Anger

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  Alice 
– Nunca fui de me gabar mas aquele garoto estava pedindo - eu disse entrando na cafeteria. 

Amanda, que antes olhava para seus livros escolares distraída, riu alto, quase derrubando tudo de seus braços. É o que acontece quando se tem mania de carregar tudo na mão. Mochila existe pra isso amiga.

A garota tinha uma beleza muito peculiar. Daquelas não apreciadas pela sociedade, que só prestava atenção nas loiras de olhos azuis. Seus cachos, armados num black-power poderoso, balançavam enquanto a garota se movia, seus olhos verdes, fruto de pais com diferentes etnias, viviam brilhando e a pele cor de jumbo reluzia. 

– Você tem noção do que fez? - ela falava em meio às gargalhadas. 

– Só peguei uma vaga? 

– Você não pegou  uma vaga. Foi a vaga do Gabriel, do último ano. - Amanda sorria e o gesto deixava seus dentes brancos e retos em evidência. 

Ela com certeza estava impressionada com a minha atitude. Não que eu ligasse muito, já que era só uma vaga, mas parece que tem toda uma porcaria de mística ao redor desse cara, o tal de Gabriel, que faz com que ele possa tudo ou mande em tudo. Para mim ele não passa de um egocêntrico que usa da beleza e de palavras fúteis e vazias para conseguir o que quer. 

– Não. - falei, fingindo horror e contorcendo o rosto – Meu deus, as líderes de torcida vão me matar a facadas. - afirmei a ironia teatralizando minha morte.

Amanda riu mais alto e descontroladamente. 

– Você não tem jeito, Alice. Ninguém vai te matar a facadas. 

– Vai saber. Parece que esse cara é feito de ouro, todo protegidinho. Vai que elas consideram isso   um crime hediondo e decidem me matar. - aleguei rindo.

– Mas você tem que admitir, ele é muito gato. 

– Ele é muito estupido, isso sim. Acha que tem uma vaga só para ele. Quem pensa isso? Só alguém muito egocêntrico mesmo. 

– Egocêntrico ou não, ele é muito gato. 

Revirei os olhos tentando entender o que se passa na cabeça da Amanda. 

Olhei para o lado com um impulso e vi uma garota desastrada e esbaforida vindo em nossa direção, trombando nas pessoas, derrubando papéis e arrancando palavrões daqueles que quase derrubavam sua comida no chão. 

Ela se aproximava de nós com uma agilidade anormal. 

– Calma Sol. Respira! - proferi segurando os ombros da garota pra que ela não caísse para frente. 

– Eu estou calma Alice. - suas palavras se misturavam à seus arquejos. 

– Imagina se não estivesse. - falou Amanda, sorrindo com sarcasmo. 

Sol inspira grandes goles de ar numa tentativa de estabilizar a respiração mais rápido. Seu cabelo, antes completamente bagunçado pela corrida, agora se ajustava naturalmente. 

– O que aconteceu sol? - perguntei. 

– Adivinha quem ficou com o Gabriel... - manifestou ela, apontando para si mesma.

– O Gabriel do último ano? - perguntou Amanda, mesmo já sabendo a resposta. 

– Você acha que se fosse um Gabriel comum eu estaria tão feliz? Óbvio que é o do último ano. 

Amanda olhou pra mim, rindo.

– O que foi? - perguntou Sol, perdendo a animação de antes, em partes porque já respirava quase normalmente. 

– Nós nos desentendemos quando cheguei. 

– Como assim? - seus olhos castanhos se escureceram.

– Resumindo: a Alice estacionou o carro dela na vaga que ele sempre pega e ele achou ruim. - falou Amanda curta e grossa. 

– Você tomou a vaga dele? Enlouqueceu Alice? - a surpresa tomou conta de seu rosto como se aquilo fosse um crime sujeito a pena de morte. 

– O que? Você vai defender ele né? O Gabriel é um babaca, egocêntrico, um sem noção que acha que tem uma vaga reservada no estacionamento da escola. 

Sol fez seu escrutínio sobre mim, para ver se eu estava brincando.  

Respirei fundo e dei as costas para as garotas. Me dirigi até  a porta da cafeteria e sai em direção a minha aula de história.
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PromisesWhere stories live. Discover now