Capítulo 10 - Lembranças: Parte 05

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Ainda naquele Domingo, lembro que a indiferença de Davi em relação ao que havia ocorrido na noite anterior me deixava um pouco enfurecido, mas ao mesmo tempo me causava certo alívio. Ele agia com maior naturalidade, como se nada tivesse acontecido, enquanto eu estava totalmente travado, sem graça, tentando absorver tudo aquilo. Guilherme e Igor perceberam que eu estava estranho, joguei a culpa na ressaca. Peguei o celular, Nanda havia perguntado que horas eu chegaria, pelo Whatsapp. Culpa, culpa, culpa.

O dia correu na normalidade, porém passei a maior parte do tempo isolado do resto do pessoal. Quando nos organizávamos para voltar a João Pessoa, eu estava sozinho na cozinha, quando Davi entrou. A velocidade com que meu coração aumentou os batimentos pareceu balançar meu corpo. Ele me olhou nos olhos, eu desviei, com medo do que sairia de sua boca. Tudo aquilo ainda era surreal para mim. Então ele falou.

- Precisa de ajuda?

Embora a pergunta tivesse um claro duplo sentido, o tom da voz dele deixou claro o tipo de ajuda que ele oferecia. Sim, eu precisava de ajuda, para entender tudo aquilo pelo que eu estava passando, para entender porque ele estava tão normal, para entender porque ele havia demonstrado tanta habilidade na noite passada. Ele com certeza era experiente no assunto. Me senti traído. Contava tudo de minha vida a ele, porém depois daquela noite vi que não era recíproco. Mas não era com nada disso que ele queria me ajudar, apenas com as sacolas de lixo que eu carregava. 

- Consigo me virar.

Respondi também com um duplo sentido. E fiz questão de olhar de volta em seus olhos, para deixar claro que minha resposta falava justamente da ajuda que ele não tinha oferecido. Passei reto por ele. Pra meu alívio ele resolveu voltar no carro de Igor, com a menina que ele havia ficado o fim de semana. Não sei se aguentaria viajar junto com ele.

● ● ● ● ●

Acabei voltando sozinho. Até se ofereceram para ir comigo, mas preferi que não. Os convenci de que não me importava, pois conhecia bem aquela estrada. Liguei o som do carro, dei partida e peguei a estrada. Meus pensamentos eram companhia suficiente para mim naquele carro. Os acontecimentos da noite anterior ficavam cada vez mais claros, os detalhes, cheiros, sentimentos. Não conseguia me entender, porque tinha feito aquilo, o que estava acontecendo comigo.

Eu pensava em Nanda, em como ela tinha sido suficiente no dia anterior para que eu dispensasse uma menina, mas no mesmo dia não foi páreo para me evitar de fazer aquilo. Era insano. Porque isso agora? De onde surgiu? Porque eu não havia sentido nenhum tipo de atração por outro homem antes? As paisagens passando ao meu lado me davam a impressão de que eu estava parado e o mundo todo corria. De repente, lágrimas surgiam de meus olhos, quentes, incontroláveis.

A inconsistência de minhas ideias me confundiam ainda mais. Eu lembrava que havia sido bom, que eu tinha gostado, mas ao mesmo tempo podava esses pensamentos e tentava odiar ter gostado daquilo. Aquela coisa não tinha como continuar, não para mim, não na minha vida. Foi um erro. Certeza que foi um erro, um deslize. Um deslize mágico, delicioso, esplêndido. Uma noite como eu jamais antes passara. Eu necessitava daquilo novamente, para entender melhor. Droga!

A cidade surgia no para-brisa do carro e eu não conseguia chegar a nenhuma conclusão, pelo menos inicial. Não sabia se o que aconteceu me tornava gay.Todo tipo de loucura passava em minha cabeça, até as mais absurdas. Como seria ficar novamente com minha namorada com aquilo na cabeça? Era possível eu não gostar mais de mulher? Eu descobriria isso mais rápido do que desejava, ainda aquela noite. Prometi a Nanda que sairia com ela quando chegasse.

Insônia (Romance Gay)Where stories live. Discover now