A Última Página

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  Os corações juvenis batiam acelerados com o que seus ouvidos captaram.

  Conforme iam narrando a história, elas sentiam que estavam sendo teletransportadas para outra época. Pareciam que estavam espreitando tudo o que ocorreu com Catarina. E o fato delas saberem que os acontecimentos narrados foram reais, só deixavam o clima mais tenso. 

  Cada arfada de ar ficava pesada no pulmão. Elas se entreolharam e o silêncio tomou conta do local por um instante, pois logo uma delas incentivou a que estava lendo em voz alta a continuar a leitura tão esperada. Mas o que elas não esperavam era que a dona dos relatos no diário não seria a mesma a partir daquele momento.

- Continua! - incentivou Giovana.
 Anna ficou boquiaberta ao visualizar as páginas brancas seguintes. Seus dedos folhearam cada página mas seus olhos não captaram nenhum rabisco sequer.

- O que houve, Anna? Parou de ler porquê? - Amanda a questionou.
  Anna engoliu em seco antes de respondê-la.
- Não há mais nada escrito.
- O quê!? - Letícia deu um grito.
- Não tem mais nada escrito aqui. 
- Isso é impossível! - Giovana falou.
- Pois então olhem vocês mesmas.
  As outras três meninas arracaram o diário da mão de Anna e confirmaram o que ela havia dito.
 Não havia mais nada escrito. Nenhum um rabisco sequer. 

- Não pode ser! - Amanda lamentou-se.
- Deixe-me ver isto direito - Giovana pegou o diário para si.
 A atenção voltou-se para a amiga mais alta.
- Vejam! Sabia que tinha algo... Mas, está diferente.

  As meninas arregalaram os olhos e levaram as mãos à boca.
- Como assim diferente? - Letícia perguntou curiosa.
- A caligrafia não é a mesma. Não é mais Catarina no diário. Outra pessoa continuou a escrever.

- Me mostre! - Anna pediu.
- Eu também quero ver! - Anna disse.
  Então foi naquele instante que elas entenderam tudo. Bem ali, nas últimas páginas do caderno antigo se encontrava a resposta para todo o mistério que envolvia Catarina. O que elas não esperavam é que o último relato foi feito por outra pessoa. 
- A letra está diferente. Verdade... - Letícia confirmou com os olhos arregalados em espanto.

- Mas como isto é possível? Será que Catarina... morreu? - Amanda disse  a última palavra com dificuldade.
- Só saberemos se continuarmos lendo.
- Então, dei-me isto. Deixe que eu continuo a ler, Gio.
  Assim, com a narração de Anna que o grupo de amigas deram o fim na história de amor de Catarina. Ou pelo menos, isto era o início do fim.

'' Rio de Janeiro, 1 de Outubro de 1880

  Cá estou eu,lendo as páginas deste diário, dias depois da morte de minha irmã Catarina.
  Decerto, confesso que já tinha consciência da sua existência, diário.
  Vosmecê não me eras de total estranheza. Diversas noites à fora, avistava minha falecida irmã lhe preencher com afinco com letras, palavras, suspiros e as vezes lágrimas em suas páginas. Sei que para ela, vosmecê era deveras importante, portanto, sinto que devo dar continuidade no projeto de minha irmã a deixar registrado tudo o que fora ocorrido. Então, sinto que meu dever é transcrever tudo o que houve depois da tentativa de fuga de Catarina. Mas lhe adianto que tudo fora em vão. Devo confessar que tentei impedir que ela cometesse tal tolice, porém não consegui fazer isto. É com dor no peito e ainda em estado de luto que escrevo tudo o que vi e tudo o que não foi escrito em ti, ô estimado diário, que por vezes fora o único confidente de minha querida irmã. 
   
***

   Faltava bem pouco para que o casório desse início. Após entrar no quarto de Catarina e dar-lhe um beijo e elogiá-la pelo grandioso vestido, me escondi atrás da porta e observei-a falando sozinha.
  '' Respire fundo, Catarina. Seu plano irá dar certo. Confie em si mesma'' ela dissera.

 Eu até poderia ter ido embora, mas minha curiosidade foi maior.
 Então a observei abrindo o nosso guarda-roupa feito de madeira bruta e levando ao colo um objeto retangular feito de madeira. Era o porta joia que ela havia ganhado de alguém que nunca me dissera quem fora. A vi resgatando vários itens valiosos que pertencia à ela como o anel de noivado com a pedra ametista adornada, um colar com pingente de coração, a presilha de cabelo que diversas vezes ela havia me emprestado e outros objetos. Franzi meu cenho por estranhar tudo aquilo, afinal porquê ela estava guardando tudo dentro daquela caixa? Qual era o intuito dela? A busca das respostas para estas perguntas que me fez continuar a espreitando, foi então que ela terminou guardou o diário na gaveta da penteadeira e respirou fundo.
  Fui rápida e me escondi antes que ela abrisse a porta e me pegasse no flagra.

Perseguição SombriaWhere stories live. Discover now