Capítulo 2

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Asa

Pheas relinchou sob mim. Ele também adorava o vento enroscando em seu pelo e crina.

Sentia a força de seus músculos sob minhas mãos e só pensava que gostaria que ele fosse mais e mais rápido. Eu odiava cavalgar de sela, por isso mantinha meus dedos em sua crina ou em seu pescoço enquanto ele disparava pelo campo de girassóis.

Depois da floresta, se eu esticasse um pouco o pescoço, podia ver as torres mais altas do castelo.

Meu cabelo longo e dourado se agitava ao redor da minha cabeça. Sabia que Malya ficaria furiosa por ter de desembaraçá-lo mais tarde, mas valia a bronca.

Os guardas na ponte já conheciam meu ritual semanal. Depois de voltar do chalé de meu avô, do outro lado do campo de girassóis, eu passava galopando sem sequer parar na ponte que ligava o castelo à floresta de areia.

Desacelerei quando cruzei os enormes portões. Pheas estava cansado mas energia emanava de seu pelo negro.

Ele era meu cavalo e não deixava que ninguém mais encostasse nele. Eu passara duas semanas tentando domesticá-lo até perceber que ele não poderia ser. Então passei mais uma semana até conseguir fazer ele chegar perto de mim. Ganhei a confiança dele e ele a minha. Era o cavalo mais arisco e cabeça-dura que eu jamais vira.

Levei-o até o celeiro, numa das maiores baias de lá. Era o maior cavalo do estábulo e com certeza o mais rápido. Escovei-o e lhe dei uma maçã e alguns cubos de açúcar.

Peguei o atalho para voltar para o castelo. Precisava de um banho urgentemente.

Mas a sorte não estava ao meu favor. Andreas me esperava no corredor, com os braços cruzados e os olhos azuis fixos em mim. Ele havia cortado o cabelo. Seu cabelo castanho estava mais curto que o habitual, quase rente à cabeça.

" Alteza. " Zombei-o com uma reverência exagerada.

" Não me avisou que visitaria meu pai hoje." Ele disse. "Procurei por você o dia todo até que alguém me disesse que Pheas não estava no estábulo. "

"Hoje é terça. Devia saber. Faço isso toda terça há pelo menos dez anos. "

Ele revirou os olhos. " Você ainda não fez dezoito, Asa. "

"Faltam dois dias, Andreas, me dê um desconto. "

Ele sorriu. " Não consigo entender porque você nunca me chamou de pai."

Eu toquei seu ombro. " Porque você não é meu pai. É uma pessoa muito melhor do que o homem que me gerou. "

Seu rosto ficou sombrio. " Eu nunca venderia você, Asa, nem por todas as riquezas do mundo. "
Eu o abracei. " Eu sei, velho, eu sei."

Enlacei meu braço em sua cintura e o puxei. " Então, o que queria me falar?"

Ele mordeu o lábio. " Sabe...melhor esquecermos isso por hoje. "

Revirei os olhos. " Apenas fale, velho."

"Kaiden me pediu para lhe perguntar se gostaria de se juntar a ele no fim da semana para um passeio de barco. "

Eu engoli um gemido. " Kaiden? Acho que não. "

Andreas parou e me impediu de continuar. " Asa, sabe que Orlon quer que você case o quanto antes. Você pode não ser uma princesa, mas tem uma posição de destaque na corte. Kaiden é filho do duque mais importante de Orlon e sei que Kai está louco pelo seu sim. E não fale como se ele fosse ruim, na verdade é o melhor entre as opções, de longe. "

Eu suspirei. Sabia que ele estava certo em cada maldita palavra. " Diga a ele que lhe mandarei um bilhete com os melhores dias. "

Andreas, eu pude ver, estava prestes a dar um gritinho de adolescente e bater palmas, mas uma figura virou no corredor.

Isobel, a rainha mais vadia de todos os tempos, estava odiosamente deslumbrante em seu vestido vinho.

Eu e Andreas meneamos a cabeça em sincronia e ela sorriu friamente. Seu cabelo escuro como breu estava preso num coque trançado e seus olhos azuis brilhavam como o de um gato.

" Veja quem voltou. Asa, querida, eu darei um chá para celebrar a chegada de minha irmã e gostaria que estivesse lá. "
Eu assenti formalmente. " Seria uma honra, minha senhora. "

Seu sorriso aumentou e me sentia como se ela fosse dar o golpe fatal a qualquer momento. Quanto mais ela se aproximava, mais rápido meu coração batia.

" Ótimo. Mandarei uma criada para lhe arrumar. Espero que ela consigo dar um jeito nesse cheiro de cavalo." Ela riu de si mesma.

Passou direto por nós e eu suspirei. " Acha que eu fiz uma burrice? "

Ele sorriu. " Com certeza. "

"Então somos dois. " Eu disse, retribuindo seu sorriso.

O Reino de AçoWhere stories live. Discover now