Capítulo 46 - Lembranças: Parte 23

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Sem chão sob os meus pés. Essa era a sensação que eu tinha depois da revelação que Fernanda acabara de me fazer. Isso não pode ser verdade. Como Davi seria capaz disso? Porque eu não entrei naquele quarto? Como ele teve coragem de vir até mim e ainda transar comigo depois disso? Eu estava tonto, tinha a sensação de que ia cair. Me apoiei no encosto do sofá.

- Theo! - Exclamou Davi. - Tá tudo bem? - Junto com a pergunta ele pousou uma de suas mãos no meu ombro esquerdo.

- Não me toca! - Gritei, girando meu corpo para me livrar do contato com ele.

- Calma Theo! - Pediu Fernanda. - Vão ouvir.

- Calma? - Perguntei. - Tu quer que eu tenha calma depois de me dizer uma coisa dessas?

- É que eu não acredito.... - Ela olhou para Davi. - ...que tu veio aqui e não contou. Não foi isso que tu disse que ia fazer Davi. Tu falou que ia tentar resolver. Aí chego aqui e vejo vocês dois aos risos... 

- Cala a boca! - Falei, alto demais. - Cala a boca, garota! - Repeti quase gritando, novamente.

- Theo fala baixo. - Pediu Davi. - Vão ouvir.

- Fala baixo é o caralho! - Gritei. - Ah... Cala a boca tu também! - Disse.

- Tu não vai querer que ninguém saiba disso. - Davi me alertou.

- Que vocês dois são uns nojentos, desprezíveis? - Perguntei retoricamente. Ao olhar para Fernanda vi que ela chorava. - Ah, quero sim! 

- Não quer não! - O tom de voz que Davi usou foi bastante ameaçador. Franzi o cenho ao encarar ele, incrédulo. - Não quer. - Ele enfatizou olhando nos meus olhos. Meneei negativamente a cabeça, olhando para ele. Levei minhas não ao rosto, ainda atordoado. Não entendi o que Davi queria com aquele tom. Meus olhos queimavam, querendo chorar. Que ódio! - Saiam daqui.

- Vamos conversar, Theo! - Pediu Fernanda.

- Tenta te acalmar. - Insistiu Davi.

- Vocês são loucos? - Perguntei, abaixando as mãos que escondiam meu rosto. Junto com elas, desceram as lágrimas que não pude mais segurar. - Vocês não estão entendendo? Eu não quero ouvir a voz de vocês. Eu não quero ver vocês. E também não quero que olhem na minha cara. Nunca mais! Agora, se não for pedir demais, vocês podem sumir da minha frente? - Girei meu corpo, mas parei. - E ah... - Voltei a olhar para Fernanda. - Eu não preciso nem te dizer nada né?! Mas caso tu seja burra o suficiente e não tenha entendido, acabou! - Falei.

- Theo! - Fernanda implorou, suas lágrimas começaram a descer em maior quantidade.

- Não! - Disse Davi, pegando no braço dela. O toque entre eles me causou repulsa. - Vamos! - Ele falou.

Em seguida, silenciosamente dirigiram-se até a porta de entrada. Nesse caso, de saída. As lágrimas escorriam deliberadamente em meu rosto ao olhar para eles saindo dali, juntos. Há quanto tempo será que isso estava acontecendo? Pensei. 

- Há quanto tempo? - Transformei meu pensamento em fala. Os dois pararam, já próximos à porta e se viraram para me olhar. - Há quanto tempo vocês... - Não consegui concluir a pergunta. Pois eles se olharam novamente e fui tomado por um nojo enorme dos dois. - Quer saber? Que se foda! Vão embora!

Fiz um gesto, movimentando a ponta dos dedos com a mão emborcada, convidando-os a se retirarem. Assim que passaram pela porta e a fecharam eu peguei uma almofada, mirei num jarro e fiz menção de a atirar, mas rapidamente pensei no vaso caindo, minha mãe perguntando o que aconteceu, Ninha contanto que Davi e Fernanda estavam lá, perguntas sendo feitas. Eu tinha que assimilar tudo, para definir como faria as coisas. Perguntas erradas poderiam resultar em respostas que eu não queria dar. Então, peguei a almofada, enfiei meu rosto nela e abafei o grito de ódio que dei.

Insônia (Romance Gay)Where stories live. Discover now