Deal

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Amanda
   O espelho do banheiro refletia minha imagem, e eu adorava o que via. Alguns chamavam isso de narcisismo; Eu chamava de autoconfiança! E para carregar um cabelo tão volumoso e chamativo era preciso de uma dose extra disso. 

A porta do banheiro abriu, revelando a figura de Sol, entretida com o celular. Quando a garota me viu, tratou logo de dar meia volta. Agarrei sua mochila num impulso, forçando-a a ficar no banheiro. 

– O que é isso Sol? Vai começar a me evitar agora? - perguntei, levantando uma sobrancelha em desconfiança.

– Eu evitando você? Óbvio que não! - a voz saiu aguda, num tom errado, e ela limpou a garganta para tentar disfarçar o indisfarçável -  Só que sei o que você vai falar e, sei lá, eu não preciso de mais isso agora... 

– O que está acontecendo? - a interrompi antes que ela falasse qualquer desculpa esfarrapada como sempre. 

– Nada importante. 

Os olhos castanhos de minha amiga perderam o brilho diário e eu sabia que tinha realmente alguma coisa errada. Ela precisava da minha ajuda, por mais fútil que fosse o que a incomodava.  Suspirando, tentei perguntar de novo:

– Se não é nada importante por que você não me fala?

– Você vai me julgar e eu sei que está do lado da Alice...

– Sol, olha para mim. - falei, segurando os ombros da garota para força-la a olhar para meus olhos – Eu nunca vou te julgar, mesmo que não concorde com o que você faz. Por acaso, você acha mesmo que eu, logo eu, julgaria as merdas que você faz Sol? Ou as coisas que passam nessa sua cabecinha oca? Eu te amo amiga, nunca faria isso. E quanto a Alice, pensa um pouco  no lado dela. Ela detesta o garoto e quando precisava do seu apoio, você defendeu ele. Entende? Ela é muito explosiva, mas não está brava com você. - ela me olhava fixamente, com seus grandes olhos castanhos mais arregalados que o normal – Quer se abrir comigo Sol? Você sabe que pode. 

– É que... eu mandei uma mensagem para o Gabriel ontem à noite. Ele visualizou e não respondeu. -falou ela, com um suspiro. – E hoje, quando fui falar com ele, ele meio que me deu uma resposta grosseria e foi embora com o amigo dele, o tal de Matheus. Mas está tudo bem, porque eu li em um site que eles fazem isso quando estão interessados, sabe? Para a garota correr atrás deles e mostrar que não são indiferentes. É suuuuper normal. - Sol balançou as mãos como se tentasse demonstrar normalidade, mas, se eu a conheço bem, sei que sua ansiedade a está corroendo por dentro.  

– É normal nessa sua cabecinha oca né Sol. Eu recomendaria você assistir "Ele não está tão afim de você" porque amiga, se ele quisesse alguma coisa, ele não se importaria em correr atrás de você. Além de que ele te responderia independente do que estivesse fazendo. Isso que você está me dizendo não é normal nem aqui nem na China. Deixa de agir que nem uma trouxa Sol. Você é uma menina linda, inteligente e que pode achar alguém bem melhor que esse daí. - eu disse que a ajudaria, mas não falei que ia ser simpática com a verdade. 

– Mas eu quero ele Amanda, e eu sempre aprendi que, se eu quero alguma coisa eu tenho que ir atrás. - ela prensou os lábios rosados até virarem uma linha fina. A garota estava irredutível, e eu sabia que ela iria se machucar. 

– Então tá Sol. Faz o que você quiser. Aliás, vamos fazer um trato. Que tal? - propus tendo uma ideia repentina.  

– Que tipo de trato? - seu olhar se iluminou com a possibilidade de conseguir minha ajuda pra sei la o que ela estivesse tramando. 

"Não dessa vez amiga, não dessa vez.", pensei. 

– Você vai chamá-lo para sair. Se ele aceitar, eu te deixo em paz e você faz o que bem entender com esse sentimento maluco que você tem. E se ele te der uma desculpa, ou falar que quer ser só seu amigo, você deixa essa história no passado. Considera só como uma "ficada" e fim. Pode ser? 

Ela respirou fundo e respondeu, por fim: 

– Pode. 

Saímos do banheiro, já atrasadas para matemática.

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PromisesWhere stories live. Discover now