Take care

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Alice
Observei o jardim bem decorado de Matheus. As plantas formavam uma cerca natural que protegia canteiros de rosas amarelas. Amanda esperava na porta calmamente, os olhos castanhos passeando pelo jardim impressionante. Senti o aroma das flores e a briza em meu rosto pela janela aberta do carro. 

A grande porta de madeira envelhecida abriu e revelou a figura do garoto. Perdi um pouco o fôlego e meu queixo caiu por um momento. Nunca tinha visto Matheus tão gato. Mesmo sendo muito fácil para um garoto se arrumar, na escola ele sempre teve um aspecto desleixado. Só que agora, mesmo de longe, nem parecia Matheus. A jaqueta de couro modelava seu corpo bem definido, que antes era escondido por um moletom largo; seu cabelo castanho caia, em parte, na testa e chegava aos olhos desprotegidos sem o óculos. Uma visão impressionante.

Eles se aproximaram do carro e forcei-me a sair do transe.

– Oi Alice. - disse ele, entrando no banco de trás.

– Oi. - respondi, tentando não encara-lo. Se eu olhasse uma vez, provavelmente eu não parasse mais. 

Durante o trajeto, os dois conversaram o tempo todo e eu pouco me envolvi. Preferi observar a paisagem. A festa seria no bairro mais grafitado da cidade então, quando nos aproximamos do local, me admirei com a arte nas paredes. Mesmo no escuro era possível distinguir as cores vivas. Alguns desenhos foram até feitos com tinta fluorescente. 

Chegamos no local lotado de adolescentes.

Matheus segurou a mão de Amanda para entrar na festa e eu comemorei internamente. Eles eram muito fofos, meu santo. 

O lugar cheirava a maconha e gorfo, muitas pessoas dançavam como se estivessem tendo um ataque epilético, um bar fora improvisado no fundo e lixo estava espalhado pelo chão. Amanda e Matheus sumiram e me encontrei sozinha no meio de desconhecidos.

"Grande ideia Alice. Parabéns!", pensei.

Decidi pegar uma bebida. Melhor do que ficar com cara de assustada. Entrei no meio das pessoas com relutância e fui jogada de um lado para o outro. A sola de minhas botas colavam no chão e me arrependi, profundamente, de novo por estar ali.

Pedi um copo de água aos gritos e o barman me respondeu, do mesmo modo, que não tinha. Respirando fundo, solicitei a bebida mais fraca. Ele me deu uma cerveja e eu torci o nariz para a garrafa. Eu detestava cerveja. A bebida amarela me deixava pesada e enjoada, mas aceitei mesmo assim. O contato entre minha pele quente e o vidro gelado fez as pontas dos meus dedos doerem.

– Alice, não sabia que você vinha. - uma conhecida e meio alterada voz soou atrás de mim. 

Gabriel.

Ele parou ao meu lado e apoiou no balcão, jogando todo o peso sobre a madeira pesada.

– Nem eu sabia que vinha.- comuniquei sem muito entusiasmo. De repente, meu sangue gelou mais do que a garrafa de vidro. 

– Você está muito bonita hoje. Quer dizer, não só hoje, porque você é muito bonita todo dia, mas hoje você está mais. - ele parou pra pensar no que disse. Sua fala enrolada e a honestidade repentina indicavam que ele estava bêbado - Isso foi um elogio, eu acho.

Reparei no garoto. Gabriel estava visivelmente alterado. Seu cabelo caía em seus olhos, sua camiseta estava ensopada, ele fedia à álcool e tinha um sorriso bobo e leve no rosto.

– Eu sou bonita, é? - perguntei, levantando as sobrancelhas.

– Óbvio. Olha só pra você. Além de ser muito gostosa, é muito inteligente. O que te deixa mais gostosa na verdade. - ri com vontade da sinceridade de Gabriel - Só fiquei meio assim com seu cabelo no começo. Era meio estranho pra mim. Mas agora eu não imagino o seu cabelo de outra cor.

PromisesWhere stories live. Discover now