41 - A VOLTA DO DIÁRIO DO NATIEL

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Olá seus lindos!!!

Capítulo cheio de revelação para vocês!

Confiram enquanto ouvem a música, que está no vídeo no topo da página.

Excelente leitura!!!

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Opressivo diário: Será uma boa ideia aproveitar do seu retorno para desabafar? Apesar de já tê-lo feito tanto, sinto que será a primeira e a última vez.

Terça-Feira, 28 de Março de 2017

Apesar do meu último registro se ter dado há apenas quatro dias, muita coisa aconteceu, mudando, assim, minha percepção de "tempo"... Minutos se tornaram horas... Horas se tornaram dias... Dias se tornaram anos... E os anos logo tomarão minha vida. No entanto, não quero me prolongar relatando tudo o que aconteceu, quero apenas que me ajude a pensar. Sei que, recentemente, esteve nas mãos da pessoa que me é tão importante, a pessoa a quem me dedico totalmente, que começo a temer a perda da familiaridade que sempre tivemos, falando de você, diário, e de mim. No entanto, preciso de ajuda e acho que, no momento, você me será muito útil.

Cheguei hoje de manhã e, contrastando com a mais maravilhosa noite que já tive, assombrei-me ao ver meu pai desfalecido sobre a mesa da cozinha. Consegui despertá-lo após vários minutos e ele alegou ter estado em um sono profundo devido a estafa. Na verdade, o torpor ainda parecia incomoda-lo. Sem me encarar, ou me fazer qualquer tipo de observação, ele foi para o quarto dizendo que iria descansar e que logo iria trabalhar. Pensei em pressioná-lo, mas meu olhar se voltou curioso e, ao mesmo tempo, enfurecido para os papéis que estavam na mesa, entre eles, uma carta endereçada a mim. Eu reconhecia a letra da minha mãe, que, assim como eu, também era canhota. Peguei o envelope, me tranquei em meu quarto e o rasguei. Foi um acesso, eu sei. Logo me arrependi e o remontei com fita adesiva. Executando a tarefa, mal pude desviar meus olhos das palavras que estão me martelando e por certo me marcarão para sempre.

Dona Laís, minha mãe, começa tecendo suas desculpas. As mesmas que ela sempre tem proferido quando fala comigo. Alegou que tentou me ligar após o nosso último embate, porém, eu não atendi, nem mesmo no celular. Eu não precisava reconfirmar, pois eu havia mesmo visto e ignorado a ligação. Ainda assim, peguei o aparelho novamente, observei as várias notificações não respondidas e outras chamadas, mas não havia outras dela. Por meio da carta, ela alegou que não podia manter contato direto comigo, pois não havia telefones no local em que estava e a distância era longa até a cidade mais próxima e os custos eram absurdos. Prossegui a leitura, enquanto batia nervosa o pé direito no chão. Eu estava esperando mais um monte de palavras sem sentido e sem significado algum como aquelas que eu já havia lido, porém, eu estava enganada outra vez.

Como se eu tivesse despertado somente naquele instante, abri mais os olhos e me atentei a cada vírgula descrita. Que ela culparia o meu pai pelo seu afastamento eu já esperava, mas eu não estava preparada para a explicação dela; algo que ela sempre hesitou em dar. Dona Laís alegou estar sofrendo com graves problemas pulmonares, que havia descoberto há pouco mais de um ano, e que precisava de um lugar acampado para se recuperar. Disse ainda que, pela minha baixa imunidade, se sentiu obrigada a se afastar de mim, a fim de que eu não pegasse essa doença. Escreveu que ela e meu pai estavam discutindo muito, o que não me era de estranhar, porém falou que ele se exacerbava nas discussões e a acusava de me colocar a corda no pescoço... A mim, sua própria filha! Ela enfatizou que ele se referia a doença da distrofia, no entanto, ela insistiu na carta de que não sabia ser portadora, mas alegou que, ainda que soubesse, teria me dado à luz; pois, segundo ela, sou sua única compensação. Minha mãe ainda fala que não pretende gerar discórdia entre meu pai e eu, que ele sempre foi um excelente pai, porém não lhe foi um bom companheiro. ... Confesso que revirei os olhos e suspirei de exaustão. Eu já havia ouvido muitas histórias e, confesso que até mesmo presenciara coisas que não devia... Meu pai nunca foi fiel a minha mãe e, antes dela viajar, ele pouco parava em casa. Eles estavam em um relacionamento distante e desconexo. ... Pensando nisso, mais uma vez a insegurança me bate. Será que o meu destino poderia ser esse? Natiel poderia agir dessa forma para comigo?

Voltando para a carta, minha mãe contou que quem primeiro se contatou com meu irmão, o Nando, foi ela; e isso realmente me surpreendeu. Sempre pensei que eles não se gostassem... Embora meu meio irmão também não se dê bem com seu Milton. Eu até o compreendia, afinal, é provável que eu tenha muito mais irmãos e meu pai pouco parece se importar com isso. Na verdade, toda vez que a mãe do Nando é mencionada, ele faz descaso... Diz se tratar de "romance de juventude". Quanto a dona Laís e sua carta, ela falou e pediu explicações sobre a doença que eu tinha a ele, meu irmão. Porém, ela não falou da sua para ninguém, exceto meu pai. Ela diz que precisará se tratar por cinco anos, mas que poderá me ver assim que eu termine meus exames e esteja devidamente medicamentada. No entanto, ela não quer contato com o seu Milton e enfatizou o pedido de divórcio.

Eu me sinto confusa, claro. Sempre me foi mais fácil acusar minha mãe de não conseguir fazer meu pai feliz o suficiente, de sempre implicar com ele, de esquecer que eu existia. Mas, acredito que eu nunca tenha parado para pensar que ela estava reclusa no próprio sofrimento... Ela estava desgastada e optou por fugir. Por que nós nunca conversamos a esse respeito? Minha mãe nunca me deu abertura, mas acho que eu também nunca quis cria-la. Seu Milton sempre foi o melhor dos pais, mas... Ainda assim, eu nunca o vi tão abalado. Estou atenta a qualquer barulho anormal que possa haver no quarto dele, mas, enquanto isso, vou lhe dar espaço. Com certeza teremos que conversar.

Será que eu poderia continuar julgando a minha mãe? Ela teria se apaixonado pelo meu pai assim como eu me apaixonei pelo Natiel? Ela teria criado tantas expectativas com relação a ele, assim como eu já fiz e faria? Seria seguro me entregar inteiramente a essa paixão? Eu não queria terminar como meus pais... Não, não! Definitivamente, eu não quero estar como eles.

O que eu devo fazer?

Naná.

Deixei o diário ao meu lado e esbarrei na touca cinza que Natiel me dera; a mesma que ele usara na última apresentação da banda e havia usado nos últimos dias. Suspirei e a peguei. Recostei-me na cabeceira da cama, coloquei a touca, tapando os meus olhos, e adormeci. Parecia que eu voltara a época de treinos e havia percorrido vinte quilômetros com a bola nas mãos. Eu estava exausta.

***

Fui despertada pelo som estridente do meu celular. Ainda sonolenta, contemplando apenas a escuridão, direcionei minha mão esquerda para ele. Ainda sem observá-lo o atendi:

– Alô?

– Oi Natalie, desculpe te ligar, mas é que pediram para te chamar...

Franzi o cenho e ergui um pouco a touca. Ainda no breu, comecei a reparar na ansiedade de quem falava, mas ainda não conseguia identificar a voz. Eu ainda me sentia fora da estação.

– Quem é?

– O Sérgio, do clube. Você está a caminho?

– Não... Mas, quem está me chamando e...?

De súbito me levantei e observei a hora. Já estava escuro mesmo! Como eu poderia ter dormido tanto?

Sem esperar por respostas, apressei-me a me aprontar, falando:

– Estou a caminho. – E desliguei.

Na pressa, ainda consegui observar as várias chamadas perdidas. Natiel havia me ligado, pelo menos, seis vezes... e a Estela três.


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E agora? Perdoar a mãe? Culpar o pai? Encerrar com o Natiel? Ajudar a Estela?

Até o próximo capítulo queridos!!! ;)

Música do capítulo: "Don't Stop Believing" – Journey (Cover By Per Frederik "Pellek" "Ãsly")

AMEDRONTADO - LIVRO 2 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioDove le storie prendono vita. Scoprilo ora