Capítulo 24 - Lembranças: Parte 12

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Os olhos azuis de Davi não se fixavam por mais de um segundo em algum ponto, como se sua cabeça maquinasse à procura do que dizer. Mais uma música ia embora, outra chegava. Ele transparecia tensão e arrependimento em ter falado mais do que devia. Então finalmente fixou seu olhar em um ponto: meus olhos.

- Porra, Theozinho... - Ele tentou iniciar alguma frase, mas desistiu. Embora eu estivesse me corroendo de curiosidade pelo assunto que, sem querer, ele deixara escapar, tentei acalmá-lo. 

- Deixa quieto. - Falei. - Não precisa falar.

- Não. - Ele exclamou. - É que Diego e eu fizemos um pacto de segredo. Mas agora que comecei não vou te deixar curioso. Nem quero que tu tire conclusões erradas. 

Não quer que eu tire conclusões erradas? Até parece que ele estava dentro de minha mente, pois, embora eu não quisesse admitir para mim mesmo, além de curiosidade aquela revelação despertou em mim um sentimento que eu não queria ter. Não naquele momento. Não por outro homem. Não por Davi. Ciúmes!

- Tu não me deve nenhuma satisfação. - Eu disse, no impulso dos pensamentos. 

Percebi a decepção tomar conta do olhar dele. Gradativamente as reações de Davi me possibilitavam confirmar que, por mais que tentasse esconder ou negar, ele sentia algo por mim. O cuidado com as palavras, a necessidade de se justificar, até seu tom de voz. Tudo denunciava um pouco.

Enquanto isso eu tentava a todo custo levar a conversa na direção desejada por mim para aquele diálogo, que era por um fim naquela história. Meu bom senso travava uma luta interna com sentimentos que eu percebia nascerem em mim, mas meu ego não queria aceitar. Minha consciência era movida pelo medo do que tudo aquilo poderia se tornar. 

- Se tu não quiser saber... - Ele iniciou.

- Não é isso. - Tentei amenizar. - É que... - Parei procurando uma desculpa. - Tá bom. Fala. - Me rendi, perdendo uma batalha. Ele forçou um sorriso que não me convencia de que ele realmente queria falar.

- Então... - Ele parou, pensativo. - Tudo começou na noite em que comemos a menina lá...

- Vocês... - Arregalei os olhos ao interrompê-lo.

- Não! - Davi exclamou. - Naquele dia não aconteceu nada entre eu e ele. - Ao falar ele fez sumir de minha cabeça mil cenas que eu já imaginava.

- Ahhh... - Deixei escapar, quase num sussurro. 

- Não aconteceu nenhum ato. - Ele se corrigiu. - Mas Diego me pegou hipnotizado olhando pra o pau dele enquanto a garota lá chupava ele. - Respirei fundo ao sentir minha circulação sanguínea aumentar a velocidade. Ele fez uma leve careta. - Só que ela parou pra ajeitar o cabelo, que tinha se soltado, e eu dei a bobeira de continuar com o olhar fixado no lugar errado.

- Tu continuou olhando... - Mesmo com o som ligado, cochichei para completar a pergunta. - ...o pau dele? - Ele respondeu meneando positivamente a cabeça. - E aí? - Perguntei.

- E aí que ele segurou o pau e começou a balançar.  - O volume em minha sunga, por baixo da toalha, começou a aumentar. Reposicionei o travesseiro no colo. - Eu achei que os movimentos eram para chamar minha atenção, mas não tive coragem de encarar ele. Passei o resto da transa me policiando. Depois disso o assunto morreu. Ninguém falou nada por um bom tempo.

- Até que... - Falei.

- Até que... - Ele parou, rindo da minha curiosidade, repentinamente, sincera. - Chegou o aniversário de Toninho. Aquele do quiosque na praia, lembra? - Ele perguntou apontando para meu antebraço direito. 

Insônia (Romance Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora