Primeira Página

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  O grupo de meninas estavam na lanchonete, que ficava perto do colégio em que estudavam. Entre mordidas de hambúrgueres e sanduíches, elas discutiam sobre o diário que haviam descoberto na biblioteca no dia anterior.

- Mal posso esperar para começar a lê-lo. Amo diários. Acho tão legal essa ideia de anotar tudo o que lhe acontece e depois ler no futuro – Letícia disse animada.

- Minha querida, quem disse que você vai ser a primeira a ler? – Amanda perguntou, enquanto sugava o milkshake de morango com um canudo listrado.

- O local de aparição da assombração foi no meu prédio, portanto a primeira a ler deveria ser eu!

Amanda riu.

- Entretanto, se não fosse graças à mim e a minha amiga Lourrane, jamais iríamos ter achado o tal diário, então eu deveria lê-lo primeiro.

- Claro que não, quem deveria ler primeiro seria eu pois quem quase morreu enforcada fui eu! – Anna indagou.

As três brigavam pelo diário de Catarina enquanto Giovana observava perplexa a discussão.

- Chega! Quem vai ficar com o diário serei eu! Pronto! Acabou-se a briga.

As meninas tagarelas ficaram olhando para a amiga pacífica mas não discordaram do acordo.

- Tudo bem, Gi. Pode ler primeiro – Letícia disse.

- Se você faz tanta questão... – Amanda falou.

- Concordo com o acordo, mas depois eu irei ler!

- Porquê você tem que ser a segunda, Anna? – Letícia questionou.

- Já falei que...

- Chega! De novo não, pessoal. Que tal se vocês tirassem na sorte? E cada uma poderia ler uma parte do diário, assim entregaríamos no prazo para a bibliotecária.

- Sorte? Tipo o jogo ''zerinho ou um''?

- Isso, Amanda. O que acham?

- Pode ser, Gi – Letícia concordou.

Então Amanda, Anna e Letícia fecharam o punho e contaram até três, e cada uma fez um gesto com a mão. Aquela que fizesse diferente; colocando o dedo indicador ou o punho fechado em formato de ''zero''; ganharia. Anna então seria a segunda a ler o diário e Amanda e Letícia tiveram que jogar ''par ou ímpar''. Letícia pediu par e Amanda, por consequência, ficou com ímpar. Deu o número 7 e Amanda seria a terceira a ler o tal diário.

- Não é justo, pois não tenho sorte com essas coisas – reclamou Letícia.

Elas riram da amiga e terminaram de comer as batatas fritas, sanduíches e bebidas.

***

Em casa, Giovana levava na mochila além dos cadernos e livros didáticos, um artefato histórico e precioso: o diário de Catarina.

A ansiedade lhe tomava conta por completo. Chamou pela mãe, mas Salete ainda estava no trabalho, então a filha aproveitou para começar a leitura do diário.

Tomou um banho, colocou uma roupa confortável e deitou na cama para começar a leitura e a viagem pelo tempo. Não sabia o que esperar daquilo, mas tinha a certeza que se surpreenderia.

***

24 de Dezembro de 1879 – Rio de Janeiro

Querido diário,

é com enorme alegria que começo a usá-lo. Lhe ganhei de meu pai Manuel que és o Duque da Cidade do Rio de Janeiro. Hoje comemoramos o Natal e um ano em que viemos ao Brasil. Confesso que de início detestava a ideia de morar em outro país, mas papai havia insistido nisto e nada eu poderia fazer. Custou para que eu me acostumasse em morar aqui, mas depois de um ano eu finalmente havia acostumado. A presença de minha mãe Antonela e minha irmã mais nova Manoela, me ajudava a passar por isto. Com o tempo, papai ganhaste nome, poder e respeito por todos e até mesmo de alguns escravos sem precisar usar outros meios. Quando eu o via bater nos escravos, confesso que me assustava um pouco, porém me acostumei com tal fato. Não era função de papai usar a força com os homens negros – havia um serviçal direcionado especialmente à isto – mas quando eras necessário, ele mesmo o fazia para mostrar respeito perante aos outros.

As preocupações de minha mãe és representar bem a família perante a alta sociedade; conceder grandes bailes em nossa grande casa, sempre participa das missas e és o braço direito de papai em todas as ocasiões.

Manoela, minha irmã mais nova de quatorze anos, ainda em formação de sua personalidade, pensas que é bem mais velha do que és. Simplesmente se encanta com minhas maquilagens, perfumes importados e espartilhos. Mamãe entra em conflito com ela para que ultrapasse os limites.

Para fazer uma apresentação formal como a sua dona, devo lhe contar meu nome; me chamo Catarina de Bragança, no auge dos meus dezoito anos de idade; pelos quais me dão dor de cabeça pois meus pais estão à procura de um pretendente para que eu me case em breve. Gostaria de descrever mais coisas, porém, neste exato momento, papai estás me chamando para ir tomar a ceia, portanto espero lhe escrever em breve. ''

***

Giovana degustava cada palavra escrita por aquela mulher que já não estava mais no mundo dos vivos. O toque do caderno e a cada curva da letra cursiva da moça, lhe enchia de emoção. Era como retornar à uma época que ela não havia vivido. Era mágico, mas ao mesmo tempo tenso, pois não sabia o que iria ler em seguida. Assim como Catarina havia sido interrompida na escrita, Giovana fora interrompida na leitura, pois sua mãe havia acabado de chegar do trabalho e lhe chamava.

- Já estou indo, mãe...

Então mãe e filha, foram jantar juntas na mesa da sala. Conversaram e riram. Giovana mal podia esperar para ler as próximas páginas daquele caderno secreto.

Perseguição SombriaWhere stories live. Discover now