– E aí? Você descobriu o que deixou o Natiel tão atormentado com o Sérgio? – Questionei Carlinhos, impaciente.
Enquanto ele fazia suspense, mal me lembrava de que pouco conseguira dormir naquela noite e tinha certeza que jamais voltaria a dormir direito enquanto não resolvesse aquele mistério. Marquei de encontra-lo na hora do café no trabalho. Ele trabalhava perto e foi me encontrar. Carlos já estava ciente de tudo que eu vira e eu estava ansiosa em saber tudo o que ele vira e descobrira. Sérgio já não estava muito a vontade comigo, mas sabia que com o meu amigo ele falaria.
– Bem...
– Fala logo, não temos muito tempo!
– Tá, ok! Parece que o Sérgio estava recebendo algum bilhetinho indecente para enviar para alguma garota.
– Que garota?
– Aquela que é filha do sócio.
– A Natalie? – perguntei surpresa. – Mas, eu não vi o Sérgio levar nada para ninguém, que não o próprio Natiel.
– É isso mesmo! O Natiel não deixou ele seguir com o bilhete e ele ainda foi falar com o sujeito que havia enviado o recado...
Sei que meu rosto se iluminou.
– Menino! Isso me parece ouro puro!
– O que você tem em mente? – Pareceu desconfiado e, talvez, até com receio do que viria.
Sorri sugestiva ao voltar a fitar o meu companheiro de turma.
– Ah não! Já chega, Estela! Não quero me envolver em encrencas...
Mantendo o sorriso e o fitando, balancei a cabeça concordando. Aquilo seria épico!
***
– Eu não acredito que estamos aqui de novo e que concordei com isso!
– Deixa de ser medroso, Carlinhos... Não vai te acontecer nada.
– Estamos perdendo mais aulas.
– Ninguém vai à facul nas sextas-feiras.
– Nem nós... – suspirou o nerd.
– Você entendeu bem o que tem que fazer?
– Só entendi que você é doida...
– É sério! Mantenha seu celular ligado, em contato comigo, que estarei gravando tudo o que for dito.
– E se eles não vierem?
– É sexta à noite, é claro que eles virão.
Seguindo o mesmo padrão da outra noite em que vi Natiel no salão e torcendo para que realmente ele, e a Natalie, fossem aguardamos com ansiedade.
Eu estava com o mesmo boné e com vestes escuras que costumam ser melhor para se camuflar, logo o alertei:
– Melhor ir para o balcão logo. Não vai ser bom se ele te ver acompanhado.
– Tá, tá – concordou aborrecido. Esperava que ele não estragasse tudo.
Logo peguei o celular e coloquei os fones de ouvido ao discar para ele:
– Está me ouvindo? – Sussurrei no fone.
– Sim.
– Ótimo, mantenha o celular ligado.
Minha impaciência não cessava, mas meu coração disparou com a ansiedade por ver que poderíamos logo iniciar o plano. Natalie havia aparecido e não demorou muito para que eu visse Natiel que, desta vez, estava acompanhado por uma moça loira e alta. Será que daria certo? Bem... Era hora de conferir!
– Fique atento! Eles chegaram. Vai lá na Natalie, a garota dos cabelos platinados, e elogia o sorriso dela.
– Mas, Estela...
– Nada de mas... É importante isso! E não esqueça de deixar o celular ligado.
– Tá, tá!
O observei, ajustando a aba do boné, ir em direção à mesa em que a Natalie estava com alguma colega ou sei lá quem. Natiel não estava muito distante, mas ele com certeza notou a atitude aparentemente ousada de meu amigo. Eu estava quase eufórica, vendo ele ir até onde eles estavam. Carlinhos estava encenando bem.
– Oi... Eu tenho te visto há algum tempo. Você é muito bonita. Tem um sorriso lindo!
– Ah, obrigada.
Bem, Natalie pareceu gostar da atenção que recebeu. Foi quando Natiel chegou, parecendo ter notado a Natalie só naquele instante. Não acreditei no momento em que ele deixou a loira sozinha.
– Está tudo bem aqui? Natalie?
É agora! Eu estava mesmo eufórica.
– Ah, tudo claro. Eu estava indo, não sabia que estava acompanhada...
Sentia meu amigo tremer dali. Era demais para eu aguentar calada, eu precisava rir.
– Eu não estou. Pode ficar.
A Natalie estava colocando lenha naquela fogueira invisível, ou realmente estava interessada.
– Não, tudo bem. Boa noite.
Parecia um cachorrinho acuado. Pobre do meu amigo.
– Ei Carlinhos – falei pelos fones. Ele também estava utilizando de um sem fio. – Prometo não contar para ninguém dessa sua façanha desastrosa.
– Que vergonha, Estela. Espero que esteja satisfeita.
Eu não estava e ele sabia!
Ele não podia voltar para a mesa, pois ainda estava na mira do Natiel que não parecia mais bem humorada, nem se importando com a pobre da loira que ficara solitária. Quase me compadeci e fui lhe fazer companhia. Do outro de onde meu amigo estava do balcão, me esgueirei para o Sérgio e falei-lhe:
– Pode fazer o que combinamos agora?
Percebi a engolida seca do Sérgio que foi até o meu amigo. Era hora do "bilhete não trocado".
***
– Para com isso Carlinhos – bronqueei já na segunda-feira, na faculdade. – Natiel não desconfiou de nada, nem te fez nada.
– Ele é assustador, você não viu?
– Vi e ouvi – não resisti o riso. – Mas, pensa bem! Agora, temos uma matéria excelente para o meu blog.
– Você vai publicar aquilo? – Seu olhar de medo era o mesmo que ele ainda usava quando voltou do papo que teve com meu futuro cunhado.
– Não se preocupe – tentei ser amena. – Eu não colocarei nome de ninguém, nem do clube. Ninguém vai saber.
– Só espero mesmo!
Aquilo tudo havia me feito esquecer a maneira fria com que Natiel me tratava. Mas, mais cedo ou mais tarde eu descobriria... Àquela pequena aventura estava muito boa e me preencheria a curiosidade por algum tempo. Eu espero!
***
Última parte vem aí -->
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AMEDRONTADO - LIVRO 2 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos Amâncio
RomanceNo segundo livro da "trilogia dos irmãos Amâncio", Natiel, o segundo irmão, aparece com sua alegria, sua disposição, suas habilidades musicais, seus temores contidos e suas falhas de memória. Assim como o irmão mais velho - Adriel, Natiel também pos...