Capítulo 17 - Ressaca

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Cheiro de queimado. Pontadas de dor em minhas têmporas. Meus olhos abriram lentamente, à minha frente um teto que não era o do meu quarto. Eu estava acordando, meio perdido. Desci a vista e luz intensa que vinha da varanda me fez semicerrar os olhos. A dor em cabeça aumentou. Olhei de lado, meu pescoço latejou. Tinha dormido em uma posição não muito confortável. Vi minha sala, então as memórias começaram a surgir em minha mente. 

Mais cheiro de queimado. Girei meu corpo, me apoiando no cotovelo empurrei meu tronco e sentei no sofá. Levei as pontas dos três dedos intermediários de cada mão à têmpora do lado correspondente. Olhei para a cozinha, procurando a fonte do odor e lá estava Victor, por trás da bancada, de costas, sem camisa. Lembrei de tudo. Alguma coisa fumaçava e ele abanava como se fosse possível salvar o que quer que fosse. Pelo cheiro que me acordou não tinha jeito. 

- Tá tentando tocar fogo no apartamento? - Falei. Minha voz saiu roca. Victor girou, seu rosto envergonhado.

- Não era com esse cheiro que eu queria te acordar. - Ele levantou a panela com a receita que deu errado. - Ia fazer o almoço pra te agradecer. 

- Agradecer? - Perguntei levantando.

- É o mínimo que posso fazer, depois de ontem. - Ele falou. - Eu não consigo recordar muito bem de tudo que aconteceu, mas lembro do essencial. 

- Esse essencial aí envolve tu querer fazer o elevador de banheiro? - Perguntei ao alcançar a bancada e me apoiar nela.

- Sério? - Ele perguntou. Suas bochechas coraram. Respondi balançando a cabeça positivamente e fazendo bico. Ele escondeu o rosto com as mãos. Olhei a panela, descobri que se tratava de macarrão o elemento tostado naquela panela.

- Tomara que tu se saia melhor na arquitetura. - Ele descobriu o rosto. Apontei o queixo na direção da panela.

- Eu fui um minuto no banheiro... - Ele tentou justificar. Nós rimos, minha cabeça quis explodir. Ergui as mãos para pressionar as têmporas mais uma vez. Victor tornou-se sério e perguntou: - O que foi?

- Ressaca! - Falei, encarando a bancada. - Tu não tá não?

- Eu vomitei, né?! - Tinha realmente um pouco de dúvida na fala dele. - Quando eu vomito acordo novo. Pronto pra outra...

- Inveja! - Soltei a têmpora direita e ergui um polegar me acusando. Nós rimos.

- Quer que eu pegue um remédio? - Ele se ofereceu. - Só dizer onde...

- Não! - Interrompi. - Ainda tô naquele pós mudança. Tá aí mais uma coisa que falta fazer: comprar remédios.

- Então eu posso ir comprar. Tem uma farmácia aqui...

- Relaxa! - Interrompi novamente.

- Porra! - Ele falou em tom de brincadeira. - Tá ganhando pra o Faustão viu? Não consigo terminar de falar nada. - Nós rimos.

- Desculpa. É mais forte que eu. - Me defendi. - Mas é que eu ia falar... Já que o almoço sofreu um pequeno acidente - Apontei a panela. - chamado Chef Victor. A gente sai pra comer alguma coisa, aí já passo na farmácia. Vou só tomar uma ducha e me trocar. - Me virei, indo em direção ao quarto. Girei o pescoço para falar com ele quando senti uma fisgada. - Ai! - Exclamei.

- Tá mauzão mesmo, né?! - Ele falou rindo.

- Rindo da desgraça alheia. - Falei, me virando mais uma vez pra ele. Continuei em tom de brincadeira: - Eu devia era ter te jogado aqui no sofá. Fui dar uma de hospitaleiro... 

Insônia (Romance Gay)Where stories live. Discover now