02 - Party

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Zayn acordou cedo no dia seguinte. Na verdade, mal dormira, pensando no que havia acontecido, nos sons e frases dizendo que o Governo mentia sobre a Delíria. Ao ser levado para fora da sala, ele viu que não era apenas na sua que aquilo havia acontecido, mas sim em todo o prédio, até na recepção, onde outros garotos ainda esperavam para suas entrevistas. Ele ouviu dois membros do Governo com os dentes cerrados gritando para que a transmissão fosse cortada, mas ninguém aparentemente havia conseguido fazer isso.

Todos os garotos foram levados para casa por carros particulares do Governo, cinco em cada veículo, mas Zayn não teve sorte de encontrar Louis. Em casa, eles haviam se falado rapidamente por telefone e Louis disse que não havia tido tempo de ser entrevistado, mas sem tocar no assunto do ataque. Ele tinha uma neura de que o Governo tinha acesso as ligações e ouvia todas as conversas, e por mais que Zayn não acreditasse naquilo - o Governo queria ajudá-los, não prejudicá-los -, o respeitava.

Mas o ataque não saiu da mente de Zayn. Antes mesmo do Governo emitir um comunicado na sexta à noite, ele já desconfiava que era obra dos Inválidos. Portland - assim como todas as outras cidades - era envolta por uma cerca de pedra e havia os mais diversos boatos do que haveria do outro lado, principalmente os Inválidos. Eram fugitivos que preferiam ficar à mercê da doença do que passarem pela cura. Eventualmente, planejavam ataques na tentativa de derrubar o America Sem Delíria, responsáveis pela cura, e Zayn os detestava, mesmo sem conhecê-los. Ele nunca entenderia porquê alguém preferia arriscar-se a contrair o vírus e morrer, mas cada um teria livre arbítrio para decidir isso. Os Inválidos não tinham direito de tirar isso do resto das pessoas.

E, por fim, o guarda que o levara até a sala de entrevista também ocupava parte de seus pensamentos. Na escola, tinham aulas sobre os sintomas da Delíria e Zayn aprendera que a forma de olhar poderia ser um grande indicador. E ele sentia que o guarda havia olhado-o diferente. Mas será mesmo? Ou era apenas algo da sua cabeça? Ele nem mesmo o conhecia, para saber se ele era pelo menos gay ou se ainda não havia passado pela cura. A política de Portland permitia aos habitantes que desejassem seguir carreira militar estagiassem a partir dos dezesseis anos, de modo que muitos começavam bem antes de estarem propriamente curados.

Zayn respirou fundo, afastando os pensamentos e levantando da cama.

— Bom dia — falou para Alex e Will ao chegar na cozinha, depois de tomar banho, e bagunçou de leve os cabelos louros de Mads, sentando-se ao seu lado na mesa. Will retribuiu o cumprimento e Alex serviu ovos no prato do marido, que sorriu para ela; e depois fez o mesmo no próprio.

— Ovos? — perguntou ao irmão, sentando-se em seu lugar e Zayn negou com a cabeça, colocando fatias de queijo em seu pão. — Dormiu bem? — Zayn assentiu, mordendo o pão.

— Que loucura esse ataque ontem, não?! — Will falou, olhando o cunhado. — Você já havia passado pela entrevista? — Ele havia trabalhado até tarde - era Engenheiro Civil e estava construindo um novo espaço à pedido do Governo - e não havia chegado até a hora em que Zayn fora dormir.

— Sim, estava no fim. Acho que eles iam apenas confirmar que em breve eu receberia meu pareamento, mas a confusão começou nesse momento. — Zayn explicou. — Mas acho que deu tudo certo, pelo menos foi a impressão que os entrevistadores me passaram. - repetiu o mesmo que havia dito a Alex quando chegou em casa, sem mencionar que a mãe havia sido o foco da entrevista em certo momento. Era doloroso lembrar que ela preferiu se matar a tentar passar pela cura mais uma vez.

— Vai dar tudo certo! — Will sorriu. — Lembro que eu estava muito nervoso na minha entrevista, principalmente porque demorou bastante tempo até eu ser pareado com alguém. Pensei que nunca conseguiria. — sorriu e olhou para Alex, que retribuiu, e depois voltou a olhar para Zayn, que assentiu e também sorriu.

DELIRIA NERVOSA [• ziam] [✓]Where stories live. Discover now