Capítulo 60

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- Diz logo doutor, o meu avô ta bem? - Perguntou Dulce, aflita.

O médico os olhou com ternura, não era uma coisa fácil dar esse tipo de notícia, ainda mais vendo a esperança nos olhos de cada um.

- Ele acordou, mas as notícias não são muito boas. - Dulce segurou-se mais forte em Christopher, temendo o que viria a seguir. - Como eu disse, seria quase impossível não haver seqüelas, parte de seu rosto ficou torto, olhos caídos, boca torta, e dificuldades de audição. Também a um quadro de confusão, está com dificuldades de lembrar o que houve, e está com dificuldades na fala.

Dulce já estava chorando forte de novo. Seus olhos estavam inchados e as olheiras cresciam em baixo dos olhos, uma noite sem dormir e um turbilhão de notícias ruins. Seu avô era um homem alegre, feliz e apesar de tudo o que fez no passado, não merecia passar por isso. Ela tinha compaixão, e sabia que Fernando e Blanca também teriam.

Ninguém merece sofrimentos assim, mudar toda sua vida, ter consequências para sempre. E para piorar, Henrique nem sabia que ela estava ali fora rezando por sua melhora, que em seu coração ele já estava perdoado.

Mas Dulce também não sabia, que essas não haviam sido as únicas armações de Henrique. Christopher não tinha coragem de contar a verdade a Dulce, mas a culpa batia dentro dele. O homem estava mal, e ele jamais colocaria Dulce contra Henrique novamente. Porém, ser o único a guardar uma mentira deste tamanho incomodava sua mente.

- Ah meu Deus. E o que podemos fazer? Como ele pode sair dessa? O vovô tem dinheiro, ele pode pagar um bom tratamento.

- Nós vamos iniciar um tratamento Dulce, será necessário a Terapia da fala, e Estímulos Cognitivos. Há uma chance de melhora grande, mas precisamos ser realistas, isso pode levar um tempo.

Um tempo. E quanto tempo ainda resta para Henrique? Já é um senhor de idade, trabalhava muito, passou por alguns sofrimentos. Será que conseguiria se recuperar de um baque como esse? Dulce não queria pensar nisso, mas era quase impossível, Henrique estava frágil e "levar um tempo", é muito relativo.

- Nós podemos vê-lo? - Foi a vez de Christopher perguntar, estava tão abatido quanto Dulce.

- Ele está na UTI, o certo é somente uma pessoa por dia poder entrar, mas hoje vou deixar os três entrar um de cada vez.

- Ah não. - Fernando se manifestou. - Não irei entrar.

Dar apoio a Dulce era o certo de um pai fazer, mas esquecer tudo que Henrique fez com Fernando e Blanca era uma coisa bem difícil. Não queria vê-lo, não tinha vontade de encontrá-lo novamente.

- Tudo bem, quem vai primeiro?

Dulce seguiu o médico até a ala da UTI, precisou colocar roupas especiais, e depois pode entrar. Havia várias macas por ali, pessoas entubadas, outras dormindo ou em coma, ela não sabia. Mas era um clima ruim, nunca tinha entrado em um lugar assim antes.

Parou em frente a uma cortina branca, o lugar em que o médico lhe indicou que Henrique estaria. Abriu a cortina devagar. Encontrou o avô com muitos aparelhos grudados pelo corpo, a cabeça infaxada, e o olhar perdido.

Estava exatamente da maneira como o médico disse, um dos olhos estava caído e a boca estava torta. Doía tanto vê-lo assim, mas Dulce precisa ser forte e não chorar. Se aproximou mais, e então Henrique virou-se para olha-lá melhor.

- Oi vô. - Não tinha certeza se ele poderia ouvir, então foi se aproximando mais até chegar bem perto dele. - Eu estou aqui, vai ficar tudo bem ta bom?

- E.. E.. - Henrique não conseguia completar a frase, havia um tubo de oxigênio na sua face, dificultando ainda mais a fala.

- Shiii, não fala nada. Eu estou aqui vovô, desculpe por tudo que fiz, pelo meu ataque de loucura. Já passou, estou do seu lado, vamos sair juntos dessa. - Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto do senhor, demostrando que de alguma maneira conseguia entender o que ela dizia.

A proposta.Where stories live. Discover now