De Volta Ao Começo

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  Com todos os objetos recuperados as esperanças foram renovadas. O último passo seria dado pelas meninas que estavam em busca  da paz, tanto para si mesmas quanto para o espírito sofrido de Catarina.
No fundo elas sabiam que não deveriam ter mexido onde não foram chamadas. Não deveriam ter aberto aquele buraco na terra. Não deveriam ter desenterrado o passado de uma alma que só queria paz. E não deveriam ter tomado posse de algo que não as pertenciam. Elas sabiam que aquilo era errado, mas perceberam o desastre que causaram muito tarde, mas não tão tarde para não poderem consertar seus erros. Ainda havia um fio de esperança para poderem corrigir o erro cometido.
 O objetivo delas, a partir daquele momento, era fazer aquilo que seria o correto: devolver os pertences à dona. Devolver a caixa cheia de joias para Catarina. Somente assim colocariam um fim em toda aquela saga sombria.

***

  O sinal do colégio havia tocado há alguns minutos. Os estudantes esperavam o portão ser aberto para poderem enfim deixar o colégio. Era sexta-feira e todos aguardavam ansiosos para curtirem o fim de semana. Ao longe, podia-se ouvir as conversas animadas dos jovens, enquanto planejavam seus programas para os fins de semana. Uns iriam passar os dias de descanso vendo filmes e seriados no Netflix, já outros passariam o sábado ensolarado na praia e os mais animados e dispostos aproveitariam sua noite de sexta em alguma boate. Já o quarteto de meninas não teriam o mesmo privilégio dos outros jovens. O plano de final de semana era devolver os objetos tirados de um local de onde nunca deveriam ter saído.
- O quê as meninas vão fazer hoje à noite?
Rodrigo se aproximou do grupo que estavam agrupadas em uma rodinha.
- Vamos fazer aquilo que deveríamos ter feito há muito tempo; devolver a maldita caixa – Anna disse com uma certa bravura.
- Ah sim... Pensei que já haviam devolvido os objetos...
- Ainda não, mas faremos isto hoje à noite.
- Posso ir com vocês? – ele pediu fazendo cara de cachorrinho sem dono.
As meninas se entreolharam.
- É sério isso? – Anna deixou escapar.
- Você até podia nos ajudar, mas acho que somente nós quatro devemos fazer isto – Giovana colocou uma mão no ombro do amigo em forma de consolação.
- Giovana tem razão. Já te colocamos em muitos problemas, Rodrigo. Não seria justo e muito menos certo lhe colocar em mais uma emboscada.
- Eu sei, Lê... Mas eu queria poder ajudar com mais. Queria fazer algo a mais para vocês poderem acabar logo com isso tudo.
- Você já fez o que estava em seu alcance, amigo. Agora é com a gente – Amanda disse enquanto exibia um sorriso no rosto.
- Mas saibam que eu sempre estarei disposto em ajudá-las. Ouviram bem? – o menino sorriu e deu adeus ao grupo de garotas.
- Ele é muito legal, não é?
- Para de suspirar, menina. Não é hora para romance, Letícia! – Anna cortou a amiga sonhadora.
- Isso mesmo. Agora é hora de acabarmos com o que começamos.
Com as palavras proclamadas por Amanda, elas seguiram para fora do colégio em que estudavam.

***

  No final daquela tarde de uma sexta-feira qualquer, assim como o combinado elas se encontraram no mesmo local onde haviam começado toda aquela história. No condomínio onde Letícia morava, entre tantas árvores ali existentes, um círculo perfeito de caules grossos de árvores centenárias estava ali o buraco exposto em que a caixa misteriosa havia sido descoberta. Estava bem diante dos olhos delas o berço de todo o sofrimento. Desde o dia em que descobriram a existência da peça retangular de madeira, elas tiveram suas vidas transformadas. Tudo aconteceu aos poucos; Amanda foi a primeira vítima e assim que fez uso do anel de Catarina tirou uma péssima nota na prova de física, a segunda vítima foi Letícia que ao usar a presilha antiga, sentiu algo diferente e desmaiou em uma festa, a terceira foi Giovana que por sorte não sofreu um acidente de carro quando sua mãe desviou de um cachorro de pelugem negra que atravessou seu caminho e o último ataque foi através do colar com pingente de coração que Anna resolveu usar e que a quase tirou a própria vida. Os avisos haviam ido longe demais e elas tinham que acabar com tudo aquilo. Apesar de terem descoberto depois que a fantasma não era a vilã da história, as meninas conseguiram se sentir menos em perigo, mas por hora ainda não tinham a certeza de que as perseguições teriam acabado. Tudo era incerto,então para terem a certeza de que estavam livres de qualquer força de outro plano espiritual, elas teriam que fazer o que havia sido dito à elas: deveriam enterrar novamente todos os objetos.

  Adentraram o círculo e cavaram um novo buraco. Algo mais profundo para que pudessem ter a certeza de que ninguém mais acharia aquela caixa novamente. Letícia e Amanda enfiaram suas mãos na terra e começaram a cavar, assim como haviam feito meses atrás.
Giovana segurava a caixa em mãos enquanto Anna depositava cada objeto no interior da caixa feita de madeira. Os pensamentos naquele momento foram os mesmos; Anna imaginou a cena de José - o escravo que fora amante de Catarina – quando ele mesmo esculpiu e criou aquela caixa e a pintou com um tom de verde singular. Giovana ao colocar o anel, a presilha, o colar, a pulseira e a chave do diário, também imaginou cenas de Catarina usufruindo de cada joia no passado. A mente de Letícia também criou imagens da ruiva que morrera no passado, sentada à uma cadeira enquanto escrevia em seu diário secreto. Dentro do subconsciente de Amanda também crescera lembranças, que ela não havia presenciado, de uma Catarina sonhadora enterrando a própria caixa com a vontade no coração de fugir com o seu amado. Um silêncio incomum tomava conta da atmosfera naquele momento. Os objetos misteriosos exalavam magia. Havia muita energia carregada neles. E a energia canalizada era tão poderosa que havia transpassado outro plano. O plano em que o grupo de amigas estavam; o mundo atual.
O buraco na terra foi feito e então elas devolveram o que haviam retirado. Colocaram enfim a caixa no seu local de origem e a cobriram de terra. Uma terra escura e espessa que esconderia algo poderoso.
Ao fim da missão, elas deram as mãos e resolveram fazer algo para pedirem a paz que a alma de Catarina necessitava. Umas oraram à Deus e suplicaram para Ele, enquanto outras pediram ao Universo que as protegessem de qualquer mal que poderiam lhe atingir. Assim que terminaram seus orações e suas súplicas se abraçaram e se emocionaram ao relembrarem do que haviam passado.
- Enfim encerramos o que havíamos feito de errado – Amanda disse enquanto enxugava uma lágrima.
- Que o espírito de Catarina e José fique em paz e que possam retornar ao descanso que o tiramos – Giovana disse quanto abraçava suas amigas.
- Agora podemos seguir nossas vidas em paz – Letícia disse feliz.
- É o que eu mais espero que aconteça...
Um vento atravessou as árvores e as atingiu. Algumas folhas secas caíram de seus galhos. Elas haviam feito o que achavam julgavam ser o certo, mas o que não sabiam era que obter a paz que precisavam não seria tão fácil assim. Pois quando nos aventuramos com o desconhecido, o preço que devemos pagar é sempre alto. 

Perseguição SombriaWhere stories live. Discover now