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        Continuei meu caminho até meu quarto, adentrando o local e já me preparando para as possíveis pichações que poderia encontrar. Porém... não havia nada.
        ... Será que Virgo já havia limpado tudo?
        Joguei o livro na cama e dirigi-me para a sacada, tendo lá uma surpresa.
        O rosado que agora chamava de namorado estava escorado na sacada, dormindo serenamente enquanto a brisa fria do temporal que estava para vir brincava com seus fios rosáceos. Aproximei-me lentamente, abaixando-me ao seu lado em silêncio e observando atentamente seu rosto.
        Ele ficava tão fofo quando estava dormindo. Naquele dia em que nos entendemos completamente, acabei adormecendo em seus braços e não reparando em nada dele.
        Seus fios rosáceos caiam pelo rosto sereno, dando-lhe um ar puro — agora posso entender porque Meredy o acha "puro" —, os cílios eram longos, os ombros largos, sua clavícula dava para ser vista através da abertura da camiseta que usava. Imediatamente comecei a imaginar seus braços musculosos enlaçando minha cintura enquanto beijava meu pescoço delicadamente e...
        ... Oh meu Deus! No que estou pensando?
        Afaguei sua cabeça docemente e percebi seu rosto mudar para um sorriso.
        — Tão fofo. — Murmurei.
        Abriu os lábios um pouco e inconscientemente aproximei-me, tomando-os para mim.
        Sim... Eu estava com saudade. Do seus lábios, do seu cheiro de sua voz... e não faz nem um mês que começamos a namorar. Incrível, não?
        Separei-me sorrindo enquanto continuava com o cafuné.
        — Lucy... — Murmurou, e explodi em vermelhidão. Ele... estava sonhando comigo? Seu sorriso aumentou de tamanho. — Mexa mais a bunda...
        — Esse pervertido! — Irritei-me, retirando a mão de sua cabeça e seguindo de volta para meu quarto. No entanto, fui interrompida pelo rosado pervertido que segurou meu pulso. — Estava acordado?
        — Luce...
        — O que foi?
        Encarava-me pensativo.
        — Não vai continuar com o cafuné?
        — Não mesmo! — Tentei desvencilhar-me de seu forte aperto, porém não consegui.
        Natsu puxou-me para trás, fazendo-me cair em seu colo e enlaçando minha cintura igual havia imaginado a pouco. Corei ao lembrar do devaneio.
        — Lucy... — Deslizou os lábios pelo meu pescoço, fazendo-me sentir um arrepio agradável descer por minha coluna. Apertou minha cintura mais fortemente. — Estava com saudades.
        — Você também? — Gemi involuntariamente assim que ele beijou meu pescoço brevemente.
        — Meredy está me deixando louco com toda essa perseguição. Não tivemos um momento a sós depois daquilo. — Voltou a beijar a base de meu pescoço. Acenei afirmativamente enquanto aproveitava seus pequenos beijos de olhos fechados.
        Continuamos naquela posição durante algum tempo. Somente quando o vento começou a se tornar mais intenso decidimos entrar...
        ... E surprise! Lá estava Meredy, com os pincéis a postos.
        — Onii-sama?! — Estranhou sua presença ao meu lado, lançando-me um olhar assassino. — O que está fazendo com essa succubus?
        — O que pretendia fazer com esses pincéis? — Rebateu.
        — Eu...
        — Natsu é melhor você não... — Tentei interrompê-los, sendo impedida pelo rosado.
        — Não, Lucy. Não é de hoje que Meredy tem feito coisas que não me agradam. Meredy! — Rugiu, assustando a nós duas. — O que você ia fazer com esses pincéis?
        Encarou-o chocada. Os primeiros pingos fortes de chuva começavam a castigar lá fora.
        — Quero que a bruxa velha vá embora. — Afirmou convicta.
        — Por quê? — Natsu parecia começar a ficar irritado. Estava preocupada com o rumo que a discussão levaria...
        — Porque desde que ela chegou você não me dá nem o mínimo de atenção! — Brandiu em um misto exasperado e angustiado. — Você prometeu, Onii-chan! Que não deixaria mais eu me machucar assim! — Largou os baldes e pincéis, enlaçando a si mesma em um abraço. — Então por quê? Por que está me abandonando assim desde que ela chegou?! Eu...
        — Mere... — Tentei.
        — Fique quieta, sua quenga! — Agora foi dominada pela raiva. — Eu... eu... lhe odeio!
        — Meredy, você tem que... — Começou Natsu.
        — Não diga nada! — Gritou. — Não quero ouvir! — Tapou as orelhas. — Não proteja mais ninguém, onii-sama!
        — Meredy, eu...
        — Não! — Interrompeu-o novamente. — Você prometeu! É tudo culpa dela! Eu te odeio! — Lançou para mim.
        — Pare já com isso, Meredy! — Rugiu Natsu, já totalmente revolto. A pequena assustou-se com o tom do irmão. — Não vê que está sendo irritante? Não está vendo que se agir assim ninguém vai querê-la por perto? Não vê... — Engoliu em seco. — Que não posso protegê-la daquele jeito porque arranjei algo mais importante para mim? — Lançou-me um olhar significativo.
        — Mas onii-chan, você prometeu... em nome da mamãe e...
        — Sinto muito! Não poderei cumprir a promessa! — Abraçou-me protetoralmente, esperando pela reação da irmã mais nova.
— Onii... — Estendeu a mão em sua direção, as lágrimas brotando em quantidades mais grossas. — Eu... Eu te odeio! — Gritou saindo correndo em direção ao jardim.
        — Está tudo bem deixá-la ir assim? — Indaguei preocupada.
        — Claro. — Escondeu o rosto de mim. — Ela não pode ficar ligada a uma promessa de infância boba dessas.
        — Promessa? — Perguntei.
        — Ah! ... Ainda não lhe contei. Quando éramos pequenos e nossa mãe morreu, meu pai esteve muito ocupado por causa dos problemas que Aries começou a causar e, como já era grande naquela época, não precisei de muita atenção. Mas Meredy... tinha apenas quatro anos, e estava sozinha. Prometi a ela que não a deixaria só diante os acontecimentos, no entanto...
        — Isso não é importante? Para os dois? — Indaguei.
        — Não. Como eu disse, isso já faz....
        — É claro que é importante! — Berrei, assustando-o.
        — Luce?
        — Deveria pelo menos pedir desculpa apropriadamente para ela! — Velhas e dolorosas memórias voltavam-me a mente.
        Saí correndo, ignorando o "Oe, Luce!" de Natsu. Nada importava naquele momento, a não ser encontrá-la.
        Meredy acreditara na promessa de Natsu. Podia muito bem não ter entendido que o tempo passa e as pessoas mudam, mas ainda acreditava nele. E no fim, o rosado acabou me protegendo...
        Meredy estava sozinha e precisava de alguém. Devia isso a ela.

Meu Estranho MafiosoWhere stories live. Discover now