Capítulo 45 - Estratégia

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Eu encarava a porta da casa de Victor. A esperança era de que ele a abrisse repentinamente, saísse por ela e me abraçasse dizendo que queria ouvir o que eu tinha a dizer. Mas se passaram um, dois, três segundos e eu desisti de esperar que isso acontecesse. Me virei e, para descarregar a raiva que eu tinha naquele momento eu chutei a lixeira que o pai de Victor havia deixado ali, instantes atrás. 

A lixeira tombou pela rua, e o lixo se espalhou. Levei as mãos à cabeça, ofegante e arrependido de ter feito aquilo. Peguei a lixeira e a coloquei de pé. Peguei um saco preto que tinha caído de dentro da lixeira e o devolvi ao seu lugar de origem. Com o pé tentei juntar outras coisas soltas que estavam espalhadas pelo chão. Foi quando vi algo que reconheci.

Estava rasgada em pedaços grosseiros, mas com um primeiro olhar foi fácil de identificar. Era uma coroa do Burger King, despedaçada. Despedaçado, também, estava o meu coração. Depois de ver aquilo, então... Eu me agachei para ver mais de perto. Peguei meu celular, abri a conversa com Victor no Whatsapp, tirei uma foto e enviei. Em seguida escrevi uma mensagem, com a mesma pergunta que ele me fez quando tentei tirar a coroa de sua cabeça no shopping.

Theo Santos Sá: "Tua mãe não ensinou que é deselegante jogar fora um presente?"

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Se normalmente eu já tinha dificuldade para dormir, imagine com meus olhos ocupados em outra função. Chorar. Por mais que eu tentasse se racional e me controlar, toda aquela situação tinha fugido do meu controle havia muito tempo. E todo aquele choro só me mostrava o quanto eu estava de fato apaixonado por Victor, que por sua vez me tinha como a última pessoa que ele queria ver na face da terra. Eu tinha que dar um jeito de mudar isso. 

Passei toda a madrugada pensando em como fazer isso e também esperando uma mensagem dele, depois que o duplo check ficou azul para as mensagens que o enviei no Whatsapp. Não fui bem sucedido em nenhuma das duas atividades. Mas chorar... Não sabia que existia tanta lágrima no corpo do ser humano. E eu nunca tinha derramado metade da metade dessa quantidade por ninguém. Nem quando fui traído por Davi e Fernanda. Dormi, não notei quando.

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Acordei com olheiras e fui trabalhar. A manhã da terça-feira passou voando com todas as palestras, coffe break, conversas. Até consegui me distrair um pouco. Mas só um pouco. Volta e meia me pegava olhando na direção da sala dos estagiários, esperando que Victor surgisse no corredor a qualquer momento. Mas isso não aconteceu.

Já à tarde o movimento foi mais calmo. Camila assumiu meu lugar nas palestras, a fim de que eu a avaliasse, pois ia precisar que ela apresentasse também no dia seguinte, para que eu pudesse ir à consulta com o nutricionista. Estava tudo correndo bem. A gerente era realmente competente. Eu até tirei um tempinho para ir até a copa pegar um café. Mas antes de entrar no ambiente, ouvi uma voz familiar e parei no corredor, próximo à porta.

- Mas porquê? - Bia perguntava, baixinho. 

- Por vários motivos. - Ouvi a voz de Victor, também cochichando. Esse som que fez meu coração acelerar. Me encostei na parede e me aproximei o máximo possível da borda da porta, mantendo uma distância segura para que eles não me vissem. 

- Que são... - Insistiu Bia. Por dentro eu agradeci, querendo saber sobre o que era a conversa. O que eu estava fazendo, ouvindo por trás da parede, não era certo, mas cheguei a um ponto em que meu foco era o resultado, não importando mais o que eu tivesse que fazer para esclarecer todos os mal-entendidos. 

Insônia (Romance Gay)Where stories live. Discover now