Asa
Estava tentando escrever alguma música no violino quando a porta se abriu. Eu sequer me lembrava de ter deixado-a destrancada.
Tate entrou como um furacão e eu deixei o violino na cama.
Cruzei o quarto em quatro passos e peguei seu rosto transtornado nas mãos.
Procurei por machucados e jurei aos deuses que se ele estivesse ferido...
" O que aconteceu? " Eu o fiz olhar para mim.
Seus olhos claros estavam cheios de medo.
"Caspiel...ele viu, ele sabe sobre você. " Eu estava confusa e ele viu isso no meu rosto. "Ele sabe que você é feérica. "
Meu estômago caiu e eu baixei as mãos. Seus ombros caíram ainda mais. Eu me afastei dois passos e me apoei no dossel da cama.
" O que nós vamos fazer?" Eu perguntei, minha voz quase sumindo.
" Nós? " Ele riu amargamente. " Está tudo nas mãos dele, Asa. Se ele resolver contar, estamos arruinados."
"Então fale com ele!" Eu disse. " Peça a ele para não dizer nada."
Ele sorriu tristemente e passou a mão no cabelo, pousando-a na nuca.
" Ele me odeia. Se ele for ouvir alguém, garanto que não serei eu. Aliás, eu aposto que ele faria isso só para me irritar. "
Então uma ideia maluca me surgiu. " Onde ele está? "
Tate deu de ombros. " Provavelmente no quarto. "
"Onde?" Eu pressionei.
Tate olhou para mim e franziu o cenho. " No andar debaixo. Quarto 173, se não me engano. "
Eu calcei as primeiras sapatilhas que vi e sai do quarto. Antes que eu chegasse ao fim do corredor, Tate agarrou meu braço e fez com que eu olhasse para ele.
" O que pensa que está fazendo?" Ele grunhiu para mim.
" Tate, me deixe fazer isso. Pode ser que não resolva nada mas pode ser que resolva. Não temos nada a perder." Eu disse.
Ele me encarou por tanto tempo que eu estava decidindo se saía correndo ou não.
Por fim ele suspirou, derrotado. Como se soubesse que não tínhamos realmente nada a perder, ele soltou meu braço.
Eu desci as escadas e procurei o quarto 173. Era o quarto do meio num corredor arredondado.
Engoli em seco e bati duas vezes na porta.
Cerca de trinta segundos se passaram e quando eu estava prestes a procurar em outro lugar a porta se abriu.
Ele parecia surpreso de me ver ali.
Coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, para exibir minhas orelhas.
" Posso falar com você? " Eu perguntei, incerta se fora uma boa ideia ou não.
Ele deu um passo para o lado e eu entrei.
O quarto era diferente do meu. Embora tivesse a cama de dossel parecida com a minha, tinha uma lareira de pedra enorme no canto e toda a decoração era cinza e verde-musgo.
" Sente-se." Ele disse, parecendo cauteloso.
Eu me aproximei da cama e me sentei na beirada. Ele se sentou a cerca de um metro de mim na cama.
" Eu vim aqui para lhe pedir para não contar sobre mim para ninguém. " Eu comecei.
Ele inclinou a cabeça, confuso e curioso. " E porque?" Ele disse.
" Porque eu não posso ir embora. Eu não sou mais uma prisioneira mas não posso ir embora. Elan foi bom comigo, e Akila, Khalia e até Tate, mesmo que não fosse no começo. Então eu te peço para não contar a ninguém porque isso pode destruir o império Drakos."
Ele me encarou. " Me convença. Me diga sua história, como chegou aqui, quem é você. Eu quero saber tudo. "
Então eu contei. Contei sobre meus pais, minhas asas, Andreas, minha nova vida, meu novo nome, tudo. Contei sobre Kaiden e Tate, sobre a cela imunda e escura que eu fiquei durante dias semanas e como Elan me tirara de lá.
Não sabia quanto tempo havia se passado e não me importava.
Ele não me interrompera sequer uma vez durante toda a história.
Ele, sob as sombras da pouca luz que passava pelas cortinas, não parecia o impiedoso e cruel lorde do qual haviam me falado. Ele parecia um garoto.
Embora fosse mais velho que eu, ele parecia perdido e sozinho.
" Eu vou atender ao seu pedido, Asa Elladrin. " Ele disse e meu corpo fraquejou de alívio.
" Eu não quero mais que se esconda em seu quarto enquanto eu estiver aqui. Seja livre, pois já foi trancafiada demais. "
Ele sorriu para mim e meu coração se apertou com sua beleza. " Não me veja como um inimigo e peço-lhe, e não ordeno, para me permitir tentar ser seu amigo."
Eu balancei a cabeça. " Obrigada. " Meu alívio transbordava.
Olhei para ele e meu sorriso sumiu. Ele olhava para baixo, com uma expressão arrasada.
" O que foi?" Eu perguntei, me aproximando um pouco.
Ele suspirou. " Todos pensam que eu sou uma pessoa vil...mas na verdade não. Sim, admito que errei ao cortejar Hera mas já faz algum tempo. "
"Sinto muito. " Eu disse, pois era a única coisa que tinha para oferecer a ele.
Ele deu de ombros e me deu um pequeno sorriso. " Gostaria de passear amanhã? Sair um pouco deste castelo. Tenho certeza que alguma de minhas carruagens poderia nos levar para uma pequena cidade comercial perto daqui. "
Eu assenti. " Me diga a hora em que devo encontrá-lo e estarei lá. "
Eu me levantei e ele também. Caspiel abriu a porta para mim.
" Boa noite, Asa. " Ele disse.
" Boa noite, Caspiel. "
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O Reino de Aço
Teen FictionTrilogia Entre Reinos Em um mundo separado em dois continentes, um de feéricos e outro de humanos, há apenas um frágil tratado entre eles. Tate é o comandante mais jovem em toda a história do reino humano. Órfão de mãe por causa de um feérico, el...