Chemistry

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Alice
Entrei no laboratório de química tentando evitar Sol, o que acabou sendo inevitável porque ela estava sentada bem na frente olhando fixamente para a porta. Seu queixo estava apoiado no punho fechado e ela sorria de orelha a orelha. Isso lhe dava um ar assustador.  

Ela abriu mais o sorriso e me chamou: 

  – Vem parceira, aqui. - ela bateu na banqueta branca vazia ao seu lado. 

Olhei demoradamente para a mesa sem ninguém do lado dela antes de decidir não magoa-lá. Suspirando, percebi que terei que estudar um pouquinho mais a partir de agora. 

  – Oi Sol. - falei, sorrindo fracamente.

  – Finalmente essa aula vai ser legal. Você não tem noção do quanto eu rezava pra uma amiga entrar na minha sala. 

A garota sorria tanto que os cantos de seus olhos castanho-amendoados se enrugavam e era possível ver todos seus dentes perfeitamente brancos.

Senhor Oliveiras entrou na sala, falou "bom dia" e começou a aula. 

O grande problema era que Sol não parava de tagarelar enquanto o professor explicava o capítulo da aula. Eu estava vendo a hora dele nos por para fora. E com um bom argumento. Mas eu não respondia o que a Sol falava, na verdade, eu nem olhava para ela. Fingia que ela não estava ali e anotava as poucas palavras que eu conseguia entender da explicação do senhor Oliveiras, todas misturadas aos pensamentos animados da menina. 

"Aí meu santo Sol, para de falar. Fica quieta. Eu não quero sair da sala. Eu preciso ir bem em todas as matérias para ganhar uma bolsa de estudos na universidade". Eram os pensamentos que rodavam minha cabeça toda vez que Sol abria a boca. 

A gota d'Água, acho eu, para o senhor Oliveiras, que estava ficando perceptivelmente irritado e já tinha avisado para que Sol parasse de falar, foi quando ela pegou seu Ipad e começou a me mostrar um site qualquer, que eu nem tive tempo de olhar antes que ele nos repreendesse severamente:

  – Senhorita Martinez,  vai parar de falar futilidades na minha aula ou está difícil? -Sol engoliu em seco. – Há alguma coisa mais interessante no momento, para a senhorita, do que a matéria de química? Vamos senhorita Davis, sente-se na bancada ao lado. 

Olhei para Sol enquanto pegava minhas coisas e me mudei para o balcão vazio, ao lado. 

No mesmo momento em que eu arrumava minhas coisas em meu novo lugar, a diretora abriu a porta da sala e deu passagem para Gabriel entrar. 

Que ótimo, era o que faltava para meu dia ficar perfeito. 

  – Temos dois lugares vagos senhor Azevedo. - declarou o professor, apontando para as cadeiras entre Sol e eu. – É de sua escolha. 

O garoto olhava para nós duas sem jeito. Sol sorria radiante, como se tivesse certeza que ele a escolheria, e eu escondia meu rosto, na tentativa de ficar invisível. Não queria que ele fosse meu parceiro pelo resto do semestre. Preferia ficar sozinha mesmo. 

  – O que é isso Gabriel? - senhor Oliveiras tirou o rosto da lousa por alguns segundos para olhar o garoto indeciso. Ele franziu a testa, enrugando seu rosto cansado, e retornou a visão para o quadro verde - Eu sei que são duas meninas bonitas, e que você tem medo de comprometimento, mas isso é só uma aula, não um casamento. - o professor debochou de Gabriel e eclodiram risinhos pela classe. 

O menino observa Sol de um jeito engraçado. Como se pensasse num jeito de escapar de minha amiga sem ter que sentar ao meu lado. Gabriel não se moveu, não falou nada, só passava o olhar de Sol para mim, e vice versa.

Abri a boca para pedir que ele se sentasse com a morena, mas senhor Oliveiras foi mais rápido e se manifestou primeiro, num tom nem um pouco agradável:

  – Se não escolher agora o senhor vai para fora. 

Gabriel rapidamente sentou ao meu lado e jogou suas coisas sobre a bancada. Me encolhendo um pouco, olhei para Sol com os olhos arregalados. Uma sombra de decepção passou por seu rosto, evidenciada pela queda de suas bochechas protuberantes, mas logo se foi, dando lugar ao usual sorriso alegremente forçado. Ela acenou com a cabeça, como se dissesse que estava tudo bem e que não ligava.

  – Eu não tenho medo de comprometimento okay? - o garoto bufou, se virando para mim e olhando no fundo dos meus olhos. 

Seu olhar azulado me assustou com a profundidade que carregava, o que me fez desviar a visão de volta para meu caderno.

  – E eu não perguntei. - exprimi, voltando a anotar o que o professor passava na lousa. 

Passamos o resto da aula sem trocar uma palavra. Pelo menos o meu novo parceiro não falava muito. 

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PromisesWhere stories live. Discover now