Capítulo 18 - Lembranças: Parte 09

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Eu fiquei estático ali, olhando pra ele. Não acreditava que Davi estava na minha frente. Eu tinha passado boa parte do meu dia pensando nele, na influência que sua presença, ou até mesmo um mero pensamento sobre ele, andava causando sobre mim. Mas eu não esperava aquilo, tão rápido.

Eu tinha dúvidas a respeito de estar ou não preparado para aquele diálogo, mas resolvi que era melhor arrancar o curativo em uma só puxada. Com a cabeça apontei a direção do meu quarto. Ele entendeu e respondeu assentindo também em silêncio. Dessa vez fui na frente, na tentativa de que meus desejos dominassem a razão.

Era uma tarde de sábado, então, certamente, meus pais, Ciro e Laura, estavam em casa. Além disso Fred e Luna, que são meu irmão e sua noiva, estavam em João Pessoa, por conta do aniversário da minha mãe e também deviam estar por lá. Tinham ainda Cida e Ninha, as duas funcionárias que cuidavam da casa.

Por isso, quando chegamos ao quarto, fiquei na entrada aguardando que Davi entrasse e, assim que ele passou, fechei a porta na chave. Liguei minha caixa de som da Bose e dei play em uma música aleatória no meu Spotify, apenas para abafar um pouco o som de nossas vozes e prevenir contra possíveis ouvidos curiosos, ou não, que passassem pelo corredor.

Eu me encostei na mesa de leitura, Davi sentou na beira da cama. Eu mantinha meu olhar distante, encarando algum ponto invisível próximo à entrada do meu closet. Não sabia se Davi me encarava ou não. Embora eu estivesse com pressa para resolver aquilo, não tinha coragem o suficiente para iniciar o diálogo. Para minha sorte ele falou.

- Então... - Ele parou e pigarrou. - Como tu tá se sentindo? - Não ajudou muito. Ele jogou para mim a responsabilidade de falar. Pensei um pouco procurando o que eu poderia dizer. Até que encontrei uma palavra.

- Estranho. - Assim que falei minha cabeça foi bombardeada com flashes da noite em questão. Relembrar aquilo, ali, com Davi do meu lado me embrulhou o estômago. Parecia algum tipo de tratamento de choque. Me arrependi de ter aceitado aquela conversa. - Mas eu pensei um pouco. Aquilo foi um erro. Melhor fingir que não aconteceu.

- Não vai funcionar! - A afirmativa saiu quase como um ultimato da boca de Davi, o que me fez o encarar. Conseguindo meu olhar, ele continuou. - Não se tu gostou.  - Franzi levemente o cenho. - Tu gostou? - Me mantive calado, mas eu sabia que a resposta era sim. - Tu tem pensado no que aconteceu? - Mais uma vez silêncio, mas eu sabia que havia pensado todos os dias, em todos os momentos, depois daquela noite. - Tu sentiu vontade de repetir? - Eu queria agarrar ele ali, naquele momento. 

- Deve ter um jeito... - Pensei em voz alta. - Como tu sabe que não vai funcionar? - Perguntei, confirmando as possíveis suspeitas dele, de que minhas respostas seriam positivas para todas as perguntas que ele me fez.

- Porque já passei por isso. - Seu olhar ganhou uma tristeza que me causou comoção e medo. - Por isso sei que não vai funcionar.

- Eu... - sinto muito, ia dizer. Mas parei de falar quando lembrei que tudo aquilo só tinha acontecido por culpa dele. Ele me tocou. Ele me seduziu. Ele me mostrou algo que eu não conhecia. - Por que tu fez isso comigo? - Levei minhas mão à cabeça, deslizando-as pelos meus cabelos e as pousei em minha nuca. Caminhei até a cama e sentei do lado dele, sem o encarar.

- Desculpa! - Ele falou. Eu olhava minhas mãos, que agora estavam apoiadas em minhas coxas. Davi então levantou sua mão esquerda e pousou sobre a minha mão direita. Fez um leve carinho e repetiu. - Desculpa! - Num reflexo puxei minha mão. O encarei e seu rosto tinha uma expressão de aflição. Percebi que havia sido rude.

Insônia (Romance Gay)Where stories live. Discover now