Quebra-Cabeça

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- Meu Deus, esse filme é muito bom! - Amanda ria com um pote de pipoca no colo - Não me canso dele.
Todas estavam na casa da Amanda assim como fora combinado. Na televisão passava o filme "As Branquelas" que apesar de já terem assistido diversas vezes, elas nunca se cansavam dele. No sofá, Letícia comia pipoca enquanto Amanda gargalhava com o filme. Giovana estava pensativa e Anna bastante calada.
- Vamos, Anna. Essa parte é a nossa fala - Amanda se ajeitou no sofá e se virou para a amiga esperando que ela citasse uma frase do filme como sempre faziam.
Ao perceber que Anna permanecia calada, a dona da casa pausou o filme.
- Anna, está dormindo aí?
- Você falou comigo? - Anna olhou para Amanda.
- Não. Com a Rainha Elizabeth. É claro que é com você!
- Foi mal... Eu...
Todas olharam para Anna pois ela não costumava se comportar assim.
- Tá legal - Amanda desligou a televisão e se levantou do sofá ficando diante delas - O que está havendo com vocês? - ela cruzou os braços.
- É, Anna. Se me recordo bem, você disse que tinha algo para nos dizer, mas não disse nada desde que chegamos aqui.
Anna suspirou, fechou os olhos e umedeceu os lábios antes de falar.
- Uma coisa muito estranha aconteceu comigo - ela observou as amigas se entreolharem - Tive um pesadelo horrível onde eu voltava ao local onde encontramos a caixa com os objetos. No sonho, eu estava sozinha e cavava a terra, mas quando abria a caixa o colar não estava lá. Neste mesmo momento uma mulher ruiva usando um vestido branco surgia do nada e balançava o meu colar no ar - ela fechou os olhos e respirou fundo antes de continuar a falar - Disse que era para eu devolver o que era dela, caso contrário nós iríamos ter o que merecíamos - ela sentiu os pelos dos braços se arrepiarem pois contar o sonho fazia com que se sentisse de volta àquele pesadelo.
- Me diz que você leu está estória no site Assombrado.com - Letícia disse.
- Não acabou por aí - Anna continuou, ignorando o comentário da amiga - Quando acordei senti minha garganta queimar e percebi que estava sendo enforcada pelo colar. O mesmo colar do sonho que para meu azar eu havido dormido com ele no pescoço. Se não fosse pelo meu irmão eu poderia estar...
Anna segurou um choro e suas amigas ficaram alarmadas. Amanda se aproximou dela e a amparou.
- Por isso ela estava estranha e nem tocou nos nachos com queijo - disse Letícia.
- Calma, Anna. Já passou.
- Que tenso isso, Anna - Letícia declarou.
- Algo estranho também aconteceu comigo ontem à noite.
Todas viraram a atenção para Giovana que encarava a parede com um olhar perdido.
- Quando saí para jantar com a minha mãe, um cachorro preto e grande entrou em nosso caminho na estrada. Pensei que iríamos matá-lo atropelado, mas felizmente minha mãe freou o carro e quando fomos ver o tal cão não havia nada lá. Era como se ele nunca estivesse existido.
Anna, que olhava para as próprias mãos sob o colo, levantou a cabeça e mirou Giovana. Amanda ficou sem palavras, o que era difícil de acontecer. Letícia deixou o balde de pipoca cair no sofá e ficou boquiaberta.
- Vocês acham que isso poderia ser um sinal? - Letícia perguntou.
- Acho que é coincidência, meninas - Anna falou.
- Coincidência? Claro que não - Amanda declarou enquanto se sentava novamente.
- E então o que seria? - questionou Giovana com certa apreensão.
- Isso é muito estranho. Primeiro Letícia desmaia na festa, depois Giovana quase atropela um cachorro e em seguida Anna tem um pesadelo e é enforcada pelo colar - Amanda olhava para o lustre pendurado no teto enquanto pensava - Só não sei qual seria a ligação entre esses acontecimentos e onde eu me encaixaria nisso tudo.
- São os objetos, é claro! - Letícia exclamou estalando o dedo no ar - Anna estava dormindo com o colar no pescoço, eu usava a presilha no cabelo e acho que Giovana deveria estar usando a tal pulseira.
- Sim, eu estava - Giovana a cortou para confirmar a tese.
- Bingo! - Letícia gritou.
- Mas onde eu entraria nisso tudo?
- Mas é claro... Você usou o anel na escola e pela primeira vez tirou nota ruim em física. Isso não é óbvio?
- Não. São coincidências. Uma série de coisas ruins aconteceram e por acaso estávamos usando nossos objetos e encontrados.
  Anna tentava achar um lado racional para tudo aquilo.
- Você não se ouviu, Anna? Se isto tudo foi por acaso, nem quero imaginar se tivesse sido planejado - Giovana concordou com as idéias de Letícia.
- Caramba, que bizarro! E isso tudo aconteceu depois de termos achado a maldita caixa. Porquê tivemos que descobrir aquilo? Que droga!
Quando Amanda se lamentava, a presença de uma quinta pessoa no local foi percebida quando uma voz branda foi ouvida.
- Vocês não aprenderam que não devem ficar com o que não as pertence?
  Giovana soltou um gritinho e as outras meninas também se assustaram com a chegada repentina da avó de Amanda.
- Que susto, vó! - Amanda declarou levando uma mão ao peito.
- Se levou susto é porque há algo de errado. Me digam o que vocês aprontaram? - a avó de Amanda as lançou um olhar inquisitor.
- Não aprontamos nada... - disfarçou Giovana.
- Apenas desenterramos uma caixa antiga e tomamos posse de tudo oque havia lá dentro, afinal, aquilo era tão velho que a verdadeiro dona já deveria estar morta há décadas.
  A sinceridade de Anna pegou à todos de surpresa.
- Vocês não conseguem ver que isto é grave?
- E porquê seria? - a neta questionou a anfitriã da casa.
- Minha filha - a avó da menina balançou a cabeça perplexa com o que havia escutado - Tomar posse de algo que não é seu e sem o consentimento do dono já é grave, agora, tomar posse de algo que estava enterrado há anos e a provável dona deve estar morta é mais grave ainda.
- A senhora quer dizer que a antiga dona pode se zangar com a nossa atitude? - Giovana perguntou.
- Se a caixa estava enterrada era porque  havia um motivo. Agora, se a antiga dona sentisse ofendida poderia fazer algo contra vocês - as garotas se entreolharam e engoliram em seco - mas se nada de estranho ou incomum aconteceu até agora, então podem se sentir aliviadas. Não é todo fantasma que retém sua energia na Terra em vão. Ou será que algo aconteceu e vocês querem me contar?
  A avó de Amanda não era uma idosa, na verdade era uma mulher conservada para a sua idade. Acima de tudo ela tinha muita fé e acreditava arduamente em seus santos e em uma força superior. Se um espelho quebrado para ela era algo imperdoável de se ter guardado em casa, imagine só o que ela achava de objetos antigos e descobertos sem consentimento  do verdadeiro dono. Para ela isto era tão grave quanto um crime hediondo.
- Não, vó. Fica tranquila. Não nos aconteceu nada de ruim.
- Tem certeza, meu anjo?
- Tenho sim - Amanda mentiu para tranquilizá-la.
- Bom, acredito em você, mas saiba que pode contar comigo para tudo.
  Com tais palavras, uma pontada de culpa feriu Amanda, mas para ela já bastava suas amigas estarem envolvidas naquela confusão. Não queria que mais ninguém se envolvesse.
- Obrigada, vó - a neta a abraçou.
  A jovem senhora as deixou sozinhas novamente na sala e as meni as soltaram o ar que estava preso em seus pulmões.
- Meu Deus, o que foi isso? - Letícia disse.
- Ouviram a avó da Amanda, não é? É melhor não usarmos mais essas coisas -  Giovana disse aflita.
- Que cara é essa, Anna? - Amanda resolveu perguntar ao ver a amiga boquiaberta.
- É que eu esqueci de lhes contar uma parte da história - Anna pegou o colar na mochila e abriu o pingente de coração exibindo as duas fotografias em miniatura - Parece que já sabemos quem pode estar nos perseguindo.
  As outras três garotas arregalaram os olhos em espanto.
Seus cérebros ferviam ao maquinar idéias. Após todas pegarem o objeto em mãos e olharem a imagem, uma delas declarou algo que todas já suspeitavam.
- Esta é a mesma mulher do vídeo! - Letícia gritou.
- E agora o que faremos? - Giovana questionou.
- Simples. Temos que nos comunicar com o espírito.
  Amanda declarou como se aquilo fosse algo fácil e normal.
- Mas como faremos isso? - Anna questionou.
- Eu sei como podemos nos comunicar.
  Elas ficaram curiosas após a declaração de Letícia. Podiam ter o que precisavam em mãos, mas o que não sabiam era que não seria tão simples como imaginavam e depois de receberem a advertência da avó de uma delas, a apreensão só aumentava. Cada uma desejava, dentro delas, nunca terem descoberto a tal caixa que agora estava virando o mundo delas de cabeça para baixo.

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Perseguição SombriaWhere stories live. Discover now