Capítulo 49

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Não respondi, apenas guardei o celular na bolsa, coloquei a alça no ombro e sai do quarto. Ele saiu atrás. A casa tava num silêncio absurdo. Descemos as escadas e os pivetes tavam tudo deitado no tapete; as cortinas das janelas estavam fechadas, então a sala tava escura. Olhei os pivetes e estavam dormindo. Bruno sempre foi melhor que eu no quesito colocar os filhos pra dormir. Ele foi na cozinha, falou algo que não entendi pra Ana — a empregada — e pra Lúcia — a babá — e saiu. Saímos de casa e entramos na Santa Fé. No caminho de ida pro meu condomínio, eu tomei coragem pra falar.

— Fernanda: Desculpa.

— Bruno: Pelo que dessa vez?

— Fernanda: Por ter falado aquelas coisas. Eu peguei pesado. Você ligava pra mim no período que estávamos separados, na gravidez da Karol. Você foi a primeira visita que chegou lá no hospital, só depois das meninas, antes mesmo da Matilde, que tava mais perto de mim do que você, que tava no Alemão. Eu vi sua cara toda vermelha de tanto prender o choro... eu vi os seus olhos cheios de lágrima... eu lembro de você me mandando tomar aquela sopa nojenta... você é o melhor pai do mundo, Bruno. Você criaria seus filhos sozinhos numa boa.

Eu já estava chorando. Falei mais do que precisava. Sou assim mesmo: ou oito, ou oito mil. Ou tudo, ou menos do que nada. Esse é o meu defeito. Ou falo demais, ou nem penso em falar. O Bruno arregalou os olhos. Ele ainda não havia olhado diretamente pra mim desde que entramos no carro, e olha que já estávamos perto do meu condomínio.

— Bruno: Tu é muito impulsiva, Fernanda. Na hora da raiva, tu me mata, depois tu quer me ressuscitar.

— Fernanda: Eu não conseguiria te matar nem na minha mente. Eu te amo, Bruno.

— Bruno: Foi modo de falar.

— Fernanda: Já eu falei literalmente... Você sabe o que é literalmente, né?

— Bruno: Sei. Tu me ensinou. Tu me ensinou como é que é ser um homem, me ensinou como é ser um pai, me ensinou como é ter sentimento, me ensinou uma pá de coisa que eu num vou falar porque é coisa de gay e eu não sou gay. Só vou falar que amo tu também, e tu tem que parar de pedir desculpa e fazer a merda de novo.

No alto do morro...3º TemporadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora