Capítulo 26 - Lembranças: Parte 13

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Minha cabeça trabalhava a todo vapor, tentando me tirar daquela situação. Eu estava exigindo demais dela ultimamente. Isso porque todos acontecimentos pareciam caminhar para desfechos onde eu ficava encurralado. Os olhos de Nanda me penetravam exigindo uma explicação. Resolvi responder minha mãe primeiro, para ganhar tempo e poder explicar de alguma forma aquilo à minha namorada. 

- Não, mãe. - Falei. - Ele não vem. 

- Ok! Então vamos pedir. - Ela disse.

Enquanto minha mãe se distraía chamando o garçom para fazer o pedido, girei meu corpo ficando praticamente de frente para Nanda. 

- Depois eu te explico. - Coloquei um sorriso forçado enquanto liberava as palavras. - Quando estivermos a sós. 

A resposta dela veio através de gestos. Suas sobrancelhas franziram, como numa tentativa de se unir. Sua boca ganhou um leve bico, como se ensaiasse o início de um beijo. Sua cabeça meneou de maneira tão discreta, que fora quase imperceptível. Na verdade, não sei se esse último foi um gesto proposital ou apenas um reflexo inconsciente.

O jantar foi dominado pelo esforço de minha mãe em persuadir Fred e Luna, tentando os convencer de que o noivado deveria ser um evento. Brindamos à notícia. Dentro de mim agradecia por meu irmão ter, sem querer, me salvo de um constrangimento percebido apenas por eu mesmo. Usei o tempo também para procurar uma explicação plausível para a revelação que Dona Laura fez para Nanda.

• • • • •

- Então... - Falou Nanda, assim que entramos no meu carro. - agora temos privacidade o suficiente pra tu me explicar porque ontem tu queria partir pra cima de Davi, com toda aquela história louca de achar que ele ficaria comigo, e de repente tá tudo bem e ele quase vem jantar com a gente?

- Tudo bem não. - Eu disse, dando partida no carro. Eu já tinha pensado em toda uma desculpa. Agora era só colocar em prática. - É o que minha mãe achou. Mas de qualquer modo eu tô tentando acertar as coisas com ele. Foi por isso que chamei ele lá. - Coloquei minha mão direita sobre a coxa esquerda de Nanda. - Resolvi seguir teu conselho. Ele não deve ter falado sério...

- Ah... - Ela me interrompeu. - Entendi.

A desculpa pareceu mesmo ter funcionado. Logo mudamos de assunto. Quando chegamos ao prédio de Nanda, ela estranhou quando eu falei que não subiria com ela até seu apartamento, como de costume. Inventei um falso mal estar para que ela não implicasse tanto. Depois de algumas insistências ela acabou me liberando. Mas isso fazia parte de um plano. 

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Tudo aquilo que aconteceu no jantar me incomodou de uma maneira que eu não esperava. Foi um desconforto pelo qual eu não queria passar novamente. Assim que consegui encontrar uma desculpa para explicar a presença de Davi no meu quarto, comecei a usar meu cérebro para pensar num jeito de me afastar da possibilidade de me sentir novamente como naquela noite. 

Assim que minha namorada desceu do carro, o liguei e parti rumo ao apartamento de Davi. Eu tinha que dar um basta naquilo tudo. Caso em nossa conversa àquela tarde eu tivesse deixado transparecer qualquer dúvida, esclareceria de vez as coisas. Eu não queria que tudo que aconteceu na chácara se repetisse. Eu tinha que afastar qualquer desejo. Estacionei em frente ao prédio onde morava meu primo e peguei meu celular. Fui ao Whatsapp e abri minha conversa com ele.

Theo Santos Sá: Davi?

Demoraram quatro minutos entre o recebimento de minha mensagem e a resposta.

Davi Santos: Desculpa primo, tava no banho. Fala aí...

Theo Santos Sá: Ia perguntar se tu tá em casa, mas tu já respondeu.

Davi Santos: E quem disse que eu só tomo banho na minha casa? kkk... Mas eu tô aqui sim.

Theo Santos Sá: kkkk... Tô aqui na frente. Vou subir.

Davi Santos:  O que foi? Aconteceu alguma coisa?

Theo Santos Sá: Não. Nada demais. Falo pessoalmente.

Travei a tela do celular e desci do carro.

• • • • •

No elevador eu respirava lentamente, tentando me acalmar. Eu só precisava falar o que tinha pensado. Que tudo aquilo era um erro, que eu tinha namorada, que eu a amava, que nada ia acontecer novamente. Por mais que meu corpo ardesse só em lembrar. Eu falaria com calma, não me exaltaria. Davi não era o único culpado. Eu permiti. Senti o elevador diminuir a velocidade. Olhei o painel acima dos número que indicava minha chegada ao décimo primeiro andar.

Quando o elevador abriu revelou Davi, que tinha uma toalha branca enrolada à cintura, cabelos ainda molhados e jogados para trás, braços cruzados e seu corpo pendendo para o lado, com ombro encostado à guarnição da porta aberta. Foi inevitável olhar aquela cena de cima a baixo. Senti meu sangue acelerar em minhas  veias, enquanto meu corpo estava imóvel. Por um segundo até esqueci o que tinha ido fazer lá. 

A porta do elevador começou a fechar, roubando minha atenção. Davi arregalou os olhos e franziu o cenho. Segurei a porta com a mão, fazendo-a retroceder. Dei alguns passos até parar em frente ao meu primo, que arrumou sua postura. Nos encaramos por um tempo, sem que nenhum falasse nada. O clima estava estava tenso. Pela expressão de Davi ele sentia o mesmo. Diante da minha falta de palavras ele quebrou o silêncio. 

- Vim te esperar aqui, para que tu não tocasse a campainha. Meus pais já foram deitar.

- Ah... - Minha voz saiu falha. Pigarrei. - A gente pode conversar aqui mesmo. 

- Não. - Ele disse. - Vamos entrar.

- Relaxa. - Falei, enquanto sentia meu coração palpitar cada vez mais acelerado. - Eu vou ser rápido. Eu só vim aqui te dizer que... - Eu parei. Minha cabeça estava uma confusão. As palavras que meu pai falou, as mentiras para minha namorada, Davi ali de toalha com aquele volume protuberante me tirando o ar. Fechei os olhos e respirei fundo.

- Tá tudo bem Theozinho? - Davi perguntou. 

Ainda com os olhos fechados, agitei a cabeça tentando dizer que sim, mas ela me desobedecia tentando ir na direção do não. Fiz uma careta em meio aos movimentos sem sentido, quando senti Davi me tomar em um abraço. Seus braços cruzaram em minhas costas, minha cabeça caiu sobre seu ombro. Eu queria chorar mais não conseguia.

Comecei a sentir os detalhes do corpo de Davi. Meus braços tocavam suas costas nuas. Sua respiração fazia nossas barrigas encostarem e se separarem. Percebi que o coração dele também estava acelerado. Por fim, notei algo mais. Senti que meu pau, dentro da calça, roçava no dele, sob a toalha. Ambos começavam a ficar rígidos.

As nossas mãos, antes espalmadas, começavam a se contrair em apertões. Meu nariz sentia o cheiro que vinha do pescoço de dele. Girei um pouco a cabeça tentando sentir mais de perto, quando meus lábios tocaram sua pele. Ao sentir, Davi deslizou por minhas costas uma de suas mãos, até que ela adentrou meus cabelos. 

Esse  foi o golpe que me fez desistir de lutar. Meus lábios deslisaram lentamente pelo pescoço dele, dando leves beijos pelo caminho. Nossas bochechas se encontraram e, com nossos rostos lado a lado, fazíamos movimentos como numa troca de carícias. Foi, então, que mais uma vez meus lábios encontraram os de Davi. Me entreguei.

Insônia (Romance Gay)Where stories live. Discover now