Something strange

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Gabriel
Coloquei a bandeja com alguns pedaços no forno e virei-me para a bancada onde Alice estava sentada. Ela olhava para a porta de vidro que nos separava da festa com uma atenção impressionante.  

– Agora é só esperar - afirmei. 

Recebi uma tentativa falha de sorriso em troca de minha afirmação.

Algumas mechas de seu cabelo rosa caiam sobre seu rosto. Ela não se importava. Na verdade, não tirava o olhar da porta de vidro. 

– O que tem ali que te interessa tanto? - perguntei intrigado. 

– Nada. Só estou observando. - ela olhou nos meus olhos pela primeira vez depois que a beijei. 

– Você observa muito?

– Depende. Só se for alguma coisa que mereça ser observada. 

– Eu mereço isso? 

– Não sei. O que você acha?

– Eu adoraria me observar. - ela revirou os olhos – As vezes acho que as pessoas me observam. Por que não observar né? Sabe, sem querer me gabar mas, olha pra mim cara...

– Aí Gabriel, desculpa viu. Desse jeito não dá. Eu juro que estou tentando me interessar por nessa conversa, mas, deixa de ser arrogante, vai. Por favor. Eu não sou uma das suas amigas que vai concordar com o quanto você é bonito, ou musculoso, ou inteligente. Eu sou honesta. 

Uma risada escapa de minha boca devido a honestidade da garota. 

– Eu sei o quão sincera você é. E que não é nenhuma delas. 

– Que bom. Então não vamos falar do quão demais você é, por favor. - ela torceu o nariz delicado, me olhando de cima a baixo. 

– Sobre o que você quer falar? - perguntei, apoiando os braços no balcão e me aproximando da garota. 

Alice olhou para a porta de novo e seu rosto escureceu. 

– Sua irmã sempre da festas assim? 

A pergunta me pegou de surpresa e não sei bem onde ela quer chegar com essa pergunta. Respirando fundo, respondi-a:

– Na maioria das vezes que meus pais viajam. O que é praticamente, sempre. 

– Você não fica... sei lá ... preocupado com ela?

– Por que eu ficaria? 

– Sei lá. Ela tem quinze anos não é? - assenti, esperando sua próxima fala – Acho que eu não gostaria que a minha irmãzinha exagerasse, sabe? 

– Eu tenho medo dela fazer algo que se arrependa. Mas ela não me ouve. Nunca ouviu.  

– Você é presente na vida dela?

Parei pra pensar em minha relação com Ivana. Alice realmente me surpreendeu com essas perguntas. Ninguém jamais me perguntou sobre minha irmã. Todas as minhas conversas com garotas era sobre... eu mesmo. Mas ela... Alice não estava interessada em saber mais sobre minhas futilidades, e sim sobre o que estava acontecendo com Ivana. E isso me pegou de jeito.  

– Acho que eu poderia ser mais. - minha resposta não foi completa, mas foi o suficiente para que ela entendesse as entrelinhas. 

Ela voltou a olhar para a porta fixamente.

– Você tem irmãos? - perguntei, tentando quebrar o clima que tinha se instaurado no ambiente. 

– Uma irmã de cinco anos. 

– Qual o nome dela?

– Gabriela. 

– Que nome bonito, em? - a garota riu pela primeira vez e isso fez alguma coisa no meu peito se retorcer – Você é presente na vida dela? 

– Eu cuido dela. Mas, se não fosse a escola, ela teria mais do meu tempo.

– Deve ser bem legal cuidar dela. 

O forno apitou antes que ela pudesse continuar o diálogo. 

Levantei-me e fui pegar a bandeja. Abri o forno e percebi que algo estava errado. Encostei na pizza. 

Fria. 

– O que aconteceu? - questionou Alice, surgindo ao meu lado. 

– Acho que o forno quebrou. - olhei para seus olhos verdes e senti meu sangue correr mais rápido com o brilho daquelas íris vibrantes – Tem problema comer fria? 

Ela riu e o som preencheu meus ouvidos. Percebi que era um prazer para mim fazê-la rir. 

– Onde é a sua dispensa? 

Apontei para porta branca de madeira no canto do local e ela pegou algumas coisas, posicionou na pia e solicitou:

– Você não vai me ajudar?

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