está me enchendo a paciência ultimamente. — Disse.
        — Meredy-chan? — Chutou.
        — Como sabe? — Surpreendi-me.
        — Quando ela vai fazer alguma maldade com você, volta cantarolando pelo corredor do meu quarto: "só mais um pouco para a bruxa quenga velha ir embora".
        — Um amor. — Elogiei, azeda. Levy apenas riu da situação.
        — Você parece estar bem cansada. — Observou, olhando para as árvores do jardim.
        — E estou! Meredy está me tirando do sério! Não entendo como Natsu não acorda de manhã, quando ela vai até meu quarto e começa a bater tampas de panelas.
        — Ele não acorda? — Surpreendeu-se. — O quarto dele é ao lado do seu!
        — Exatamente! — Exclamei, exasperada. — E...
        — E? — Incentivou-me a continuar.
        — Não acho que quero vê-la tomar uma bronca do irmão. Sua expressão triste é chocante e... acho que vou chorar se voltar a vê-la.
        — Lu-chan, você é muito bondosa. — Elogiou a azulada. — Perdoa as pessoas facilmente.
        — Tem como não perdoá-la? Meredy era uma criança até três segundos atrás praticamente. Adolescentes fazem dramas, não estou certa?
        — Do jeito que fala, nem parece que também é uma.
        Soltei uma risada fraca.
        — No entanto... — Continuei. — Estou me sentindo meio... sabe... carente. A única pessoa que conversei bastante ultimamente foi Virgo. Ela é um amor de pessoa, porém aquela mania de querer que a punam é meio...
        — Parece difícil... — Concordou, cruzando as pernas sobre a grama onde estávamos sentadas. O dia estava claro, mas mesmo que o Sol estivesse brilhando fortemente no céu, faziam muito frio. De repente, seus lábios estenderam-se em um sorriso e uma luz empolgada piscou em seus olhos. — Já sei!
        — O quê? — Assustei-me com sua explosão repentina. A azulada havia levantado e agora me encarava com um sorriso misterioso na face.
        — Tenho algo que provavelmente vai animá-la, Lu-chan! Ou não, visto que sua situação atual é meio... — Observei-a, a curiosidade começando a despertar vagamente.
        — O que é? — Indaguei.
        — Na-na-ni-na-não. — Mexeu o indicador em frente ao meu rosto em um gesto negativo, enquanto repousava a outra mão na cintura fina. — É uma surpresa! Aliás, eu já tentei lhe entregar isso antes, mas... — Calou, perdendo-se em seus pensamentos.
        — Levy-chan! — Chamei-a, dando um puxão na barra da saia que trajava.
        — Hun? Ah! — Voltou à realidade. — Desculpe! Vou buscá-la e já volto! — Começou a correr para dentro da mansão. — Não saia daí!
        Soltei um suspiro exasperado.
        O que será que ela tinha para me mostrar?
        ... Já tentou me entregar antes?
        Droga! Agora ela conseguiu atiçar minha curiosidade!
        Esperei em silêncio por ela, lendo o livro que havia levado junto comigo. Acabei me deixando levar e só percebi que ela ainda não havia voltado quando meu estômago começou a roncar alto. Não percebera, porém já passava do meio dia e o tempo começava a fechar novamente. Ultimamente ele está assim. De manhã faz sol, à tarde o tempo fecha e à noite chove muito. Magnolia é bem estranha com seus climas.
        Fui tomada por uma onda de irritação ao lembrar-me que Levy-chan não havia voltado como prometera, enquanto voltava para a mansão.
        Ela vai levar uma boa de uma bronca; foi o que conclui ao começar a subir os degraus.
        — Oh! — Ouvi alguém exclamar em tom irritado. Ao olhar para trás, percebi que era a azulada que Gray andava evitando nos últimos dias.
        — Err... Juvia... chan? — Lançou-me um olhar mortal e imediatamente me calei.
        — Você. — Disse em tom incrivelmente seco. — Deveria ir embora. É o que a Juvia acha.
        — O quê?
        — Não bastasse estar querendo roubar o Gray-sama da Juvia, agora quer roubar o Natsu-san da Meredy-san!
        — Desculpe, como? — Nunca havia ouvido coisa mais absurda. — Roubar?
        — Exatamente.
        — Certo, Juvia-chan, olhe aqui... Desde a primeira vez que nos vimos, tenho a "leve" impressão de que você não gosta de mim.
        — Isso é porque você tem olhos desejosos para cima do meu Gray-sama!
        — Não tenho não!
        — Tem sim! Avaliou o Gray-sama desde a primeira vez.
        — Por favor! — Implorei. — Eu vejo o Gray como um irmão mais velho!
        — Então Lucy-san admite que esteve de olho no Gray-sama!
        — Certo Juvia, me ouça. Eu não tenho interesse nenhum no Gray. Você pensar isso só prova o quanto é insegura a respeito de você mesma e não tem confiança que os sentimentos dele sejam honestos.
        Retesou-se, olhando-me chocada e surpresa.
        — Juvia não... desconfia dos sentimentos do Gray-sama.
        — Não mesmo? — Indaguei. Eu devia essa ao Gray. Ele que me animou quando ocorreu aquele acidente com o Sting. Arrumaria as coisas para ele ou pelo menos deixaria mais fácil.
        — Então por que enlouquece toda vez que ele está perto de alguma garota? Por que envia tantas mensagens e liga tanto para ele? Por quê?
        — Juvia....
        — Isso não mostra que você é insegura sobre você mesma e a relação dos dois?
        — Juvia não...
        — Se continuar desse jeito, Gray vai realmente se afastar de você. — Conclui, fria.
        Observei sua expressão mudar. Primeiro o choque, em seguida a surpresa, a confusão, angustia, tristeza e, por fim, a razão. Lágrimas começaram a rolar por sua face e ela tentou limpá-las em uma tentativa falha. Cobriu o rosto com as mãos e tratou de ceder sobre os joelhos, começando a chorar descompassadamente.
        — Vo-você está certa! — Admitiu. — Se Juvia continuar assim, Gray-sama a odiará!
        Caminhei até ela e agachei, segurando seus pulsos medianamente e forçando-os a se separarem.
        — Deixe de ser boba. O Gray a ama e tenho certeza que, mesmo cansado da situação, continua a amando. Só tente não ser tão possessiva, okay? — Sorri para ela, que tinha as bochechas levemente corada.
        — Lucy-san... É realmente uma boa pessoa, não?
        — Eh?! — Surpreendi-me. Andavam dizendo isso com bastante frequência...
        — Por isso que o Gray-sama gosta dela! — Afirmou e foi minha vez de corar. — Ele jamais amaria alguém como a Juvia, que tentou afogar uma amiga de infância dele.
        — Eh?! — Repeti, desta vez chocada. Ela tentou afogar alguém?
        Okay. Eu simplesmente esqueço que eles são, no fim, parte da máfia.
        ... E que namoro o líder deles.
        Oh céus! O que estou arrumando para mim?
        — Lucy? Juvia? — Indagou o dito cujo, aparecendo no corredor. Lançou um olhar interrogativo para nós, avaliando nossas posições e observando fixamente o rosto de Juvia.
        — Gray! — Exclamei. Ele correu em nossa direção, passando diretamente por fim e segurando os ombros de Juvia.
        — Hey! Juvia! O que foi?
        — Gray-sama! — Guinchou, abraçando-o e enfiando sua cabeça no peito dele. — Desculpe a Juvia, por favor!
        — Pelo quê? — Indagou confuso.
        — Por tudo! Juvia tem sido muito obsessiva e chata ultimamente! Lucy-san a fez enxergar isso! Não quero que o Gray-sama me deixe!
        Arregalou os olhos, surpreso. Soltou um suspiro satisfeito, deixando um sorriso escapar pelos lábios.
        — Tudo bem. Fico feliz que tenha entendido isso. — Levantou seu queixo depositando um beijo nos lábios da azulada.
        Ela enterrou o rosto no peito dele, ainda fungando. Levantei-me com a intenção de afastar-me, e pude vê-lo murmurar um "obrigado" em minha direção. Acenei afirmativamente com a cabeça e segui em frente.
        Caminhei até uma distância segura e desabei no chão.
        Também queria que alguém me abraçasse daquela forma. Com o mesmo carinho e ternura.
        Aquele dia estava chegando...
        Ter meu ex aqui faria um bem danado. Geralmente nessa época, ele fazia de tudo para me animar...
        Sim, seria bom tê-lo por aqui.

Meu Estranho MafiosoWhere stories live. Discover now