Capítulo 21 - Herói

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Um zumbido agudo perturbava meus ouvidos. Cada milésimo de segundo parecia uma eternidade. Voltei a olhar pra o revolver a tempo de ver a fumaça saindo. Abaixei a cabeça procurando no meu corpo o lugar em que eu havia sido atingido. Talvez a adrenalina do momento não tivesse me deixado sentir a dor. Não conseguia ver sangue.

Ainda com a cabeça abaixada comecei a erguer o braço para entregar meu celular ao assaltante, que gritava algo que eu não assimilava. Levava minha outra mão ao bolso para pegar a carteira, tentando dar fim o mais rápido possível àquela situação. Foi quando ouvi o som do motor de uma motocicleta acelerando se aproximar cada vez mais.  

Instintivamente ergui a cabeça olhando na direção do barulho, que também chamou a atenção do ladrão. Alguém vinha com tudo na nossa direção pilotando outra moto. Foi tão rápido que eu só consegui dar dois passos pra trás como autodefesa de algo que vi que seria inevitável. O piloto que chegava acertou em cheio o pneu traseiro do veículo em que estava o assaltante, que não teve tempo para agir.

O bandido proferiu um palavão depois do impacto, perdeu o equilíbrio e caiu, junto com a moto que ficou sobre sua perna direita. Por pouco ele não me levou junto ao chão. Na tentativa de se segurar, durante a queda ele soltou a arma que acabou próxima ao meu pé. O piloto da outra moto então chamou minha atenção, quando gritou:

- Vem Theo!

A voz saiu abafada pelo capacete que escondia seu rosto, mas eu reconheceria aquela voz até debaixo d'água. Era Victor. O gemido do assaltante me fez voltar a olhar para o chão. Ele tentava alcançar a pistola, que eu chutei. Eu nunca tinha encostado em uma arma. Era mais pesada do que eu imaginava.

- Theo! - Victor insistiu gritando. - Sobe aqui.

Corri até ele. Tive um segundo de receio antes de subir na garupa, mas ao ver que o bandido conseguira de desvencilhar da moto no chão, levantei a perna e sentei atrás de Victor. Tremendo de medo agarrei sua cintura com mais força do que seria suficiente e gritei pra ele:

- Vai!

Ele saiu em arrancada. Eu sentia a motocicleta tremer um pouco, o que me deixava ainda mais nervoso. Agarrei ele com mais força do que a que eu já usava. Ele virou a primeira esquina à esquerda e, quando olhei para a frente do prédio, vi o tatuado de olhos azuis que mancar ao tentar levantar seu veículo. 

Victor parecia ter bastante habilidade nas duas rodas e cortava caminho entre os carros que apareciam pelo caminho. Meu coração estava prestes a saltar pela boca. Quando chegamos à avenida Agamenon Magalhães, via bastante movimentada, ele parou no estacionamento de uma farmácia. Eu desci, ele fez o mesmo em seguida, apressado.

- Você tá bem? - Ele tirou o capacete da cabeça e o que estava em seu cotovelo, colocou de qualquer jeito em cima da moto e eles caíram, rolando pelo chão. Ele nem deu atenção. Veio em minha direção e segurou meus ombros, me olhando de cima a baixo. - Eu vi ele atirando. Você tá bem?

- Acho que não pegou! - Falei. Minha voz saiu tremula. - Não to sentindo nada. - Fui olhar para baixo, a fim de fazer mais uma conferência, quando fui surpreendido por um abraço.

- Ainda bem! - Victor falou. Eu conseguia sentir todo seu corpo grudado em mim. - Que medo eu tive. - A voz dele tava sufocada por meu ombro encostado em sua boca. Me senti tão seguro naquele abraço. O cheiro delicioso dele me acalmava. Minha vontade era ficar ali, pra sempre. - Desculpa, Theo. Me desculpa.

Insônia (Romance Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora