Fechei os olhos e voltei a encostar minhas costas na maciez da cama. Eu não gostava quando esse assunto vinha a tona. Eu não mentia ao dizer que amava Minhyuk e que torcia pela sua felicidade, mas mentia quando dizia que eu não havia ficado magoado. Naturalmente, eu me senti trocado e até, em certo ponto, traído. Quando ele veio me contar sobre tudo, fiquei grato pela sua sinceridade, mas não pude deixar de imaginar que, nos dias anteriores, enquanto eu fazia nossa janta e imaginava nossa próxima - possível - viagem para Berlim, ele estava se apaixonando por outra pessoa.

Quando eu a conheci, me senti em um dilema. Por um lado, eu devia admitir que ela era adorável e simpática. Uma boa pessoa. Mas ainda assim, eu não conseguia ver nada demais. Apesar de todas as suas qualidades, ela era uma garota normal. Absolutamente comum. Até um pouco comum demais. Não tinha nada superior a mim. Cavei meu cérebro durante várias madrugadas em busca de algo que deixei faltar. Algo que a fazia melhor do que eu. E por um tempo cheguei a sentir raiva, rancor.

Ela era bonita, mas eu também era

Seu cabelo era sedoso, mas o meu também era

Sua comida era gostosa, mas a minha também era.

Então, o que caralhos essa mulher tinha de diferente? O que Minhyuk enxergou nela para torná-la assim tão especial ao ponto de terminar um relacionamento de anos para ficar com ela?

Mas foi no ensaio de casamento que eu pude compreender. Quando ele olhou para ela, não me restou dúvidas de que a diferença estava nele. Ela só era especial porque ele a enxergava assim. E o que quer que ele não tenha achado em mim, ele achou nela. E eu entendi que nada que eu fizesse poderia se comparar porque ele amava a ela e não a mim.

Eu fui compreensivo - até demais na opinião alheia - e tivemos um término tranquilo. Até hoje não sei se foi por ama-lo demais ou por ama-lo de menos que aceitei tão facilmente deixá-lo ir. Ou talvez porque seria muito egoísmo o obrigar a ficar. Mas uma coisa que eu aprendi nisso tudo, e que usei como um mantra quando Minhyuk chegou com a anulação do casamento foi:

- Não se escolhe por quem se apaixona, Tae - usei como explicação para a pergunta de Taehyung e consolo para mim mesmo.

- Eu te admiro por ser assim, Jiminie, mas não dá. Eu não engulo isso - Taehyung levantou, puxando tecido para que a blusa se ajustasse corretamente ao seu corpo - não se escolhe por quem se apaixona, mas se escolhe com quem irá se envolver. Ela sabia que ele estava em um relacionamento desde o começo, não é? Isso pra mim é falta de caráter

Eu não disse nada. Nem foi preciso. Taehyung pareceu se dar conta das suas palavras sozinho minutos depois. Ele me olhou de forma culpada e mordeu os lábios.

- Não foi isso que eu quis dizer. - Ele encolheu suas pernas e meus dedos alcançaram os seus que se estendiam pelo lençol rosa de sua cama. Usei a diferença de tamanho das nossas mãos como centro de atenção para que nossos olhos não se encontrassem e ele soubesse o quão afetado eu havia ficado

- Foi exatamente o que você quis dizer, Tae - murmurei

-x-

- O que está fazendo? - Taehyung perguntou, surgindo pela porta da cozinha coberta por azulejos amarelo claro, que era da mesma cor que a do meu apartamento e eu odiava.

- Lavando a louça - respondi sobre os ombros, com a entonação de como se dissesse algo óbvio, o que de fato era, já que a taça suja de sabão em minhas mãos deixava minha ação bem clara. Liguei a torneira e quase me arrependi pela temperatura da água fria caindo em minha pele.

- Eu quis dizer por que está lavando a taça se não terminamos de beber

- Não sei você, mas uma taça é o meu limite em um dia de semana - descansei o cristal com cuidado no escorredor e enxuguei as mãos na minha calça de moletom - e eu vou dormir

- Mas não são nem 23h! - Tae reclamou enquanto eu passava por ele, retornando para a sala de estar, buscando meu celular

- Amanhã eu trabalho, Tae

- Eu te proíbo de dormir agora - ele disse alto

- Sabe que minha casa é literalmente colada na sua e que eu posso ir embora a qualquer momento

- Eu te prendo aqui - Tae correu debilmente até a porta da frente e girou a chave mais uma vez, ainda que já estivesse trancada anteriormente.

Levei minhas mãos a cintura e devolvi seu olhar que me encarava. Com um sorriso zombateiro no rosto, desbloqueei o celular.

- Acho melhor eu já ligar para a polícia, entã-

- Ah, Jiminie... - ele falava como uma criança birrenta sendo contrariada enquanto batia um pé no chão, fazendo-me duvidar de sua idade mental - Você nunca dorme aqui e você só sai com aquele seu amigo Jin - revirei meus olhos pelo ciúmes bobo - agora que você resolve dormir um dia na minha casa, você quer dormir cedo. Isso é muito injusto! - eu não lhe respondi. Pelo contrário, girei em meus calcanhares andando até o quarto e seus passos insistentes seguiram os meus - Se fosse o Jin você estaria bebendo até amanhã de manhã. Isso é porque eu não entendo de moda? Porque não posso conversar sobre isso com você? Não é possível que minha companhia seja tão ruim ass-

- Tá bom, Taehyung. Tá bom - cortei seu monólogo sem fim, já cansado de ouvir sua voz fazendo drama - Pega lá a taça na cozinha

Ele sorriu quadrado antes de desaparecer no corredor pequeno. Revirei os olhos e busquei a garrafa de vinho com a taça de Taehyung e segui seu caminho, quase nos trombando enquanto passava em frente a porta da cozinha. Ele me lançou um olhar como se me perguntasse onde estava indo quando passei reto.

- Vamos beber no quarto, pelo menos, que quando terminar já tô prontinho pra dormir - abri a maçaneta da porta decorada de adesivos de Taehyung e me virei para ele que ainda se mantinha parado no mesmo lugar - Você não vem?

Ele me olhou por alguns breves segundos antes de me seguir e fechar a porta atrás de si

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Sempre vejo os autores de fic fazendo pergunta para os leitores e decidi também. Acho que seria muito legal conhecer vocês.

Meu nome é Natália e o de vocês?

Se eu ficar no vácuo, apago a pergunta e vocês fingem que nada aconteceu.

EGOÍSMO A TRÊSWhere stories live. Discover now