40 - MANHÃ COM NATIEL - Natalie

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Segundo ele, Adriel já havia saído para a clínica, acompanhado do vizinho, Daniel chegaria um pouco mais tarde e a mãe não viria tão cedo. Ou seja, estávamos sozinhos.

Recuperando o que sobrara da roupa que eu usava nas vésperas, ajeitei-me e corri ao encontro do ser que eu mais amava. Porém, nem bem havia chegado a cozinha, caí sentada na cadeira mais próxima e levei a mão ao estômago. O sorriso que me acompanhava desde o amanhecer, fora desmanchado e uma tremenda angústia me abarcou. Natiel se apressou até mim, segurou meus ombros, e exalou preocupação, indagando:

– O que houve, Natalie?

Eu estava com os olhos fechados e a cabeça abaixada. Não sentia forças nem para fita-lo. Minha têmpora direita começava a incomodar e levei uma mão a ela. Senti um calafrio percorrer minha coluna vertebral e minhas mãos suando. Respirei devagar e pedi, quase em sussurro, tentando erguer-me:

– Pode me levar em casa?

Com esforço consegui, finalmente, fitar Natiel que ainda se mantinha preocupado e com traços de não compreensão. Insistiu:

– Você está bem?

– Não sei. – Lancei-me aos braços dele, voltando a fechar os olhos. Havia algo de errado. Eu podia sentir... Nem tudo é belo no Éden.

***

Nunca tive uma sensação tão forte. No dia anterior, falando do momento em que eu havia ligado para o meu pai usando do celular do Natiel, eu achei que ele estivesse estranho... distante. Quando eu lhe informara que passaria a noite fora de casa, ele pouco pareceu se importar, e isso não condizia com o jeito do seu Milton. Ainda assim, eu estava tão envolvida pelo momento, que não me atentei muito. Porém, agora, eu sabia que precisava vê-lo.

Caminhávamos em silêncio e, ainda que preocupada, eu conseguia ouvir nitidamente a respiração do Natiel ao meu lado. Olhei para ele, que prosseguia com a cabeça levemente abaixada. Ele não parecia muito contente e eu o compreendia. Afinal, eu havia estragado o nosso café-da-manhã. Aproximei-me dele, e o envolvi pela cintura, o abraçando com força. Eu ainda mantinha uma expressão cabisbaixa e não conseguia me alongar em palavras naquele instante. Queria apenas continuar caminhando ao seu lado, ouvindo sua respiração, sentindo seu calor, inalando seu aroma; agindo com uma extrema necessidade de egoísmo, num momento em que eu sentia que precisava mais dele, do que ele de mim. Após meu gesto desesperado e possessivo, Natiel se virou para mim e eu selei nossos lábios.

Eu estava tão absorta, que mal reparei no percurso, e nem no que Natiel carregava no braço do lado oposto ao que eu estava.

– Está entregue – falou ao chegarmos, sorrindo de modo tímido.

Abaixei os ombros e, de frente a ele, falei:

– Me desculpe por agora pouco. Eu apenas precisava...

Natiel balançou a cabeça, me interrompendo, e me estendeu o que estava consigo, dizendo:

– Você queria o diário, não é?

O diário! Com tudo eu havia me esquecido completamente dele...

– Além dele – continuou, – quero que fique com a touca.

Relutante os peguei. Eu ainda não conseguia raciocinar e pesar o significado de tudo aquilo. Eu estava mecânica. Ele se aproximou mais de mim, mas ainda parecia intimidado quando perguntou:

– Promete que vai continuar pensando em mim?

Palavras seriam insuficientes para descrever minha surpresa, carregada de emoção. Apressei-me em abraça-lo e sussurrei em seu ouvido:

– Não há outro pensamento que possa me confundir. Jamais duvide disso.

Afastei-me e enquanto algumas lágrimas me embaçavam a visão, senti o movimento brusco que Natiel fez ao me puxar pela cintura e nos aproximar novamente. Ali, em frente à casa do meu pai, o dono dos meus sonhos e pensamentos colou os nossos lábios. Uma vida não seria suficiente para ama-lo.

***

Foi com muito pesar que eu tive que o deixar. Natiel não quis entrar, pois, ainda que eu não tenha falado muito, ele percebeu que havia algo de errado em casa. Prometi que logo lhe telefonaria e, o mais breve possível, o encontraria novamente.

A porta da frente não estava trancada e isso era estranho. Seu Milton sempre foi obcecado pela segurança. Fui até meu quarto deixar o diário e a touca do Natiel e logo fui até o do meu pai, que estava arrumado. Na verdade, parecia estar como ele havia deixado ontem, mas era difícil comprovar isso naquele momento, visto que eu ainda não estava com os pés totalmente no chão, atestando assim minha falta de razão.

A casa estava em silêncio e eu suspeitava que meu pai ainda não havia chegado. Pretendia ligar para ele quando senti um forte impulso para ir até a cozinha, e foi lá que o encontrei...

Não sei por quanto tempo fiquei estática. Meu pai estava recostado na mesa, dormia sentado, envolto por papéis e uma garrafa verde praticamente vazia ao lado direito. Era muito estranho! Ele não costumava beber, muito menos em casa e sozinho. Aproximei-me, tremulante, lhe toquei o ombro e chamei:

– Pai? O que...

A pergunta que estava para ser formada foi interrompida quando meus olhos observaram algumas palavras dos papéis que estavam abaixo e em volta dele. Pude visualizar de modo mais claro do que nunca o conteúdo e compreendi seu aparente mal-estar. Captando frases que pareciam se destacar de todo o resto, percebi que se tratavam dos papéis do divórcio dos meus pais e, não apenas isso, minha mãe mandara uma carta que estava endereçada a mim. Por que minha felicidade sempre é interrompida tão rapidamente e tão violentamente?

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O que a desnaturada mãe da Natalie quer agora? Não percam no próximo capítulo!!!

Até breve!

Música do capítulo: "Sweet Dreams" – Eurythmics (Cover By Per Frederik"Pellek" "Ãsly") 



AMEDRONTADO - LIVRO 2 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioWhere stories live. Discover now