O Aviso de Catarina

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O despertador ao lado da cama de Amanda havia tocado pela quarta vez quando a menina resolveu levantar. Se espreguiçou, desligou o despertador e levantou de onde estava deitada.
Enquanto lavava as mãos após ter ido ao banheiro, sorriu diante do espelho ao ver sua imagem refletida. Se alegrou ao lembrar que ela e suas amigas haviam dado um ponto final para todo o tormento que sofreram durante todos os meses passados.
Com o pijama ainda no corpo, ela foi até à cozinha tomar café da manhã para calar o estômago que roncava de fome.
A menina abriu o pacote de pão e passou manteiga com uma faca, em duas fatias. Vasculhando a geladeira, resolveu que beberia um suco de laranja ao invés de preparar um copo de leite com Nescau, como fazia sempre.
Buscou um copo de vidro e colocou sob a pia de mármore. Sacudiu a caixa de suco antes de abrir a tampa. Tudo aconteceu muito rápido, os olhos castanhos de Amanda não conseguiam acreditar no que viam.
Ao invés de sair um líquido amarelado e cítrico da caixa, o que surgiu foram pequenos insetos cascudos de cor escura.
Quando a primeira barata atingiu o fundo do copo de vidro, o restante delas seguiram marchando como um exército.
O copo transbordou de insetos que estavam afoitos e não pararam de se movimentar e de debater suas pequenas patinhas.
O grito que Amanda deu fez com que todos da casa levassem um susto e fossem à cozinha para verem o que estava acontecendo.
A cena que presentearam foi cômica para o irmão mais novo da menina, que não conseguia se conter e começou a rir da situação e da reação da mãe e da madrinha de Amanda.
Havia dezenas de baratas correndo para fora do copo e caminhando pela pia. Em desespero, a menina jogou a caixa de suco para o alto e o restante de baratas que estavam lá dentro, voaram pela cozinha à fora.
- Socorro! Alguém tira esses bichos daqui! – a madrinha de Amanda gritava.
- Que nojo! – a mãe dela gritou.
- Faça alguma coisa, Matheus!
O irmão mais nova da menina seguiu a ordem e tentou se livrar do copo cheio de bichos.
Entre vassouradas, gritos e chineladas a manhã na casa de Amanda foi marcada por aquele acontecimento incomum. Repugnante e incomum.
Logo ela se lembrou da caixa desenterrada e de todas as coisas ruins que aconteceram com ela e com suas amigas.
''Será que o tormento ainda não havia acabado?'' ela pensou alto.

***

Giovana sempre se atrasava para os encontros que marcava. Sejam eles uma festa de aniversário de algum conhecido, uma ida ao cinema em um Shopping com as amigas ou até mesmo um simples almoço que havia combinado com sua mãe.
Salete estava esperando sua filha em um restaurante para almoçarem juntas, mas como o esperado, Giovana estava atrasada e ainda nem havia tomado banho.
Com pressa, ela entrou no ''box'' do banheiro e abriu a torneira para que a água quente cobrisse seu corpo. Enquanto cantarolava, ela ia se ensaboando e lavando o cabelo com shampoo. Enquanto a água molhava todo o seu cabelo, um barulho estranho a fez abrir os olhos.
A luz tinha se apagado. O banheiro estava na escuridão.
Em sua cabeça pairava a ideia de que talvez o chuveiro havia queimado.
Então puxou a toalha e enrolou em volta do próprio corpo. Com os pés molhados, foi com cuidado até a luz do banheiro e tocou o interruptor. A luz ascendeu novamente e aliviada, ela retornou para dentro do ''box''.
O que ela não esperava era que a luz se apagasse novamente.
Com o coração acelerado, se cobriu novamente com a toalha e ligou a luz do banheiro. Seus batimentos cardíacos se aceleraram mais ainda ao ver o que estava escrito no espelho embaçado pelo banho quente que tomava.

'' DEVOLVA-ME''

A jovem engoliu em seco e sentiu seu corpo tremer ao ler aquilo no espelho. Ela não tinha dúvida. Era Catarina dando mais um sinal de que ainda não estava satisfeita com o que elas haviam feito.

***
Na tarde daquele mesmo dia, Amanda e Giovana resolveram compartilhar o que haviam acontecido com elas pela manhã. Ambas mandaram mensagens para um grupo no Whatsapp.

''Amanda enviou: Meninas, algo muito estranho e nojento aconteceu comigo hoje. Precisamos nos encontrar.

Anna enviou: O que houve, Amanda?

Giovana enviou: Acho que não foi mais estranho do que aconteceu comigo...

Letícia enviou: Como assim? Vocês estão me dando medo. Digam logo o que aconteceu!

Giovana enviou uma foto''


A foto de um espelho embaçado com a palavra ''Devolva-me'' foi enviada para o grupo. Assim que viram a foto, resolveram que deveriam se encontrar o mais depressa possível. Antes que algo mais perigoso acontecessem com elas.

***

O grupo havia marcado de se encontrar no mesmo local onde haviam enterrado a caixa misteriosa. A maldita caixa que havia revirado a vida delas de ponta à cabeça. Assim como a caixa de Pandora, quando elas abriram a caixa, algo paranormal foi libertado. Apesar de conhecerem o passado da antiga dona, ainda assim não conseguiam compreender o porquê da perseguição continuar acontecendo. Não conseguiam entender o motivo para que aquela história não tivesse um fim.

- Eu não conseguia acreditar no que estava vendo... Um monte de baratas saindo daquela caixa. Foi nojento e assustador.
Anna torceu o nariz com o que Amanda havia contado à elas.
- Só de me lembrar me tremo toda – ela se arrepiou ao relembrar das dezenas criaturinhas andando pelo chão da cozinha.
- Isso foi nojento, mas o que eu vi não chega perto disso.
- Tem certeza que não foi alguém que escreveu isso? Para fazer uma pegadinha com você?
- É impossível, Lê. Eu estava sozinha em casa e minha mãe jamais faria isto, até porque ela nem sabe do que está acontecendo com a gente...
- E não tem como ser mentira. Temos a foto que você nos enviou. Realmente está escrito ''devolva-me'' – Amanda observou pensativa enquanto se apoiava em um tronco de uma das árvores que as circundava.
- É impossível isso! Já não devolvemos essa porcaria para ela? O que mais ela quer?
Para a surpresa das três amigas, Anna se enfureceu e começou a chutar toda a terra que cobria a caixa que haviam enterrado.
- O que mais ela quer da gente? – Anna gritou enquanto chutava a terra.
Giovana e Letícia trocaram olhares entre si assustadas com a atitude da colega.
- Calma, Anna! – pediu Amanda.
- Calma? – Anna arregalou os olhos – Você está me pedindo calma? Primeiro eu quase morro enforcada por aquele colar, depois Giovana quase sofre um acidente de carro e hoje essa mensagem é deixada no espelho do banheiro da Giovana. O que mais vai acontecer? Vamos ficar de braços cruzados sem fazer nada, esperando essa alma, ou sei lá o que seja, ganhar mais força e tentar nos machucar de verdade? Vamos ficar paradas até esperar alguma de nós...
Ela não completou a frase. E também não era preciso que o fizessem pois as outras amigas haviam entendido o recado.
O que quer que havia despertado de Catarina, estava ganhando força a cada dia que se passava. Anna estava certa, se não conseguissem devolver os objetos algo pior poderia acontecer com elas.
Anna resolveu desenterrar a caixa e o grupo resolveu que guardariam na casa de Letícia até encontrarem a resposta que estavam procurando.
Até conseguirem devolver os objetos para quem realmente era o dono. Mas o tempo estava esgotando e a alma de Catarina estava enfurecida. Elas deveriam se apressar ao encontrar a resposta para aquele enigma.    

Perseguição SombriaWhere stories live. Discover now