12 - EU PRECISO DA NATALIE - Natiel

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– Com você, porém, a história parece ser bem diferente... – Falou elevando as sobrancelhas e entornando outro copo do "mata cavalo". Eu o provoquei:

– E você se incomoda com isso, irmão?

Jadir me fitou e soltou uma baforada risonha.

– Eu? Preocupado por você estar pegando a minha ex? – Falou cuspindo nas ênfases.

Liguei meu alerta! Os dentes seria pouco... Talvez eu sairia dali sem vida!

Jadir pareceu esperar por alguma resposta ou reação minha, como não obteve, prosseguiu:

– Você é mesmo um cínico, não é?

Eu dei de ombros, esperando pelo soco que haveria de chegar. Porém, eu o vi se levantando e entornando até o último gole da bebida; deixou algumas notas de dinheiro no balcão e se virou para ir embora. Eu o interceptei, incrédulo:

– É só isso? Não vai falar ou fazer mais nada? Estávamos falando da Natalie! A Naná!

Jadir se virou com a expressão fechada e vermelha, quase como os cabelos, parecia enfurecido. Foi entredentes que me disse:

– Faça bom proveito.

Fiquei aturdido com aquela, estático, sem reação.

Por mais que eu pensasse eu não conseguia entender como ele pôde me deixar sair com as minhas próprias pernas daquele lugar; eu, no lugar dele, nem teria pensado! E que resposta idiota foi aquela que ele me deu? Isso não ficaria assim... Eu faria com que aquele imbecil deixasse meu irmão em paz, e ele iria, de qualquer jeito!

***

Eu ainda tinha algumas horas antes da apresentação daquela noite, então fui para casa tentar sondar. Minhas tentativas de falar qualquer coisa sempre acabavam sendo frustradas, afinal, não era fácil manter um diálogo com o Gado. E se estava difícil manter um diálogo quando ele estava bem-humorado, com mau humor é que o desafio estava lançado.

Logo cheguei, fui até a cozinha preparar um lanche e me direcionei para a sala. Adriel estava lá, atento a televisão, com uma expressão vazia. Parecia que ele não fazia ideia da minha presença... Era péssimo quando ele estava assim!

– Ah cara... Novela coreana outra vez? – Perguntei em tom expressivo de aborrecimento fingido.

– Série – me corrigiu sério.

Como era de se esperar, nada de amenidades, saudações e afins. Palavras curtas, atitudes mecânicas, bipolaridade provável... Mesmo assim eu sabia que ele não esperava minha presença naquele dia e estava se preparando para o que eu ia dizer. Como eu também não sabia como falar qualquer coisa, naquele momento, para ele, voltei meu olhar para a televisão e tentei me concentrar nela e no pão de fôrma com geleia de uva.

Após uma cena terrível de capotagem de carro malfeita, o ouvi perguntar:

– O que você quer?

Engasguei com o pão e tossi algumas vezes, deixando algumas gotas de geleia caírem no tapete. Eu não estava esperando uma pergunta tão direta. Mas, essa atitude prova que Adriel sabia que eu não estava ali por acaso. Ainda assim, mesmo tomando aquela iniciativa, eu começava a temer sua reação quando descobrisse o assunto pelo qual eu tanto insisti em tentar lhe falar, nunca consegui, mas era inevitável fazê-lo, principalmente agora.

Ele esperou pela minha resposta, não desviando os olhos da televisão. Mas, eu sabia que ele desviaria assim que eu começasse a falar...

– Erh... – cocei a touca na tentativa de me clarear as ideias e me fazer saber escolher as palavras. – Você e... a Estela já... você sabe... ficaram juntos?

Ele me fitou no mesmo instante parecendo surpreso. Eu comecei a me sentir mais incomodado com aquilo...

– Você entende, né irmão? – Insisti fitando o chão, sabendo que sua atenção estava sobre mim. Seus olhos me pesavam tanto, que eu sentia que logo eu desabaria. Até que eu estava sendo bem corajoso... – Aquela intimidade que... – Acabei cortando minha própria frase.

Apesar dos anos, da convivência, da familiaridade, do sangue e de tudo o mais... eu nunca havia conversado com Adriel sobre sexo. Com Daniel algumas vezes, mas com meu irmão mais velho parecia ser impossível. Eu não me lembro de nosso pai falando qualquer coisa referente, nossa mãe só quando está muito bêbada, então, não dá para se considerar... Afinal, o que eu estava fazendo? Era melhor dar a volta, ir para o Czar onde as coisas são bem mais simples e as pessoas são bem mais dispostas; pessoas essas que jamais precisariam que eu bancasse o adulto e falasse sobre certos temas.

Para meu infortúnio, porém, Adriel me impediu de seguir meus instintos:

– Por que quer saber?

Eu o fitei com os orbes inflados de surpresa. Ele não havia alterado o tom de voz nem a expressão! Era como se eu tivesse perguntado sobre o valor do dólar, ou se o carteiro havia passado... Acho que essa conversa não estava sendo boa para meu psicológico. Abaixei os olhos, um pouco vexado, e sussurrei a pergunta:

– Há possibilidade d'ela estar grávida?

Ele não me respondeu no mesmo instante e eu voltei a fita-lo, enquanto ele parecia nem mais se lembrar da série que estava assistindo. Era certo que ele ouvira cada palavra minha. Adriel mantinha a atenção em mim e, arqueando uma sobrancelha, perguntou com a voz falha:

– Como é?

Soltei o ar de meus pulmões, que até agora estavam presos, e olhei para o teto. Seria uma boa fazer uma reforma ali... uma reforma no teto, na casa, na vida... na minha vida... na nossa vida!

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Confiram o restante do diálogo ainda nesta semana!!! 

Até breve!!! ;)

Música do capítulo: " While your lips are still red" - Nightwish (Cover By Per Frederik "Pellek" "Ãsly")    

AMEDRONTADO - LIVRO 2 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioWhere stories live. Discover now