Controvérsia

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   Nada havia saído como elas pensavam. Catarina não fora uma pessoa má como elas haviam julgado. Assim pensaram, pois acharam que somente uma alma de alguém muito mau poderia resurgir e se enfurecer por terem furtado seus pertences. Porém Anna, Letícia, Giovana e Amanda jamais esperavam conhecer um outro perfil da jovem ruiva e dona dos objetos misteriosos. Pelo ao contrário que pensavam, Catarina que era a fantasma, não era a vilã da história. Ela era a vítima de todo o enredo.

     No colégio, o grupo de amigas ainda estavam abaladas com o que haviam desvendado que quase não conseguiram prestar atenção na aula. Por sorte ela chegou ao fim.

 - Acalmem-se, antes de partirem para o intervalo queria lhes avisar para não esquecerem de fazer o dever que valerá ponto com a nota, ouviram?

  Os alunos assentiram e alguns saíram apressados.

 - Amanda, quero falar com você. Venha aqui em minha mesa.

    A menina arregalou os olhos e levantou da cadeira com pressa. Antes de caminhar até à mesa da professora Alice, lançou um olhar para suas amigas que prestavam atenção na cena.

 - O que eu fiz, professora?
- Você não fez nada, Amanda – a menina respirou aliviada – Apenas iria lhe entregar o livro que confisquei naquele outro dia.
- Livro? Que livro? – Amanda perguntou esquecida do ocorrido.
A professora olhou-a por cima dos óculos e arqueou uma de suas sobrancelhas.
- O livro que você estava lendo no meio de minha aula.
Alice entregou o livro idêntico ao diário de Catarina e entregou para a aluna.
- Ah sim. Obrigada, professora.
- De nada. Achei que foi desnecessário eu pedir para que seus pais comparecessem aqui no colégio.
- Fico grata, professora. E prometo que isto não irá acontecer mais.
- Assim espero...
Amanda já estava de costas para a mestre, quando ouviu a voz do professora novamente.
- Aliás, ótimo gosto literário você tem – a menina franziu o cenho – Também adoro as obras de Edgar Allan Poe.

   O sorriso sem graça da aluna surgiu em seu rosto.

***
No corredor do colégio, Anna perguntou para a amiga:

 - O que ela disse? Devolveu do nada o livro?
- Sim. Ela mudou de ideia e achou que foi demais pedir a presença dos meus pais. E disse que também gostava de um tal de Edgar Alguma Coisa.
- Edgar Allan Poe! – corrigiu Letícia que era dona do livro – Sorte que meu pai não sentiu falta desse livro. Ainda bem que a megera devolveu.
Giovana riu mas balançou a cabeça.

  Uma sombra aproximou-se do grupo que andavam em direção ao refeitório.
- Estão rindo de quê, meninas?
Era Rodrigo, o menino intrometido que se tornou amigo das meninas.
- Nada, Rodrigo mas conseguimos o livro confiscado pela professora – Letícia o balançou no ar.
- E o quê mais descobriram da história da fantasma? O que ela aprontou para voltar à tona com tanta raiva depois de tantos anos? – ele perguntou.
- Ela não aprontou nada, pelo contrário. Ela que era inocente na história.
- Como é, Anna? – ele perguntou espantado.
- Vamos pegar um lugar para sentar no refeitório e lhe contaremos tudo – Giovana disse.
- Falando nisso... estou morrendo de fome!
- Ainda bem que algumas coisas nunca mudam, não é mesmo Anna? – Amanda riu do comentário da amiga.

****

  Já sentados à mesa no refeitório e degustando seus lanches. Rodrigo ficou perplexo com toda a narrativa da história dramática de Catarina.

 - Então o próprio pai a matou? – ele concluiu.
- Pois é. O próprio pai matou a filha por engano. Na verdade ele queria matar o José que era seu escravo, mas também era o amor secreto de Catarina – explicou Anna enquanto se lambuzava com a calda de chocolate do bolinho que comia.
- Só não entendo como ela pensou que iria conseguir fugir com o José e viver feliz com ele pelo mundo à fora. Na época não havia ainda a abolição da escravatura.
- Mas Anna, ela era muito jovem. Era um pouco mais velha que a gente, mas na época as coisas eram diferentes não é? Então ela deveria ser bem ingênua mesmo, normal – disse Giovana enquanto bebia uma limonada.
- O pior de tudo é que a irmã dela que causou tudo isso. Que garotinha mais perversa! – Amanda disse com raiva.
- Ela era só uma criança, não sabia o que estava fazendo.
- Vai defender a mini vilã da história, Giovana? Não creio nisso!
- Claro que não, Amanda. Porém devemos levar em consideração que ela era muito criança. O vilão da história mesmo era o pai das duas. Ele não deveria ter atirado em ninguém.
- Gente, parem de discutir! Isso já aconteceu e faz muito tempo! O problema agora é o que faremos agora com essa informação. Como faremos para nos livrarmos da assombração? – Anna questionou-se.
- Para de chamar a Catarina de assombração, Anna – Letícia falou enquanto mordiscava uma maçã verde.
Anna revirou os olhos.
- Vocês querem saber como se livrar da fantas... Quero dizer, da Catarina?
Todos os olhos se voltaram para o menino.
- Pois é muito simples. Parecem que não assistem filmes...
- Como faremos então, Rodrigo?- Letícia perguntou.
- Isso. Fala logo, cara! – Anna insistiu.
- Desembucha, mané! – Amanda falou.
- Para que a assombração, fantasma ou alma as deixe em paz, vocês devem devolver seus pertences para a verdadeira dona.
- Como assim? Nem sabemos onde ela está enterrada. Na verdade, não deve ter restado nem o pó da pobre coitada.
- Credo, Anna! – Giovana torceu o nariz.
- Vocês não entenderam. Devem devolver de onde tiraram os objetos. Devem voltar ao local de origem.

  Elas se entreolharam.
- Como não havíamos pensado nisso antes? – Letícia perguntou incrédula.
- Finalmente vamos dar um fim neste tormento – Amanda respirou aliviada e colocou uma mão na testa.
- Meninas... Tem um porém...
Olhares dispararam em direção à Giovana.
- O quê houve?- Amanda perguntou.
- Qual é o problema? – Rodrigo a questinou.
- A pulseira com o pingente de borboleta não está comigo.

    As faces ao redor da mesa poderiam ser perfeitas pinturas de Edvar Munch em ''O Grito''. Bocas escancaradas e olhos saltando pela órbita.
- O que você disse? – Anna colocou uma mão no ombro da amiga.
- Não está mais comigo. Dei para a minha mãe e não sei o que ela fez com objeto.
- Não posso acreditar nisso! E agora o que faremos? – Amanda lamentou-se.
- Se acalmem. Faremos o que é evidente, oras.
- E o que faremos? – Rodrigo questionou Letícia.
- Vamos atrás desse objeto. E o pegaremos nem que isto nos custe caro – a menina respondeu determinada.
  O que eles não sabiam era que não seria tão fácil obter o objeto de volta. 

Perseguição SombriaWhere stories live. Discover now