Capítulo 26

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Asa

Elan me mandou um bilhete, num dia bonito e ensolarado--o que já estava virando raridade com a proximidade crescente do inverno--dizendo que Caspiel estaria fora durante a manhã e que eu poderia passear livremente pelo castelo.

Rapidamente me troquei e quase corri pelos corredores. Meus livros haviam acabado no dia anterior e estava indo para a biblioteca escolher mais.

Demorei pouco mais de uma hora lá, escolhendo cuidadosamente minhas próximas leituras. Tocar violino, violoncelo e lira já haviam me entediado. Havia ficado muito grata quando Tate me trouxe os instrumentos para que eu tocasse em meu quarto, mas as músicas conhecidas acabaram rápido demais e escrever músicas não era exatamente minha coisa.

Então, depois de deixar os novos livros no quarto, desci para o jardim, com um exemplar de capa vermelha debaixo do braço.

A casa parecia particularmente vazia.

Tate e Akila estavam em uma viagem militar há pelo menos cinco dias. Ele não dissera se voltaria logo ou não.

Me sentei sob a sombra de uma árvore, cujo nome eu desconhecia, e abri o livro no colo, sobre o vestido azul claro que eu usava.

Perdi totalmente a noção do tempo, intrigada com a história do garoto pobre que esconde sua verdadeira identidade e se infiltra no castelo, conseguindo conquistar o coração da princesa.

Já estava quase no primeiro quarto do livro quando ouvi passos quebrando a grama do jardim.

Levantei os olhos e tive que me segurar para não ficar de queixo caído.

O homem na minha frente era o mais bonito que eu jamais vira. Ele tinha cabelos curtos de um tom chocolate intenso e olhos cinza, como uma nuvem de tempestade. Seus cabelos eram curtos na lateral e bem arrumados em cima. Ele usava uma roupa formal, embora parecesse confortável. Não devia ser muito mais velho que Tate.

" Posso ajudar? " Consegui manter minha voz firme.

Ele sorriu para mim, com seus dentes quadrados, retos e brancos.

" Nunca a vi por aqui antes. Não parece ter chegado hoje." Ele levantou uma sobrancelha.

Eu rapidamente inventei uma desculpa. " Eu estava com uma crise de enxaqueca, senhor, então fiquei alguns dias em meu quarto. " Eu sorri polidamente, adquirindo a personalidade mansa que aprendi a ter na corte de Orlon. " Nunca vi o senhor por aqui também. "

Ele sorriu ainda mais e se aproximou. " Desculpe minhas maneiras, senhorita. Sou lorde Caspiel Corawell, senhor das terras de Zorin."

Meu estômago deu um salto ao ouvir aquele nome e podia ouvir minha pulsação em meus ouvidos.

Não sabia se corria sem olhar para trás ou se batia nele antes de correr.

" Posso saber seu nome?" Ele perguntou, piscando demais os longos cílios.

Me lembrei do que Tate dissera e imaginei que poderia tentar extrair alguma informação dele.

Fechei o livro e apoiei minha mão na capa. " Sou Asa Lorelly, meu senhor, prima em segundo grau da princesa Khalia. "

Ele arqueou ao máximo as sobrancelhas, claramente muito surpreso. " Que honra recebê-la aqui, senhorita Asa. E me chame de Caspiel, por favor. "

Ele estendeu a mão para mim e eu a peguei. Ele me ergueu com suavidade e delicadeza impressionantes.

Apoiou uma mão na minha cintura mas eu sai de seu alcance.

" Lorde Corawell, sinto que preciso ir." Fiz com que o sangue subisse para minhas bochechas e eu corasse.

Ele sorriu. " Mas estamos apenas começando nossa conversa. "

Ele tentou se aproximar novamente mas nessa hora ouvi passos brutos atrás de mim.

Me virei bruscamente e meu corpo tremeu de alívio ao ver Tate.

" Caspiel, fique longe dela." Ele disse, num tom quase agressivo.

O lorde, para minha surpresa, deu um passo para longe de mim.

Tate estava ao meu lado em um segundo, com a mão no meu ombro. " Lady Lorelly gostaria que ficasse longe dela, mas é educada demais para dizer."

Caspiel ergueu as mãos, num gesto de inocência. " Eu só me apresentei à ela, Tate."

"Lady Lorelly é comprometida, Caspiel. Não quer desonrar uma dama comprometida, não é? " Ele ergueu as sobrancelhas.

Vi Caspiel tremer quase imperceptivelmente.

Por viver tanto tempo numa corte, sabia que aquela era uma briga que nenhum homem são compraria. Ninguém mexia com uma mulher comprometida, ainda mais uma nobre.

Caspiel deu de ombros. " Tenho coisas a fazer mesmo. " Ele se afastou de nós e, após alguns passos se virou de volta para mim. " E até logo, senhorita Asa."Ele piscou e se virou de volta, cantarolando uma melodia esquisita até a porta do castelo.




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