Garoto Intrometido

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  Na biblioteca da escola, o grupo de amigas estava reunido em volta de uma mesa. Amanda estava devorando as fórmulas de um livro de física, Giovana ouvia música e mexia no celular e Anna comia escondida um pacote de biscoito recheado de chocolate quando Letícia chama atenção ao colocar um livro grosso de capa preta e dura sob a mesa.

  - Ai, que susto! - Anna comentou.

  - Pensou que era a bibliotecária te pegando no flagra enquanto come aqui? - Letícia riu.

 - Não tem  graça! - a menina respondeu enquanto guardava o pacote no bolso da calça e limpava o dente.

 - O que é isso? - Amanda perguntou curiosa deixando o livro didático e suas anotações de lado.

 - Um livro sobre espíritos que achei na categoria esotérica barra espiritual barra paranormal.
 - Tira esse negócio daqui! - Giovana exclamou.

- Calma! - Letícia riu - Achei coisas que podem nos ajudar.

 Quando ela começou a folhear as páginas do livro, a presença de mais alguém as chamou a atenção.
 - Ora, as menininhas estão lendo coisas de espíritos?

 Quando levaram um susto e levantaram suas cabeças, perceberam de quem se tratava.

- Rodrigo!?

- Olá, Anna! - o garoto cumprimentou - Tudo bem por aqui?

  As meninas se entreolharam e franziram o cenho pois ele apenas conhecia Anna das aulas no laboratório que as demais meninas não frequentavam. A aparência do menino era bem atípica: pele pálida, piercing no septo e cabelo preto com mechas pintadas de azul. Alguns o chamariam de estranho, mas ele era bem popular no colégio e conhecido por das festas em casa, como aquela em que elas foram.
 - Tudo ótimo por aqui, meu filho - Letícia respondeu ríspida.

 - Nossa, calminha! - ele levantou os braços em defesa - Só fiquei curioso pelo livro que as mocinhas estão lendo.

- Que legal, pena que ninguém pediu sua opinião! - Letícia deu outro fora no garoto.

 Ele riu em seco antes de respondê-la.

 - Que bicho te mordeu, garota?

- Verdade. Para quê tudo isso, Lê? Ele só está curioso...

  Anna tentou intervir na situação.

- Ah, então você é a borboleta que caiu desmaiada na minha festa? - o menino lembrou-se dos boatos e fez com que ela larga-se o livro e colocasse a mão na cintura.

- Primeiramente eu era uma fada e não uma borboleta - todos começaram a rir - E segundo: eu não desmaiei por causa da bebida, pois nem bebi. Eu desmaiei porquê...

  A garota começou a gaguejar e suplicou ajuda com o olhar para as amigas.
 - O motivo do desmaio dela é o mesmo que a levou a pegar este livro. Pronto, falei!

- Amanda! - Giovana e Letícia gritaram juntas.

- Como assim? - Rodrigo franziu o cenho.

- É uma história longa, mas primeiro nos diga porque o seu interesse em nós sobre o livro?
- Anna, eu perguntei pois já li 3 vezes. Sei muito bem do conteúdo dele.

- Porquê não me surpreendo? - Giovana pensou alto.

- Mas vão me dizer o porquê deste livro ter algo a ver com o desmaio da borboletinha aí?

- É Letícia para o seu governo. E já disse que era uma fantasia de fada. F-A-D-A! - ela soletrou irritada.

  Todos riram novamente, menos Letícia.

  - É uma história muito longa, Rodrigo - Anna falou.

- Gente, vocês vão mesmo colocar mais alguém nisso tudo? - Giovana questionou.

- Ele pode nos ajudar, Gi. Ele tem cara de que conhece muito bem essas coisas estranhas e paranormais.
- Vou levar isso como um elogio, Amanda.

  Amanda revirou os olhos.

- Vão me contar ou não? - ele cruzou os braços.

 Depois delas se entreolharem e se comunicarem apenas com os olhares, resolveram assentir e contar toda a história para o garoto intrometido. Elas acharam que no máximo ele iria tirar sarro da cara delas e não acreditaria na falácia.

- Sente-se aqui e me ouça.
  Anna puxou uma cadeia ao lado e ele se sentou. Então ela deu início a narração de toda a história desde o início.

***

 Depois de Rodrigo ficar à par de todo o acontecimento, resolveu dizer o que achava daquilo tudo.

- Olha, eu...

- Tudo bem, você não acredita em nós - Giovana se adiantou.

- Não, pelo contrário. Acredito em cada palavra. O problema é que...

- Qual é o problema? - Letícia perguntou.

- O problema é que isto pode ser mais perigoso do que eu pensava.

 Elas se entreolharam apreensivas.
- Se essa mulher realmente está trás de vocês, ela não vai sossegar até conseguir o que quer. E com o passar do tempo, o poder de um fantasma ganha mais força e isto pode trazer consequência catastróficas. Podendo até mesmo levar alguém à...
 Ele não conseguiu completar a frase, então uma delas o fez.
- A morte? - Amanda completou, engolindo em seco.

 Ele assentiu com a cabeça.

- Então, o que devemos fazer?

- Vocês devem se livrar da caixa e dos objetos, Anna.

- Tão fácil assim? - Giovana indagou.

- Bom, pelo menos é o que li neste e em outros livros. Deve-se dar o que o fantasma deseja e essa tal de Catarina certamente quer a caixa e todo o resto que a pertence de volta.

- Então devemos nos livrar dessas coisas o mais rápido possível! Mas como faremos isto? - Anna perguntou.

- Isso eu realmente não sei lhes dizer...

 O fio de esperança que elas carregavam em seus corações se apagou naquele momento.

- Mas o que me intriga é o nome do homem que se conectou com vocês através do tabuleiro ouija.

- O José?

- Esse mesmo, Giovana. Quem será este homem? - Rodrigo levou o dedo indicador ao queixo e ficou com o olhar perdido pelas prateleiras da biblioteca.

 - Não sei quem é, mas sei alguém que pode nos ajudar.

- Quem é essa pessoa, Amanda?

 - Gi, no final da aula iremos ao encontro dela no centro da cidade e vamos solucionar esse mistério de uma vez por todas.

  O fio de esperança que fora rompido, havia se reatado naquele instante. Elas pensaram que talvez nem tudo estivesse perdido.

Perseguição SombriaWhere stories live. Discover now