Quarta Sentença

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    Ainda sábado à noite, Anna estava em seu quarto se preparando para dormir. Vestiu um pijama cinza com estampa de Star Wars, fez uma trança em seu cabelo cacheado e antes de ir para cama, preparou um chá de erva doce bem quente para si.

     Depois de dar o último gole e beber o chá, colocou a caneca sob o criado mudo. Seus olhos percorreram as últimas palavras do livro que estava lendo. Era um dos livros do autor André Vianco cujo qual ficava no topo da lista de seus autores preferidos. Cerrou os olhos após saborear o final da história que a envolvia por completo. Degustou aquela sensação boa de quando concluímos uma leitura. Fechou o livro e o colocou ao lado da caneca que estava vazia. Relutante e sonolenta, foi ao banheiro e escovou os dentes. Retornou ao quarto, deitou-se na cama e cobriu-se com uma colcha com estampas de dinossauros. Espreguiçou-se e apagou a luz do abajur que havia ao seu lado e assim deitou-se e pegou no sono.
    Anna estava acostumada a dormir usando bijuterias. Dormia, constantemente, usando brinco ou colar. Naquela manhã de sábado, os pais dela fizeram um grande almoço em sua casa. Tias, tios, avós, primos e até mesmo um amigo da família compareceu ao tal almoço. Ela então resolveu se arrumar usando seu vestido mais belo e logo em sua mente veio a lembrança do objeto que ela tinha adquirido quando abriu a caixa com suas amigas. Abriu seu porta joia e pegou com cuidado o colar que continha um pingente de coração. Desabotoou o fecho e colocou em volta do pescoço. O fechou e o admirou sob o seu colo. Sorriu para seu reflexo no espelho e passou um batom carmim nos lábios carnudos.
    Riu, comeu, dançou e se divertiu com seus familiares naquele dia. Após o dia alegre, mas cansativo, tomou um banho, colocou seu pijama favorito e após acabar de ler o livro e beber um chá, foi dormir. O dia teria sido perfeito, a não ser pelo o que estava prestes a acontecer.

    Enquanto dormia de lado, seu corpo mudou de posição. De barriga para cima, seu peito arfava pela respiração que tinha. Seu corpo físico estava deitado na cama, mas sua mente vagava pelo inconsciente. No sonho que estava tendo, seus pés estavam descalços e sujos pela terra da floresta em que se encontrava. Estava rodeada de árvores de todos os tamanhos e espessuras. Era fim de tarde e o crepúsculo anunciava a chegada de uma noite fria. Anna deu alguns passos para frente enquanto olhava ao redor apreensiva, Não sabia onde estava e então seus olhos miraram algo familiar. Um círculo formado por árvores estava bem à sua frente. Arregalou os olhos ao se lembrar de que aquilo que via era conhecido e ela sabia o que encontraria no meio daquele círculo.
  Hesitou  por uns segundos, mas respirou fundo antes de tomar coragem e seguir em frente. Suas pernas tremiam, suas mãos suavam  e seu coração batia acelerado como um passarinho em desespero para sair de uma gaiola.
  Colocou um pé dentro do círculo, engoliu em seco e se apoiou no tronco de uma das árvores antes de colocar o outro pé. Dentro do círculo, se ajoelhou e começou a cavar o buraco um as duas mãos. Sentiu a umidade da terra na pele e suas unhas se sujaram. Ela não ligou e continuou em busca de seu objetivo. Anoitecia lá fora e antes do sol sumir de vez ela avistou algo verde água. Era a caixa. A mesma caixa que ela e suas amigas desenterraram naquela tarde. Com esforço, acelerou o ritmo da escavação e em seguida retirou a caixa. Com as mãos, limpou o excesso de terra do objeto e o abriu, assim como havia feito há alguns dias, mas na vida real. Ao abrir a caixa, encontrou o anel e chave de Amanda, a bela pulseira de Giovana e a presilha de Letícia, mas não encontrou o objeto que a pertencia. O colar não estava na caixa. Anna franziu o cenho e uma voz feminina e suave a chamou a atenção.
  - Estás à procura disto?
  Assim que os olhos castanhos e escuros de Anna olharam para onde a voz estava vindo, suas mãos trêmulas deixaram a caixa cair ao chão.
  A menina estava boquiaberta e não conseguia acreditar naquilo que estava vendo. Uma mulher com cabelos ruivos e longos com uma pele pálida estava segurando e balançando o colar em uma das mãos enquanto exibia um sorriso maléfico nos lábios.
 - Quem é você? - Anna perguntou com um certo esforço.
- Devolva-me o que é meu!
  Anna não compreendia o que estava acontecendo.
   Porque aquela mulher estava com o colar que outrora a pertencia? E o que a mais afligia era a aparição daquela mulher misteriosa que usava um longo vestido branco com um corpete que a acinturava e pelo estilo da vestimenta, Anna julgou ser de outra década. Mas o que aquela mulher queria com ela? Isto era o mais assustador.
 - Não vou devolver nada até você me dizer quem é porquê está atrás de mim! - Anna esbravejou com coragem.
  A mulher que surgiu do nada, agora gargalhava alto achando graça do que havia ouvido e exalava um certo deboche e sarcasmo no rosto.
 - Caso não me entregues o que és meu por direito, vosmecê e tuas amigas sofrerão o que merecem.

Perseguição SombriaWhere stories live. Discover now