Capítulo 30 - Lembranças: Parte 15

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Vi o brilho nos lindos olhos azuis de Davi sumir. Seu olhar se aturdiu, tornou-se fosco. Senti seu corpo parar de forçar contra minha mão espalmada em seu peito. Inclusive, ele deu um passo para trás, para deixar ainda mais claro que não mais tentaria avançar para cima de mim. Abaixei a guarda. Não me sentia bem em fazer aquilo, ainda mais depois de ter tido com meu primo um sexo tão incrível, com um prazer eu eu jamais consideraria sentir.

Meu medo era que ele se sentisse usado, para depois ser descartado, como lixo. Sentia meu coração diminuir dentro do meu peito. Porém, por outro lado minha cabeça pensava na possibilidade de que eu também houvesse sido usado. Avisei que estava chegando. Davi teve tempo suficiente para colocar uma roupa, mas resolve me esperar de toalha, na porta de casa. Mais confusão em minha mente. Conturbado, não aguentei mais encará-lo. Então, olhando para baixo falei:

- Desculpa! - Respirei e continuei. - Eu sei que tu deve tá me achando um louco.

- Não, relaxa. - Ele falou, num tom de voz brando. Voltei a encará-lo, então, notei uma leve esperança dominar seus olhos e um discreto sorriso nascer no canto de sua boca, com algo que ele lhe ocorrera. - Talvez seja só a sensação pós-gozo. As vezes, quando fazemos coisas assim, mais fora do que seria correto...

Ele tentava arranjar qualquer justificativa para minha reação. Usou como argumento algo que, em minha cabeça, eu já havia suposto. Mas não, embora isso ajudasse, o meu arrependimento envolvia muito mais coisas do que um simples sentimento de culpa pós-sexo. As palavras que algumas horas atrás eu ouvia sair da boca do meu pai, na mesa do restaurante, talvez justificasse melhor... não sei, só sei que era algo bem maior, que me causava medo.

- Não! - O interrompi, fazendo uma careta e chacoalhando a cabeça negativamente. - Não é nada disso. O fato... - Parei, pensando em como falar sem machucar meu primo. À essa altura era algo que eu não queria. Dei uma daquelas longas respiradas. - Isso não tá certo, Davi. Não tá! A gente é primo, quase irmãos. - Ele abaixou a cabeça. - Eu tenho namorada, porra! - Falei num tom de lamentação, sentido um aperto no peito ao ouvir minha voz pela primeira vez externar isso.

- Mas Theozinho... - Davi mais uma vez se aproximou. Não ouve tempo para reação. Ele segurou meus ombros. - Ninguém precisa saber disso. Vai ser um segredo nosso. 

Arregalei meus olhos, atordoado com a proposta. Agitei meus braços, me liberando de suas mãos e, em seguida, dei alguns passos para a frente, passando por ele, que girou seu corpo me acompanhando com o olhar. Minha cabeça estava a mil. Ele só pode estar louco. Não deve ter falado sério. Que proposta é essa? Ele pensa que eu sou como Diego? Ele pensa que eu sou gay? Ele tá muito enganado.

- Tu tá de brincadeira? Tu ouviu o que tu acabou de falar, Davi?- Perguntei retoricamente. Em seu rosto percebi o constrangimento que deixou claro que ele falava sério com essa proposta. - Tira isso da tua cabeça. Isso foi um erro nosso, certo?! 

- Desculpa, eu só achei que... - Davi iniciou.

- O que quer que tu tenha achado, achou errado. - Interrompi, novamente. - Eu vim aqui justamente pra dizer que não quero que fique um mal entendido entre nós, não quero me afastar de tu, mas nada disso vai acontecer novamente. Nem era pra ter acontecido agora. - Levei minhas mãos à cabeça percebendo a dimensão que meus atos tinham.

- Tu não gostou? Não foi bom? - Ele perguntou.

- Não é questão de gostar. - Falei desconversando, para não dizer o que ele queria ouvir. Eu tinha adorado. Foi ótimo! Perfeito! de longe o melhor e mais gostoso sexo da minha vida, até aquele dia. Mas, por enquanto, eu não assumiria isso nem para mim mesmo, quanto mais para ele. - Eu tenho planos, um namoro de anos, quero ter filhos, uma família. E isso - Apontei para a cama dele. - não se encaixa em nenhuma dessas partes.

Insônia (Romance Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora